Oxigênio, luz e radicais foi tema de conferência na SBPC Alagoas

Químico premiado foi fortemente aplaudido ao final da apresentação

Por Aldilene Clemente, estudante de Jornalismo
- Atualizado em
Etelvino Bechara, da Universidade de São Paulo (USP)

Etelvino Bechara, da Universidade de São Paulo (USP)

À convite da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o pesquisador Etelvino Bechara, da Universidade de São Paulo (USP), realizou a conferência Oxigênio, luz e radicais: ligações perigosas na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Membros da comunidade acadêmica alagoana e de outros estados do Brasil lotaram a sala para acompanhar a apresentação do professor, que recentemente foi premiado por uma de suas pesquisas no campo da Química. 

Durante a conferência foram expostos os efeitos benéficos e maléficos da relação entre luz e oxigênio dentro Bioquímica, Biologia e Biomedicina através dos radicas livres. O professor mostrou as facetas do oxigênio molecular partindo da respiração mitocondrial para a quimiluminescência, sobre a qual desenvolveu pesquisas aplicadas a seres vivos, tendo como objeto os vaga-lumes. Segundo ele, essas são reações onde não existe a emissão de calor, mas de luz. Ao abordar também os fenômenos da bioluminescência dos insetos no Brasil, deu o exemplo dos cupinzeiros luminosos, que atualmente se encontram limitados aos parques nacionais. Ele falou ainda sobre o efeito dos radicais livres na intoxicação por chumbo, enfatizando o perigo desta toxina, além da produção de ácidos por libélulas, que danificam carros.

"Existe um mecanismo radicalar da corrosão do capô de carros por ovos de libélula. As libélulas são enganadas pela luz refletida pelo carro, simulando um espelho d'água, então colocam uns ovos, e como todo mundo sabe, ovo tem muito enxofre e na chapa quente esses ovos sofrem reações que levam a produção de substâncias derivadas das proteínas, tão reativas quanto ácido sulfúrico, assim o carro fica manchado e pode ficar até furado", explicou.

Em seus trabalhos mais recentes, Bechara tem pesquisado sobre estresse carbonílico, o que definiu ser a produção de substâncias reativas pelo organismo ao longo da idade, chamadas de aldeídos, que reagem quimicamente com proteínas e DNA levando a perda de função dessas proteínas, causando a mutagênese, e eventualmente o câncer. Tem investigado ainda novas possíveis fontes biológicas de oxigênio singlete, forma excitada do oxigênio, relacionada a doenças que levam a fotossensibilidade ou sensibilidade as drogas. Com mais de 40 anos de pesquisa sobre o assunto, ele exclama: "Minha paixão é o oxigênio e a luz!".

"Eu gostei muito! Principalmente, quando ele falou dos radicais livres, porque faço estudos com antioxidantes. Essa foi a parte que mais gostei mesmo, porque já trabalho com isso, mas no todo a pesquisa dele é bem interessante", comentou a estudante do curso de licenciatura em química, Simone Paes. Entre os ouvintes estava Helena Bonaparte, docente e pesquisadora do Instituto Federal de Sergipe (ISF), ela falou sobre a necessidade de dominar o conteúdo referente ao tema, e que para isso não havia nada melhor do que o maior especialista do país nesta área para aumentar o conhecimento e agregar valores a outros profissionais enquanto professores. "É um privilégio estar aqui!", disse entusiasmada.

O apresentador encerrou a conferencia agradecendo aos colegas nacionais e internacionais e, principalmente, aos mestres e doutores que formou, sendo muito aplaudido por todos que estavam presentes no local.

 Vida dedicada à ciência 

Estudava em escola pública sob a luz de um lampião, mas em dois turnos para satisfazer sua vontade de aprender enquanto vivia em Caparaó, vilarejo de Minas Gerais. Amante da natureza, sempre gostou de insetos, fazendo deles seus brinquedos desde a infância quando sequer imaginava o que viria a ser. Sua curiosidade aliada ao interesse que muitas pessoas sentem por ele o ajudaram a formar uma visão de observação e a ter oportunidades. Bechara é químico e doutor em bioquímica, possui diversos trabalhos reconhecidos, citados e publicados dentro e fora do país, como o divulgado na Science sobre os danos causados por resíduos de melanina após a exposição ao sol, que podem danificar o DNA e provocar câncer de pele. 

Pelos trabalhos desenvolvidos com oxigênio, em 2017 recebeu o premio Rheinboldt-Hauptmann da USP, concedido a químicos que contribuíram para o desenvolvimento científico brasileiro. O cientista que trabalha voluntariamente para a Universidade como professor sênior ministrando aulas para a graduação, desenvolvendo e realizando projetos de pesquisa com estudantes, participa da SBPC desde 1967, quando contribuiu diretamente para a fundação da Sociedade Brasileira de Química.