PEC-G oportuniza ensino superior para estudantes de países em desenvolvimento

Ufal recebe anualmente vários graduandos do continente africano

15/05/2017 08h00 - Atualizado em 16/05/2017 às 11h51
Natural de Benin, país da região Ocidental da África, King Aurel, 22 anos, é estudante de Agronomia no Ceca

Natural de Benin, país da região Ocidental da África, King Aurel, 22 anos, é estudante de Agronomia no Ceca

Thâmara Gonzaga - jornalista

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal), por meio do Programa de Estudantes – Convênio de Graduação (PEC-G), anualmente, recebe vários estrangeiros, sobretudo, do continente africano. São jovens que saem de sua terra natal em busca de novos conhecimentos, com um forte desejo de aprender e poder contribuir para melhorar a realidade de seu local de origem.

O PEC-G é promovido pelos ministérios da Educação (MEC) e Relações Exteriores (MRE), em parceria com as instituições de ensino superior e, de acordo com informações do MEC, tem o objetivo de oportunizar o ingresso em cursos de graduação a pessoas de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos nas áreas de educação e cultura.

Segundo o gerente de Projetos da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) Ufal, Roberto Rodrigues, para participar, o estudante deve se inscrever na embaixada do Brasil localizada em cada país de origem participante do convênio. “O MEC faz a seleção anual e encaminha os nomes dos selecionados e o período de ingresso, seja no primeiro ou no segundo semestre”, explica. “Todo processo seletivo é realizado pelo Ministério, sem interferência das universidades. Tradicionalmente, a Ufal oferece uma vaga por curso e por semestre, em todas as graduações da instituição”, acrescenta.

O gerente ainda esclarece que, com base no interesse de cada país, os estudantes se inscrevem e participam da seleção. “Geralmente, recebemos de três a quatro alunos estrangeiros por semestre. A maioria vem de países da África, mas também somos procurados por estudantes da América Central, Latina, alguns da Ásia. Atualmente, temos 35 estudantes matriculados e a maioria é de origem africana. Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau são os países que mais enviam”, aponta.

Rodrigues informa que, nos últimos cinco anos, mais de 15 estrangeiros se graduaram na Universidade alagoana. “Engenharias, Arquitetura, Medicina, Direito, Administração e Economia são os cursos mais procurados”, destaca.

Estudante quer modernizar produção agrícola da África

Natural de Benin, país da região Ocidental da África, King Aurel, 22 anos, é um desses jovens em busca do saber. Ele chegou em Maceió no ano de 2014 para estudar Agronomia, no Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal. O pai dele também é engenheiro agrônomo e se formou no próprio país. Aurel preferiu vivenciar outras experiências e elenca os motivos: “Nasci em um local onde a base da economia é a agricultura e lá ainda é muito precária. Não se emprega mecanismos de precisão, a exemplo do GPS, e a questão da irrigação também é deficiente, pois os produtores ainda esperam muito da chuva”.

Ele conta que em sua terra predomina a monocultura do algodão, produzida, em sua maioria, por pequenos produtores. “O Brasil é o maior produtor em várias culturas, por isso escolhi estudar aqui, aprender o diferente. Meu pai tem fazenda e sempre me orienta quais áreas são interessantes para eu me aprofundar, tendo como referência o nosso local”, diz o estudante que está no 6º período do curso e pensa em fazer mestrado e doutorado na área de irrigação. O jovem relata que o seu país, assim como o Brasil, é rico em belezas naturais e marcado por grandes contrastes. “Já conheci várias cidades do interior de Alagoas e vejo essa diferença entre as mais urbanizadas e as mais distantes da capital”.

Sobre o processo de adaptação ao novo local de moradia, ele afirma que foi fácil. “O brasileiro é muito aberto e disposto a ajudar, acho que já estou 'alagoanizado'. Gosto de Alagoas e da Ufal”, conta aos risos. Já quando o assunto é a saudade da família, diz que consegue amenizar a ausência com o uso da tecnologia. “A última vez que vi meus pais foi há cinco meses, mas sempre nos falamos por telefone”, conta Aurel que tem uma irmã gêmea estudando nos Estados Unidos e um irmão que mora com os pais em Benin.

Pela metodologia do PEC-G, ao terminar o curso, o estudante deve voltar para o país de origem. King já tem planos para quando retornar à sua nação. “Quero contribuir de forma ativa para o crescimento do meu país e do continente”, ressalta. “Nesta visão, escrevi um projeto e junto com meus pares do Núcleo de Estudantes Africanos em Alagoas [Neaal] apresentaremos no evento IyaWa, no período de 25 a 27 de maio, na Ufal”, informa.

O evento a que se refere o estudante é o Dia da África, celebrado em 25 de maio. De acordo com Organização das Nações Unidas (ONU), "a data tem como objetivo comemorar a fundação, em 1963, da Organização da Unidade Africana, conhecida, atualmente, como União Africana, além de destacar as realizações e refletir sobre os grandes problemas que ainda há no continente".

A programação na Ufal, segundo os organizadores, promoverá o conhecimento dos aspectos culturais, sociais, históricos, econômicos e do cotidiano dos países africanos. As atividades, promovidas pelo Neaal, serão realizadas no Auditório Nabuco Lopes, na Reitoria, Campus A. C. Simões. Para conferir detalhes da programação, clique aqui.

“Na ocasião, chamaremos toda diáspora a tomar consciência da sua importância para o crescimento do continente africano”, destaca King. “Cada vez mais, os jovens africanos saem do país para estudar fora. Alcançam destaque nas áreas de inovação, tecnologia e ciência, mas não voltam para o país”, argumenta. “É preciso empregar o que conhecemos e nossas capacidades na própria África. Se não formos nós a fazer isso, quem irá fazer?”, indaga o jovem.

Bolsas exclusivas para estudantes do PEC-G

Por meio do PEC-G, os graduandos estrangeiros podem participar de seleções de auxílio financeiro para ajudar nos estudos. São duas bolsas exclusivas: a Promisaes (Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior) e a Mérito.

Para receber a Promisaes, os estudantes passam por análise socioeconômica feita pela Pró-reitoria Estudantil (Proest) da Ufal, que também leva em consideração o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país de origem, além do critério acadêmico. “Antes, quem fazia essa seleção era o MEC, mas a responsabilidade foi repassada para as universidades. O ministério dá uma cota de bolsa, geralmente, a metade de quantitativo de alunos”, esclarece Rodrigues. “Na Ufal, estamos com uma média de 35 alunos do PEC-G matriculados e, este ano, recebemos 18 bolsas”, diz.

Segundo o gerente, a bolsa, paga pelo período de seis meses, é no valor de R$ 622. “O MEC encaminha os recursos e a Ufal realiza o pagamento”, afirma. Ele ainda reforça que a seleção para a bolsa Promisaes é semestral, portanto, é preciso se candidatar a cada seis meses. “Tanto para acompanhar o semestre quanto para oportunizar aos alunos ingressantes participarem da seleção”, salienta Rodrigues ao informar que a mais recente foi encerrada em fevereiro.

Já a Bolsa Mérito é de responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores (MRE). “A Ufal faz uma pré-seleção e encaminha os estudantes que se candidatam. Fundamentalmente, analisa-se o coeficiente de rendimento acumulado, desempenho acadêmico nas atividades de classe e extra. A análise, a seleção e o pagamento da bolsa são feitos pela equipe do MRE”, diz Rodrigues ao reforçar que a seleção também é semestral e que as duas bolsas não podem ser acumuladas, ou seja, mesmo sendo selecionado nas duas, o estudante deve optar por uma delas.

Retorno ao país

De acordo com o gerente de Projetos da Prograd, após ter colado grau, o graduado pelo PEC-G tem até três meses para voltar ao país de origem. Ele explica que o visto de permanência é temporário e que estão aqui na condição de estudante.

“Eles não pegam o diploma na Ufal. O documento é emitido pelo DRCA [Departamento de registro e Controle Acadêmico], que encaminha para o MEC para chancelar e, após, envia para o MRE. Posteriormente, segue para a embaixada de cada país. O estudante retira o diploma em seu local de origem”, explica.