Turismo, história e ancestralidade marcam encerramento da SBPC Afro

A visita ao maior quilombo do mundo levou conhecimento e experiências aos participantes
Por Paulo Canuto - estudante do Jornalismo
01/08/2018 13h56 - Atualizado em 02/08/2018 às 13h25
Comitiva na Serra da Barriga.  Foto: Junior Gomes

Comitiva na Serra da Barriga. Foto: Junior Gomes

A programação da Reunião Anual da SBPC reservou o sábado (28) para a família. Apresentações musicais e momentos especiais marcaram o encerramento do evento que atingiu as expectativas, com as atividades elogiadas pelos participantes. O sucesso desta edição também se deve a união entre ciência e cultura, através das comissões das SBPCs Jovem, Cultural e Afro e Indígena. 

A SBPC Afro e Indígena trouxe a cultura ancestral para dentro de um evento onde o campo científico sempre foi muito forte. Debates, mesas-redondas, conferências e oficinas aliaram ciência e cultura ancestral, história, artes e atividades lúdicas. Para finalizar , foi realizado o Etnoturismo, atividade proposta pela professora Lígia Ferreira, do curso de Letras, encerrando a SBPCC Afro e Indígena, que teve o objetivo de levar as pessoas a conhecer um pouco mais da história e alguns personagens que fazem parte dela. 

História e Cultura ancestral

O destino do Etnoturismo foi a cidade de União dos Palmares, escolhida por toda história que carrega, berço de artistas renomados e do herói nacional Zumbi. A primeira parada foi no campus da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), onde os visitantes conheceram o museu da Mestra Irinéia, patrimônio do estado de Alagoas e conhecida mundialmente por suas peças de barro. Lá estão expostas diversas de suas peças, assim como de seu marido “Seu Antônio”. Além de apreciar as peças no museu, os presentes puderam assistir a um filme, que contava um pouco da história dessa palmarina que levou o nome de União dos Palmares para o Brasil e o mundo através de sua arte. 

A visita ao mercado de artesanato da cidade foi a parada seguinte do passeio. Todos foram recebidos pelos artesãos que há anos lutam para manter vivo o comércio cultural nas diversas peças artesanais, camisas, colares, chaveiros e muitos outros produtos que levam a marca da cidade. As pessoas puderam conhecer um pouco da cultura local e comprar lembranças. Os visitantes também foram ao Balneário Mirante das Águas, que montou uma estrutura especial para a recepção e conforto dos participantes da SBPC Alagoas, que vieram de diversas partes do país, como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Bahia entre outros estados. “É bastante interessante e necessário para o evento. O que mais me chamou a atenção foi que tanto a SBPC Cultural quanto a Afro e Indígena não se limitaram a parte cultural e artística do evento e o passeio foi uma oportunidade única”, contou Crislandia, aluna de Engenharia Química da Ufal relevando que ainda não tinha tido a chance de conhecer o local.

Berço da Liberdade

Seguindo o roteiro, a comitiva chegou ao local onde vários heróis viveram e morreram pela liberdade de seu povo. “Era um imenso desejo meu conhecer a terra de Zumbi dos Palmares, porque meus avós vieram do Maranhão mas são de famílias negras de origem quilombola, por isso é um imenso prazer poder conhecer essa essência”, disse Suzete, que veio de Manaus para participar da SBPC 2018.

Amparados pelo guia turístico Cleiton Santana que, dominando o assunto, contou um pouco sobre a história da cidade e do maior quilombo do mundo, além de algumas curiosidades, com bastante bom humor. “Esse momento é muito importante para União dos Palmares e para o turismo de nossa terra, fortalecendo desde o turismo em si até as pessoas que fazem parte desse produto. Recebemos muitos pesquisadores, professores e turistas o que é maravilhoso, porque nossa visibilidade aumenta fora de nosso Estado, já que nesse grupo que estamos recebendo estão pessoas de diversos lugares do país, conhecendo nossa cultura de forma geral, arquitetônica, culinária e etc”, falou. 

Diversos pontos do quilombo foram visitados, alguns não puderam por conta do acesso, por ser de mata fechada, como mirantes, a casa de oração, a casa da farinha de onde diversas sacas foram produzidas ao longo dos anos e que agora não está funcionando mais. A última parada foi no lago dos negros, onde era fabricado o armamento usado nas batalhas dos quilombos e de como o ferro necessário era conseguido. Por fim, a visita à árvore sagrada fechou o passeio turístico com votos de boa fé a todos os presentes, que ainda tiveram a oportunidade de fazer um pedido, pois os ancestrais acreditavam que no horário das 8h às 18h os espíritos que tem por finalidade ajudar pairam sobre a árvore sagrada. 

A grande responsável pelo Etnoturismo, professora Lígia Ferreira, resumiu esse dia:  “O Etnoturismo na Serra, atividade da nossa SBPC Afro e Indígena 2018, iniciou um ciclo de ações de cunho educativo, visando o reconhecimento e ressignificação da Alagoas negra - diria também, indígena - conforme consta nas diretrizes de Gestão da Serra da Barriga como Patrimônio Cultural do Mercosul. Propus a ação como membro titular pela Ufal no Comitê Gestor e, enquanto parceira, essa é uma das muitas atividades que a Ufal tem a responsabilidade de promover até o segundo semestre de 2019, jcom outras instituições, a fim de integrar e difundir União dos Palmares como o espaço sagrado de liberdade conquistado com muita luta e sangue dos nossos ancestrais”, sinalizou a professora. 

Essa atividade finalizou um evento de grandes proporções, como foi a Reunião Anual da SBPC e seus respectivos eixos onde a ciência, além de debatida, foi aplicada na prática, na vivência: “Vindo para União dos Palmares nós culminamos a nossa participação na SBPC Afro e Indígena. Essa visita veio como desfecho para os verdadeiros objetivos dessa SBPC, que é ir de encontro às origens, de encontro às pessoas e daqueles que mais precisam, para ter o entendimento da história. O entendimento da história do Brasil nasce com essa participação” comentou Vittor Soli, professor de Biologia em Porto Alegre.

A experiência positiva teve debates, conferências, mesas-redondas, minicursos além do espaço infantil que levou cultura e aprendizado às crianças e jovens com atividades lúdicas, contação de histórias voltadas ao ensino da cultura e igualdade, abraçando, assim, a todos que participaram desse evento que é o maior da América Latina.