Expedição realizada pela USP em colaboração com o Exército ao Pico da Neblina descobre novas espécies

Entre os mais de 700 registros, foi descoberta uma nova espécie de coruja
Por Mírian Félix, estudante de Jornalismo
30/07/2018 13h45 - Atualizado em 30/07/2018 às 13h48
Participantes da mesa, vasto material de pesquisa foi encontrado após a expedição

Participantes da mesa, vasto material de pesquisa foi encontrado após a expedição

Uma parceria do Exército Nacional com a Universidade de São Paulo (USP) proporcionou um resultado “excepcional”, nas palavras do professor e pesquisador Miguel Trefaut Rodrigues, da USP, em uma expedição ao Pico da Neblina, ponto mais alto do Brasil. “As facilidades que o exército nos proporcionou foram espetaculares! A gente nunca contou com um apoio tão grande, que geralmente a gente faz expedições com o mínimo de recursos e a gente dorme de maneira extremamente precária, a gente leva muito tempo pra chegar num local, às vezes semanas. E essa expedição foi uma coisa assim tão bem planejada pelo Exército Brasileiro, juntamente conosco, não perdemos praticamente nada de tempo”, contou o Trefaut, o primeiro a palestrar, numa mesa redonda que aconteceu durante a SBPC nesta sexta (27) no prédio da Famed.

Com a ajuda do exército, os pesquisadores da USP conseguiram autorização para realizar a excursão científica. Compondo a expedição e ávidos pelos resultados que esta poderia proporcionar, havia 11 especialistas de diferentes áreas: herpetologia (repteis e anfíbios), ornitologia (aves), mastozoologia (mamíferos), e botânica (plantas). “Pensando nos nossos biomas, por exemplo, uma das atrações era descobrir a biodiversidade de algumas áreas da Amazônia. Era uma lacuna extremamente importante na fauna brasileira a coleta de material genético”, declarou o palestrante.

Os pesquisadores levaram 750 quilos de equipamentos, inteirando as cerca de 20 toneladas transportadas pelo Exército, já que além do material dos pesquisadores precisavam garantir a infraestrutura necessária ao acampamento. Foram três meses de planejamento para que a missão fosse executada.

Em Marutacá, onde encontraram novas espécies, duas comunidades Yanomamis receberam o grupo, que pôde acompanha a festa da caça promovida pelos índios. De Marutacá a equipe seguiu para o Pico da Neblina, foram nove voos de helicóptero para transportar pessoal e material.

Os cientistas também fizeram estudos em relação ao aquecimento global na realidade da fauna da região, “os dados obtidos permitiram inferir o risco das espécies em relação ao aquecimento global”, informou Trefaut.

Miguel Trefaut ainda apresentou pôsteres de aves, lagartos, serpentes, plantas e mamíferos, criados em agradecimento a ajuda dos Yanomamis, para o Projeto Yaripo, que prevê a exploração turística através da execução de passeios no Pico da Neblina.

Em seguida o General Sinclair James Mayer, coordenador do Escritório do Sistema Defesa-Indústria-Academia de Inovação (SISDIA), teve a oportunidade de relatar a participação do Exército na expedição e outras ações desenvolvidas pela instituição para auxiliar no processo de desenvolvimento nacional.

Contou que através do SISDIA programas como esse, que auxiliaram a expedição, podem ser realizados. O sistema é baseado na abordagem da Tríplice Hélice. “Para nós do exército constitui hoje numa missão essa aproximação com a academia, com a indústria, está dentro do conceito de tríplice hélice, nós vemos isso como uma excepcional oportunidade para incrementar as atividades científicas e tecnológicas do país, estabelecendo uma rede de cooperação que vai ter sucesso, como já teve sucesso em outros países”, afirmou Sinclair Mayer.

O general concluiu afirmando que as a atuação das Forças Armadas tem que ser prática, “no nosso caso a lei é muito clara, nós devemos contribuir para o progresso nacional”, disse.

Eloisa Helena de Souza Cabral, professora da UFLA, que foi a terceira a ter a palavra, palestrou no sentido das estruturas organizacionais e sua importância na parceria desenvolvida na elaboração e execução do projeto da exploração cientifica no Pico da Neblina. Ela acredita que o contato com a universidade permitiu ao Exército a execução de um evento, para o exercício, logístico e operacional da campanha da movimentação além da presença do órgão em território nacional. E do ponto de vista da academia, o Exército assegurou à universidade toda a estrutura necessária a realização da pesquisa.

"Além da divulgação da pesquisa, há a iniciativa da gente comunicar a existência de um caminho em que a universidade pode contar com recursos humanos, recursos operacionais de outras forças que existem na sociedade, no caso do Exército Brasileiro”, explicou a professora.

Perguntada em como ela avaliava essa parceria Eloisa concluiu: “Eu avalio extremamente positiva, essa instalação como uma missão institucional, como uma decisão do comando do exército em ter um sistema que é o sistema o SISDIA, está trazendo forças que o exército já contatava pra dentro da nossa realidade de universidade. Então, nesse sentido é que eu considero sempre importante a universidade abrir novos canais pra dizer aquilo que ela faz e a competência que ela tem assim como no caso do exercito a divulgação de um sistema principalmente de fomento a pesquisa acadêmica”.

Primeiros resultados da pesquisa

De acordo com os dados informados por Miguel Trefaut, foram 700 espécimes de 105 espécies de Repteis e Anfíbios; 12 espécies novas e inúmeros registros novos para o Brasil; 308 espécies de aves registradas e 205 exemplares coletados; uma nova espécie de coruja, inúmeros registros novos; 18 espécies de pequenos mamíferos, 90 espécimes coletados; 5 registros novos para o Brasil e pelo menos uma espécie nova; 308 espécies de plantas registradas, 1500 exemplares coletados. Pelo menos uma espécie nova e centenas de exemplares em herbários brasileiros e com acesso a DNA.

O professor Trefaut esclareceu que a fauna do local não tem relações com a Amazônia e que terão um vasto material de estudo por muito tempo com o que foi coletado durante a visita ao Pico da Neblina.