Serra da Barriga: Aprender com o passado para construir o futuro

Mesa-redonda debateu propostas e desafios para gestão da Serra da Barriga como patrimônio cultural do Mercosul
Por Raphael von Sohsten, estudante de Jornalismo
24/07/2018 15h30 - Atualizado em 22/11/2021 às 09h05
Programação da SBPC Afro e Indígena

Programação da SBPC Afro e Indígena

A Serra da Barriga não pode ser encarada como peça folclórica, mas como polo da população negra”, afirmou o professor Zezito Araújo (Ufal), na mesa-redonda sobre o Dossiê de candidatura da Serra da Barriga - Quilombo dos Palmares – patrimônio cultural do Mercosul e as ações do comitê gestor, na tarde da segunda-feira (23).

Zezito defendeu que a gestão do bem cultural deve valorizar a cultura de libertação e promover a participação negra. Na mesa, ele teve companhia do professor da Universidade Estadual de Alagoas, Jairo Campos; da arquiteta e urbanista do Departamento de Articulação e Fomento da assessoria internacional do Iphan, Candice Ballester, dadiretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Carolina Nascimento; e do professor da Ufal Aruã Lima, que coordenou a mesa.

A arquiteta Candice Ballester recordou as etapas para a construção do dossiê, que foi apresentado na candidatura da Serra da Barriga como patrimônio cultural do Mercosul, em 2017. “O título internacional engloba o patrimônio material, imaterial e arqueológico. Além disso, reforça a ideia de intercâmbio com todos os âmbitos dos quilombos”, afirmou.

O professor Aruã Lima destacou a necessidade de pensar quais serão os próximos caminhos traçados para a gestão da Serra da Barriga, e que possibilitem a preservação da memória sem apagar o sentido de resistência de Zumbi dos Palmares como patrimônio histórico. “A grande vitória do reconhecimento é responsabilizar os entes governamentais pela manutenção desse patrimônio. Aumentar a memória de Zumbi dos Palmares e não retirar dele o caráter transgressor durante a história”, disse Aruã, mencionando a importância da participação da comunidade local em todo o processo.

É necessário entender que a cultura Afrobrasileira pode ser um vetor de desenvolvimento do povo. Por isso falamos de patrimônio, especialmente, de pertencimento”, destacou Carolina Nascimento no início da sua fala. A contribuição dela esmiuçou conceitos de resistência, de modo que destacou o aspecto cultural como fortalecimento do movimento negro.

Local de Resistência

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1986, a Serra da Barriga abrigou o maior quilombo das Américas. O seu reconhecimento como Patrimônio Cultural do Mercosul, em 2017, contribui para o reconhecimento do local como símbolo de luta e resistência dos escravos no Brasil e da referência cultural dos povos afro descendentes.

O estudo realizado em parceria com o Iphan e a Fundação Palmares, responsável pela administração do Parque Memorial Quilombo do Palmares, representa, ainda, uma reparação às perseguições e à intolerância praticadas e reveladas por meio dos quilombos. A formulação do dossiê só foi possível com a ajuda fundamental do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal de Alagoas, hoje sob direção da professora Lígia Ferreira.

O comitê gestor da Serra da Barriga é formado por representantes de comunidades capoeiristas, religiões de matriz africana, quilombolas, e autoridades do Iphan, da Fundação Palmares e das universidades Federal e Estadual de Alagoas.