Cientista do Instituto Butantan apresenta as vantagens de usar o zebrafish nas pesquisas científicas

Versátil, de fácil manipulação, com alta taxa reprodutiva e custo menor que os roedores, peixe é destaque em conferência na SBPC Alagoas
Por Mara Santos, estudante de Jornalismo
28/07/2018 18h53 - Atualizado em 30/07/2018 às 09h29
Há pesquisas com o zebrafish relacionadas a câncer, coração, doenças congênitas e hereditárias, infecções, entre outros

Há pesquisas com o zebrafish relacionadas a câncer, coração, doenças congênitas e hereditárias, infecções, entre outros

Visivelmente apaixonada por sua área sua área científica, a pesquisadora do Instituto Butantan, Mônica Valdice Lopes Ferreira, ministrou a conferência A importância do zebrafich na pesquisa científica, neste penúltimo dia da 70 ª Edição da Reunião Anual da SBPC, em Alagoas. A sala do Centro de Integração Comunitário (CIC), no Campus A.C. Simões ficou repleta de participantes, que presenciaram uma palestra informativa, dinâmica e divertida.

O zebrafish (Danio rerio), conhecido também como ‘peixe-zebra’ ‘paulistinha’ ou ‘bandeira paulista, é um peixe listrado usado em experimentos científicos diversos. A pesquisadora apresentou o alvo das pesquisas, e suas especificidades, aos presentes e explicou as vantagens e importância dos trabalhos realizados com o peixe para a ciência e sociedade.

Ferreira contou que o zebrafish é um peixe tropical com vida média de 3 a 5 anos. Ele é originário da Índia e veio em navios do Sul da Ásia para o Brasil. Os primeiros estudos científicos envolvendo o peixe aconteceram a partir de 1981, mas no Brasil as primeiras publicações datam do ano de 1996. Até julho de 2018, dois mil artigos já foram publicados sobre o tema.

Vantagens e pesquisas

O rápido desenvolvimento e a transparência do peixe-zebra é um diferencial importante para os pesquisadores. Ele mede até 5 cm quando adulto, leva 48h para evoluir do ovo a larva, onde já possui imunidade inata, é um animal transparente, o que permite ver os órgãos e toda sua migração celular sem ajuda de lupa. Também tem alta taxa reprodutiva, de 100 a 200 embriões por dia, é versátil e de fácil manipulação. O peixe é utilizado como modelo complementar de experimentação substituindo roedores. Outra vantagem ressaltada pela cientista é que o gasto diário com o Danio rerio (R$ 0,60) é menor do que com ratos (R$ 8,00).

Mônica Ferreira afirmou que há diversos estudos sendo realizados com o zebrafish no Brasil. Há pesquisas com o zebrafish relacionadas a câncer, coração, doenças congênitas e hereditárias, infecções, cicatrização de ferimentos, inflamações, envenenamento, alterações psicológicas, toxicidade, entre outras.

Uma das grandes contribuições da pesquisa para a saúde pública, aconteceu na cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba. Uma cientista local enviou mais de 15 amostras de águas – de açudes, hospitais, poços, carros pipas, etc.- para que fossem avaliadas pela equipe do laboratório, onde Mônica trabalha. O motivo seria o índice alarmante de crianças nascendo microcefalia e outros problemas graves de saúde.

Após realizar o trabalho com o zebrafish, Ferreira diz que ficou assustada com o resultado pois os peixes desenvolveram anomalias graves. Eram animais teratogênicos, ou seja, apresentavam malformações fetais e embrionárias causadas pelas amostras das águas paraibanas.

“Fomos até a Assembleia Legislativa da Paraíba e contamos o caso, era nossa obrigação! Alguns órgãos e pessoas não gostaram da notícia, mas após a repercussão a Secretaria de Saúde e o Ministério Público começaram a tomar providências. A transposição do Rio São Francisco aconteceu em seguida. Chegou primeiro lá, porque era necessário”, contou Mônica.

Contribuições sociais e divulgação científica

Engajada e empolgada, a cientista finalizou a conferência falando aos presentes sobre os trabalhos e ações realizadas pela sua equipe. Mônica contou que em 2015 foi criada a Plataforma Zebrafish, onde pesquisadores que trabalham com o ‘bandeirinha’ interagem e compartilham experiências.

Além disso, a pesquisadora também ressaltou que há filmes, exposições em escolas e itinerantes, onde realizam atividades interativas, curso sobre a criação e manejo do peixe, programas de estágio, mestrado e doutorado. Mônica Ferreira disse que o laboratório, onde são feitas as pesquisas, no Instituto Butantan, em São Paulo, é sempre aberto a visitações. Alunos de diversas escolas, de todas as idades e famílias vão até o local para conhecer mais sobre os estudos realizados com o Danio rerio.

Para a pesquisadora, é fundamental aproximar as pessoas da ciência e desmistificar paradigmas. Trabalhar com amor ao que faz e mostrar os caminhos para que as pessoas entendam, valorizem e contribuam para a pesquisa e o desenvolvimento humano e social. E, segundo ela, seu trabalho com o peixe-zebra tem lhe proporcionado grandes prazeres. E mostrar o quanto ele é importante para ciência e para a pesquisa científica é um deles. “Só faço algo se estiver apaixonada. E só trabalho com o zebrafish porque sou apaixonada por ele”, declarou Mônica.