Ufal em Sociedade entrevista professor do IM Krerley Oliveira sobre Olimpíadas de Matemática

Nesta edição do programa Ufal e Sociedade, entrevistamos o professor Krerley Oliveira, do Instituto de Matemática (IM), sobre a participação da Ufal nas Olimpíadas de Matemática e como descobrir novos talentos abre portas para os estudantes, com programas específicos e bolsas de estudo. Confira a transcrição do programa que vai ao ar toda segunda, na Radioweb Ufal.
Por Ascom Ufal
07/10/2019 13h49
Professor Krerley falou sobre a participação da Ufal na Obmep

Professor Krerley falou sobre a participação da Ufal na Obmep

Lenilda Luna: Olá ouvintes da Ufal, estamos iniciando mais um programa Ufal e Sociedade e dessa vez estamos com o professor Krerley Oliveira, do Instituto de Matemática, que vai falar sobre uma história já com muitos acontecimentos na Ufal, relacionada às Olimpíadas de Matemática, tanto na participação em competições nacionais e internacionais, quanto na preparação de alunos e professores da rede pública e privada no Ensino Fundamental e Médio. Muita coisa não é professor Krerley? Bem-vindo!

Krerley Oliveira: Obrigado, Lenilda, é um prazer enorme estar falando para a Rádio Ufal e para toda a comunidade acadêmica. É verdade, nós temos uma história com as Olimpíadas de Matemática no Instituto de Matemática da Ufal e temos aí um programa interessante que a gente gostaria de apresentar para toda a comunidade.

Lenilda Luna: Como é que começou esse programa e, exatamente, o que representam essas Olimpíadas? Elas surgiram com o intuito de desenvolver talentos dos alunos, dos universitários, tornar a matemática mais atrativa, para perceber que a matemática faz parte da vida e da sociedade... Explica um pouco o que é essa Olimpíada.

Krerley Oliveira: No mundo, as Olimpíadas de Matemática começaram nos anos 50, na Romênia, e no Brasil elas começaram em 79, que foi o ano em que eu nasci. Então, no estado de Alagoas nós, pelo menos nos anos 90, nós tínhamos um professor que estimulava aí, que desenvolvia as Olimpíadas de Matemática em Alagoas, que era o professor Edmilson Pontes. Inclusive, a minha formação se deve a esse professor, a influência desse professor através das Olimpíadas, assim como vários outros professores do IM e de outras unidades. Nesse momento, o professor Edmilson Pontes desenvolvia a Olimpíada Brasileira de Matemática, mas nós não tínhamos uma Olimpíada própria, estadual, de um programa consolidado, sendo desenvolvido, digamos, com um número de alunos que nós temos hoje. Então nós começamos a desenvolver as Olimpíadas de Matemática para a maioria das escolas do Estado a partir de 2003. Nós criamos a Olimpíada Alagoana de Matemática em 2003, eu e outros professores do Instituto de Matemática, e desde então nós estamos realizando essa Olimpíada. A deste ano será a 17ª edição dessa Olimpíada, sem nenhuma interrupção. É uma Olimpíada que hoje tem uma participação ampla de Alagoas. Além dessa Olimpíada, nós temos várias outras ocorrendo. Nós temos a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e a própria Olimpíada Brasileira de Matemática. Todas com um só objetivo, que é estimular os alunos do ensino básico e universitários quanto à necessidade de aprender matemática e até mesmo quão divertido é estudar matemática.

Lenilda Luna: Então vamos explicar cada uma dessas. A Obmep, que é a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Quem participa? Como é que a Ufal se envolve na preparação de estudantes do Ensino Fundamental e Médio e na preparação dos próprios professores de matemática para estimular esses estudantes, porque são muitos os estudantes envolvidos, não é professor?

Krerley Oliveira: É verdade, a Obmep é uma iniciativa do Governo Federal e do Impa, do Rio de Janeiro, com a colaboração de várias universidades no Brasil, inclusive a Ufal, que organiza em Alagoas. O professor Adelailson Peixoto é o coordenador administrativo da Olimpíada e eu sou o coordenador acadêmico dessa olimpíada. Essa olimpíada, no Brasil, ela tem 18 milhões de participantes na primeira fase.

Lenilda Luna: Muita gente.

Krerley Oliveira: Muita gente, muitos meninos participando. Em Alagoas nós temos 350 mil. Na segunda fase dessa Olimpíada, que ocorreu nesse final de semana, nós tivemos 949.266 alunos participando. Em Alagoas o número de alunos é da ordem de 17.500. E todos esses alunos fizeram uma prova discursiva, com três alternativas, A, B e C. Então 17.500 provas vão ser corrigidas ao longo desse mês, aqui em Alagoas, somente. No Brasil são 950 mil. E nós selecionaremos os melhores para ganharem medalhas e bolsas de estudo ao longo do ano de 2020.

Lenilda Luna: Como é que são essas bolsas de estudo, professor?

Krerley Oliveira: São bolsas do CNPq. São as chamadas Bolsas de Iniciação Científica Jr. São especiais no sentido de que o aluno que ganha uma medalha nessa Olimpíada, além da bolsa, ele tem direito a pleitear uma Bolsa de Iniciação Científica quando ele entrar na universidade, que é o Picme, Programa de Iniciação Científica e Mestrado. Eventualmente esse aluno que ganhou medalha lá no Ensino Médio, no Ensino Fundamental, que ganhou também uma Bolsa de Iniciação Científica na universidade, quando ele entra no Mestrado, a bolsa pode virar uma bolsa de mestrado. E se ele entrar no Doutorado em Matemática, ainda pode virar uma bolsa Doutorado. Então esse programa acompanha o aluno ao longo da vida dele, ele pode pleitear essas bolsas. Ele passa por uma seleção nessas etapas, mas ele pode pleitear. E melhor do que as bolsas, é o treinamento que eles recebem, então os melhores de 2019, em 2020, vão participar de um treinamento ministrado pelos professores das universidades, coordenados pelos professores da universidade, com participação de professores de Ensino Básico, também. Mas é um treinamento que já tem 15 anos, e que tem um conjunto de ferramentas, de livros, plataforma de aprendizagem online e uma qualidade bem interessante para esses alunos. Então este ano de 2019, é um ano de treinamento contínuo, sempre treina os alunos do ano anterior. Em 2019 nós treinamos os alunos de 2018, nós treinamos, em Alagoas, 400 alunos que são, digamos assim, os melhores dessa Olimpíada de 2018. E em Maceió, Arapiraca e Santana do Ipanema. Em três cidades, todos os sábados, das 8h30 da manhã às 12h.

Desse treinamento, a experiência tem mostrado que esses alunos acabam aproveitando esse treinamento e levando isso para toda a vida deles, acabando, resultando em histórias belíssimas dentro da trajetória deles.

Lenilda Luna: E esses alunos que participam agora em 2019, que já vão ser corrigidas as provas, eles recebem essa medalha, essa bolsa, esse treinamento e eles participam de uma outra etapa nacional...

Krerley Oliveira: Essa etapa já é nacional.

Lenilda Luna: Já é nacional, mas elas acontecem em vários estados pela quantidade de pessoas envolvidas, já que não daria para concentrar num lugar...

Krerley Oliveira: A dinâmica é mais ou menos a seguinte: são 950 mil alunos, 949.266, eles fizeram a segunda fase, as provas são corrigidas em cada Estado. Os melhores alunos, mais ou menos as 50 mil melhores provas, vão para uma correção nacional. E dessas 50 mil melhores provas saem os seis mil medalhistas. E esses seis mil medalhistas são os que ganham as bolsas. Realmente a Obmep é uma competição extremamente difícil para os alunos, porque você começa com 18 milhões e premia com medalhas seis mil. Desses seis mil, os mil melhores passam para a Olimpíada Brasileira de Matemática. Então essa competição é ainda mais difícil que a Obmep, porque envolve os mil melhores dos seis mil que acabam ganhando medalha na Obmep. É mais ou menos isso. Então na Olimpíada Brasileira de Matemática, que seria mais uma etapa, a gente costuma premiar os 200 melhores. E aí sim os 200 melhores acabam participando dos processos seletivos para as Olimpíadas Internacionais. Em Alagoas nós tivemos dois alunos premiados o ano passado, entre esses 200 melhores, então foram alunos do 9º ano e do 8º ano, que participam dos nossos treinamentos aos sábados. São treinados de março até outubro.

Lenilda Luna: Então esses dois alunos vão para a Internacional?

Krerley Oliveira: Não necessariamente (risos). Esses dois alunos são qualificados a concorrerem no processo seletivo da Internacional. Digamos que eles estão ali entre os cem melhores e a equipe da Olimpíada Internacional é composta, em geral, por quatro ou seis alunos.

Lenilda Luna: Esses dois são de Maceió?

Krerley Oliveira: São de Maceió. São alunos de escolas de Maceió e eles concorrem nesse processo seletivo. No caso, eles são alunos de menos de 15 anos, eles participam da Olimpíada chamada do Cone Sul, que é a Olimpíada para os alunos de até 15 anos. Então esse processo seletivo é mais um extremamente competitivo nessa Olimpíada.

Lenilda Luna: Eles são de escola pública ou da rede privada?

Krerley Oliveira: Não, são da escola privada. Em geral é muito difícil para um aluno de escola pública chegar entre esses mil melhores, porque esses alunos que estão nesse nível de seleção pra Olimpíada Internacional, eles costumam estudar 15 horas semanais, só de Matemática. Então é um nível de exigência que, infelizmente, não é acessível para os alunos de Escola Pública porque nós não temos um treinamento desse nível, no Estado de Alagoas. Nem em Escolas Privadas também, do Estado de Alagoas. Aqui na Ufal nós oferecemos treinamentos aos sábados, mas pra gente não é viável, não é possível ter estrutura que permita ser muito competitivo nessas Olimpíadas Internacionais, por conta que nós temos outras atribuições.

Lenilda Luna: A gente vê que até para organizar essas olimpíadas é preciso ser matemático, né? Porque são números exponenciais aí de participação, seleção difícil…

Krerley Oliveira: Exatamente. E quando você leva em consideração que esse trabalho é voluntário, a coisa fica ainda mais complicada ainda. Você tem que ter não somente energia de fazê-la, mas também contar com a participação de outras pessoas, outros alunos. As vezes alunos universitários que já ganharam medalha e que se envolvem no trabalho. Professores que estão na universidade de hoje e que vieram desse programa, que foram tocados por esse programa em alguma etapa da sua vida estudantil. E esse trabalho acaba devolvendo para os novos alunos o que esses alunos receberam. Então a gente conta com o grupo de voluntários da comunidade acadêmica enorme, perto de trinta, quarenta voluntários que mantém esse programa ativo. Isso aí é que permite a gente fechar as contas no final de cada ano, sem ter nenhum dinheiro. Quer dizer, tendo pouquíssimo dinheiro para a Olimpíada Alagoana, por exemplo.

Lenilda Luna: Já vimos a grandiosidade dessa Olimpíada voltada para os estudantes do Ensino Fundamental e Médio, mas, além da Ufal se envolver na coordenação e no treinamento da Olimpíada para os estudantes das escolas públicas e privadas, também tem competidores nas Olimpíadas Universitárias. Então vamos explicar agora o que são essas Olimpíadas Universitárias de Matemática.

Krerley Oliveira: Perfeitamente. O que tem ocorrido mais recentemente aí no cenário nacional, em relação às olimpíadas de matemática e universidade? O que tem ocorrido é que as principais universidades do país despertaram para o benefício que elas podem ter com esses alunos que vieram no programa olímpico, que estudaram ao longo do Ensino Básico de maneira diferenciada. Então o ano passado, a Unicamp criou um programa especial para Olimpíadas de Matemática, a Unicamp tem um vestibular especial que não é o vestibular da Unicamp, é simplesmente uma seleção de currículos. Foram 76 vagas o ano passado. Eles ofereceram 76 vagas para alunos que vieram de Olimpíadas simplesmente aplicarem ao currículo o que ele ganharam pra entrar na Unicamp. Então um de nossos alunos foi selecionado nesse vestibular Olímpico que a Unicamp promoveu. Esse ano a Usp, o conselho da Usp aprovou o mesmo tipo de seleção para os alunos olímpicos, porque percebem o retorno que isso dá à Instituição e nós vamos ter esse ano um vestibular especial para os alunos de Olimpíadas na Usp. E a FGV do Rio, começou há 22 anos um programa especial de seleção de alunos na mesma linha do programa da Unicamp e da Usp, ou seja, selecionando alunos olímpicos, só que com um diferencial: a FGV tem um programa muito bem estruturado na Escola de Matemática Aplicada que custeia toda a estadia do aluno com bolsas de até dois mil reais e, por exemplo, hoje, ela está selecionando 300 alunos do Ensino Médio do país inteiro. No final desse mês ela vai levar esses alunos para o vestibular na FGV, eles vão fazer o vestibular deles, dos 300 da FGV. Se eles forem aprovados, vão ter tanto a bolsa de dois mil reais pra se manter no Rio de Janeiro, quanto a isenção da mensalidade da FGV, que é uma mensalidade relativamente alta. É uma instituição de ponta.

Nós temos também um aluno, que é o Wellington, que foi um aluno de escola pública no ano passado e hoje está numa escola privada. E que está dentro desse processo de seleção. O Wellington mora aqui perto da Universidade. Então digamos que assim, certamente a FGV não era um dos objetivos dele e agora passa a ser: está no processo seletivo, então está sendo pra ele.

Num nível universitário, as competições de nível universitário, elas estimulam qualquer aluno da universidade a participar da Olimpíada de Matemática. Não precisa ser do curso de Matemática. Nós temos vários cursos das áreas de exatas e inclusive alunos de outros cursos que participam, até para se divertir com os problemas que aparecem na Olimpíada Universitária, a principal Olimpíada é a Olimpíada Brasileira Matemática Universitária, parte da OBM, a Olimpíada Brasileira de Matemática, mas temos também a versão alagoana, que é a Olimpíada Alagoana de Matemática Universitária. Então os alunos fizeram a prova agora, há pouco tempo, cerca de três semanas. Acabou de sair a nota de corte e vários alunos da Ufal estão classificados para a segunda fase, que é a fase final, que vai ocorrer em novembro.

Lenilda Luna: Essa fase em novembro acontece aonde?

Krerley Oliveira: Na Ufal. Tudo ocorre em Alagoas, em geral essas olimpíadas só ocorrem presencialmente com todos os alunos quando são olimpíadas internacionais, pelo volume de alunos que participa. Então na Olimpíada Brasileira Universitária são mais de mil alunos participando das universidades pelo país afora. Das principais universidades. Então a gente tem todas as principais universidades com alunos participando, inclusive a Ufal. Esses alunos concorrem a vagas para as equipes olímpicas universitárias. Então nós temos algumas competições universitárias. Uma delas é a Olimpíada Internacional de Matemática Universitária. Nós tivemos um representante da Ufal nessa Olimpíada, que foi o líder da equipe, que foi um professor, não foi um aluno competidor, mas foi um professor que liderou a equipe brasileira. Foi o professor Davi Lima. Eles voltaram lá da Bulgária com três ouros e uma prata na equipe.

Lenilda Luna: Muito bom, três ouros e uma prata, na Bulgária.

Krerley Oliveira: É, o Brasil é muito bom. Envolve muitos países. Quase todos os países mandam representantes para essa Olimpíada e na semana passada eu tava liderando a equipe brasileira na Olimpíada Ibero-Americana de Matemática Universitária, no México, onde a gente conseguiu dois ouros e duas pratas. Fomos a primeira equipe, primeiro colocado por equipes da competição. Então, isso daí, digamos assim, mostra que em Alagoas nós temos um programa vivo, um programa que os alunos podem recorrer e eventualmente se integrar, tanto para contribuir dando aula para os outros alunos do Ensino Básico, quanto para adquirir conhecimento, seja com os professores ou com os outros alunos que estão ali naquele programa, mais experientes. Além desse tipo de iniciativa, que é, digamos, a Olimpíada de Matemática Universitária, a gente tem visto que os alunos da universidade são a peça chave na existência desse programa de olimpíadas no Estado de Alagoas, na medida em que eles, por parte deles, se envolvem com o treinamento. Então nós temos algumas iniciativas muito interessantes. Uma delas envolve o município de Belém, no agreste. O município de Belém promulgou uma lei e transformou a Câmara Municipal em um Centro de Formação em Matemática, em Olimpíadas de Matemática. É uma lei específica do município de Belém. Esse município ele está, desde março, com monitores da Ufal, trabalhando junto com os alunos do município em prol de uma melhoria na matemática, isso eu acho que vai ter resultados interessantes já esse ano.

Lenilda Luna: Escolas públicas lá de Belém?

Krerley Oliveira: O município de Belém.

Lenilda Luna: Escolas públicas e privadas?

Krerley Oliveira: Lá não existem escolas privadas. É um município muito pequeno, tem cerca de 4500 habitantes, então é um município pequeno. Não tenho conhecimento de ter escola privada. São cinco escolas públicas e a prefeitura do município tomou a iniciativa de procurar a Ufal, através do Instituto de Matemática, e a gente fez, desde o ano passado, uma parceria. A Câmara de Vereadores, o presidente da Câmara, José Amorim, a prefeita Paula, vieram pra Ufal, a gente conversou no Instituto de Matemática, criou a lei municipal que permite usar o espaço da Câmara como Centro de Treinamento. A gente tem monitores da Ufal que vão lá dar aulas semanalmente pra eles, nós ampliamos essa parceria, agora, com uma prova pra avaliar o nível do Ensino lá de Belém, que a gente tá chamando de Prova Belém, e que isso talvez se replique em outros municípios através de um consórcio que a gente está construindo para o ano que vem. Outros municípios eventualmente vão se integrar nessa prova, seria um diagnóstico para direcionar políticas públicas para os municípios. Mas isso surgiu do interesse mútuo em colaborar, contribuir e com a participação dos alunos da universidade que estão ali interagindo. Essa foi uma iniciativa que acho que foi muito interessante, inclusive saiu em matérias nacionais, porque é uma iniciativa que não tem em outros lugares, uma lei municipal pra isso.

Outra iniciativa que está em andamento e começou um mês e meio atrás, que é muito interessante, é um curso de Pensamento Computacional, Programação e Aplicações da Matemática. Esse curso é um curso nacional, que a Ufal está oferecendo, dentro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Então deixa eu explicar como é que funciona: os alunos que participam da Obmep, eles ganham medalhas as vezes várias vezes. Então eles fazem o treinamento que a gente oferece todo ano várias vezes. Chega uma hora que eles já estão com aquele treinamento de cor e salteado, aprendido. Então eles, dentro da Obmep, participam de um programa adicional chamado “Mentores”.

Lenilda Luna: Passam para outro nível.

Krerley Oliveira: Passam para outro nível e nesse nível eles têm interação com professores das universidades brasileiras. Eles podem fazer um curso de cálculo, de geometria analítica. Como esse ano o Impa tomou a iniciativa de oferecer um curso, através da Ufal, através da nossa equipe, um curso de Pensamento Computacional, Programação e Aplicações da Matemática. Então a gente elaborou um curso no primeiro semestre e está oferecendo agora para esses multi-medalhistas da Obmep. Esse curso tá na metade, houve uma demanda enorme pelo curso. São 300 multi-medalhistas e praticamente 300 se inscreveram no curso que tinha 70 vagas. Hoje a gente está com 70 alunos de todo o Brasil, fazendo o curso. E quem está ministrando o curso são os alunos da Engenharia da Computação, das Ciências da Computação e da Matemática. Estão contribuindo com isso sob a minha coordenação. Então esse é mais um retorno que a universidade vai dando para a sociedade alagoana e brasileira. Esse curso é uma inovação, é uma coisa nova e que eu acho que vai ter bastante repercussão. Vai começar a ficar mais comum.

Lenilda Luna: Então, professor, os estudantes que estão ouvindo essa narrativa devem estar pensando “preciso prestar mais atenção nas aulas de Matemática porque abre portas!”.

Krerley Oliveira: Com certeza! As aulas de matemática abrem portas, a matemática é uma ferramenta útil em qualquer área, seja na Medicina, seja na Psicologia, seja nas Ciências Sociais, enfim. É algo que é importante para a formação do ser humano e formação do acadêmico. E hoje a gente precisa ter essa visão e levar para os alunos do Ensino. Quanto mais cedo possível, essa mensagem de que eles têm muito a ganhar aprendendo matemática.

Lenilda Luna: E os estudantes da Ufal, especificamente, que estão aqui ouvindo essa entrevista ou vão ler no site da Ufal. E começaram a se interessar, até de outros cursos, como o senhor colocou, que não seja nem da área de exatas, mas são alunos que têm um talento em Matemática, e aí eles pensam “não, eu quero participar disso”. Como iniciar o contato?

Krerley Oliveira: Indo no Instituto de Matemática, procura o professor Krerley e dizendo “eu quero participar disso”. Simples assim. Nós temos histórias lindas que começaram exatamente dessa forma, inclusive de professores da universidade. A Ufal ganhou o prêmio Caps de Teses, pela primeira vez, pelo professor Abraão Mendes, da Ufal, na área da Matemática. Acho que foi o primeiro prêmio Caps de Teses, acabou de ganhar um outro agora, uma menção honrosa, mas o primeiro foi o Abraão, esse foi o segundo. O professor Abraão chegou na Matemática quando ele estava na sétima série do Ensino Fundamental, numa escola do Benedito Bentes, chamada Dom Otávio Aguiar, num turno noturno, e ele estava fora de faixa naquela época. E o professor Abraão chegou e disse “eu quero estudar Matemática”. E o professor Abraão hoje tem uma carreira sensacional, ele fez a iniciação científica na Ufal, fez o Mestrado na Ufal, Doutorado na Ufal, foi para Princetown, passou um ano em Princetown, voltou, agora está se afastando para a Universidade de Miami, para o pós-doutorado, à convite da equipe da universidade. E veio do Benedito Bentes, de Escola Pública, fora de faixa na época, mas tomou a iniciativa de dizer “olha, quero estudar matemática”.

Então estamos lá no IM à disposição de qualquer aluno que queira se integrar, que queira aprender.

Lenilda Luna: Exemplo aí para todos os que pensam “ah, não tenho condições pra isso”. Um exemplo de que é possível conquistar, se esforçar e que a universidade também, por outro lado, que às vezes os alunos se esforçam, mas não encontram suporte. A universidade, por outro lado, tem esse papel de oferecer esses programas, oferecer esse apoio, de trazer esses estudantes para esse nível de estudo e de competição.

Krerley Oliveira: Sem dúvidas. Às vezes os alunos procuram e não encontram suporte, mas eu prefiro deixar uma mensagem, que foi a mensagem do Wellington, que é esse aluno da FGV, que ano passado ganhou medalha de prata na Obmep, e quando ele ganhou eu descobri que ele estava há sete meses sem luz dentro de casa. Então se você acha que tem dificuldades, que está difícil, o Wellington estava há sete meses sem luz. Hoje, graças a Deus, ele está com luz, hoje, graças a Deus, ele está indo para o Rio no final do mês, fazer o vestibular da FGV, e espero que no mês de novembro a gente volte pra falar que o Wellington entrou na FGV e, bom, certamente se ele não entrar na FGV, eventualmente ele vai entrar em alguma outra universidade, ele já está em uma direção positiva. Então, as dificuldades são muitas. A gente sabe que nossos alunos têm dificuldades, a gente não pode esconder isso e a gente sabe que a gente deve buscar dar uma condição melhor, mas antes de mais nada o aluno deve buscar uma condição melhor e aproveitar essa grande oportunidade que é estar na Ufal, que é estar ali trabalhando com os melhores professores do Estado de Alagoas e alguns das melhores do Brasil. Isso é uma coisa que o aluno não pode deixar de ter em mente, até mesmo porque a nossa universidade é um investimento grande da nossa sociedade e que vale a pena.

Lenilda Luna: Professor, eu tenho que parabenizar ao senhor, ao professor Davi, ao Abraão por essa história linda, ao Wellington, que a gente já está torcendo por ele. E a todos envolvidos nesse programa importantíssimo.

Krerley Oliveira: Muito obrigado, eu terceirizo os parabéns que você me deu para todos os alunos e professores que estão comigo dentro desse programa, voluntariamente aos sábados, aos finais de semana, às vezes as provas são aos domingos, eles estão lá. Eu não consigo dizer os nomes aqui porque eles são muitos, mas certamente se tenho algum mérito nesse processo, o mérito não é só meu, é de toda essa equipe envolvida que está há anos tocando esse programa dentro de Alagoas.

Lenilda Luna: Parabéns, professor, e certamente o senhor vai voltar aqui, porque o IM é um celeiro de talentos. Ainda temos que entrar no assunto da Inteligência Artificial e outras questões, outras linhas que acontecem ali no Instituto de Matemática.

Krerley Oliveira: Se Deus quiser, espero voltar, inclusive porque como você bem falou a Inteligência Artificial é uma das matrizes econômicas importantes pro futuro da nossa sociedade. E o IM espera contribuir com isso, fazendo seu esforço dentro da universidade.

Lenilda Luna: Então estudantes, vão lá no Instituto de Matemática, procurem o professor Krerley e digam “eu quero fazer parte disso”.

Krerley Oliveira: Será um prazer receber cada um de vocês. Um abraço.

Lenilda Luna: Obrigada professor. Essa entrevista vai ser transcrita para o site da Ufal, vai ser reprisada às 17h e você pode acompanhar também pelo podcast. Até o próximo Ufal e Sociedade.

Confira o podcast dessa entrevista aqui.