Acervo sonoro de Théo Brandão é objeto de pesquisa

Professor da UFRJ desenvolve o trabalho desde 2010

20/03/2018 08h00 - Atualizado em 23/03/2018 às 10h21
Foto: Acervo Museu Théo Brandão

Foto: Acervo Museu Théo Brandão

Jacqueline Batista- jornalista 

A importância do acervo do Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) vai além das peças tridimensionais e se estende aos documentos, fotografias e gravações sonoras, resultantes das pesquisas do patrono do Museu. 

Atualmente, o trabalho intitulado Théo Brandão e os registros de música popular tradicional alagoana: produção, circulação e ressignificações de uma coleção fonográfica, do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, da Ufal, Wagner Chaves, tem o objetivo de contextualizar o projeto etnográfico das gravações realizadas pelo folclorista.

“O meu interesse é entender esse projeto etnográfico de Théo Brandão por meio das gravações”, disse o professor durante a palestra “Gente da sua gente: etnografia, experiências e mediações na produção dos registros sonoros de Théo Brandão”, que aconteceu no dia 1º de março, no auditório do MTB. O evento foi uma realização do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, do Instituto de Ciências Sociais (PPGAS/ICS/Ufal). 

Wagner explicou que a coleção sonora foi desenvolvida numa temporalidade estendida. Théo Brandão comprou o primeiro equipamento em 1948. “Essa coleção foi construída ao longo de 30 anos ou mais. Durante esse tempo, Théo foi mudando de equipamento, de suporte de gravação. Começou em discos de acetato, depois mudou para fita magnética e, finalmente, passou a usar fita cassete”, disse o professor, que começou a pesquisar a coleção em 2010, quando estava atuando na direção do MTB. 

Música Folclórica e literatura oral 

O pesquisador destacou a abrangência e a complexidade da coleção. “É impressionante o conteúdo do que já foi gravado. Existe uma diversidade enorme, desde a musicalidade até registros sobre diversos folguedos e formas de cantorias, como o repente e outros gêneros: canto fúnebre, sentinela, benditos. Théo Brandão pensava a sua coleção como um conjunto”, ressaltou Wagner. 

Em 1979, o folclorista levou parte desse acervo para o Instituto Nacional do Folclore – atualmente, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), no Rio de Janeiro, com o objetivo de ser duplicado e copiado. A duplicação foi realizada, o que possibilitou o desenvolvimento da coleção Théo Brandão

O Instituto elaborou, em 1986, um catálogo de gravações do Núcleo de Música, com várias coleções. O material de Théo Brandão passou a integrar esse catálogo, fazendo parte da coletânea Música folclórica e literatura oral. “A coleção mais expressiva e volumosa desse catálogo é a de Théo Brandão”, destacou o professor. 

Na fazenda do avô de Théo, surgiu o gosto pelos folguedos 

O pesquisador contou que o interesse de Théo Brandão pelos folguedos surgiu na infância, com as apresentações que ele assistia no Engenho Boa Sorte, de seu avô. “Isso naturalmente deixa cá dentro de nós uma repercussão que não desapareceu, é indelével”, disse Théo Brandão em entrevista concedida, em 1979, a Bráulio de Nascimento. 

Em 1948, Théo Brandão retornou ao engenho Boa Sorte (em Viçosa) com o objetivo de realizar gravações sonoras no local. “Algumas gravações também foram realizadas no Engenho Salgado (em Pilar), na residência do Farol, na Rádio Difusora e no sítio Jatiúca, casa de praia de Théo Brandão. Ele também gravou em feiras e festas natalinas”, disse o professor.   

Posteriormente, o acervo sonoro foi incorporado às coleções do Museu Théo Brandão, que havia sido inaugurado em 1975, com as peças expositivas. “Todo o acervo sonoro, juntamente com o fotográfico, documental e bibliográfico, permaneceram na residência do folclorista até 1982, quando foram doados, pela família, para o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, que os incorporou em suas coleções, até então formadas em sua maior parte por objetos tridimensionais”, escreveu o pesquisador no artigo publicado na Revista Museus e atores sociais: perspectivas antropológicas, que pode ser acessado no link AQUI