Cultura alagoana e participação dos movimentos sociais são destaque na solenidade de posse

Alagoas foi representada do litoral ao sertão, pelos símbolos culturais e principalmente pela alegria do público


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Jangada com as carrancas e o painel representando o filé alagoano | nothing
Jangada com as carrancas e o painel representando o filé alagoano

Lenilda Luna - jornalista

A solenidade de posse do maior cargo da Universidade requer o cumprimento dos ritos previstos no cerimonial universitário. Mas na posse da reitora Valéria Correia e do vice-reitor, José Vieira, a formalidade abriu espaço também para as manifestações culturais e populares. A expressão dos movimentos sociais não aconteceu apenas segundo o previsto no roteiro. Em vários momentos, estudantes, professores, representantes de entidades e convidados em geral se levantaram, abriram faixas, gritaram palavras de ordem, cantaram e demonstraram a vontade de participar ativamente da cerimônia.

O planejamento da solenidade, desde a ambientação à programação cultural, foi pensada para valorizar essa participação da comunidade universitária e da sociedade. No hall da Reitoria, no Campus A.C. Simões, em Maceió, uma jangada, decorada com cactos e carrancas, se destacou na decoração. Também tinha chapéu de guerreiro no auditório e artesanato em filé no enorme painel da entrada e na mesa da solenidade.

Um dos responsáveis por organizar esse ambiente festivo e representativo da cultura popular foi o professor do curso de teatro, Ivanildo Piccoli, que assume a Coordenação de Assuntos Culturais (CAC) e a gestão do Espaço Cultural. "A concepção dessa festa parte do principio de que Alagoas deve estar representada, não só enquanto pensamento acadêmico, mas pela sua rica diversidade cultural", explicou o professor.

Piccoli procurou representar as regiões de Alagoas onde a Universidade está presente. "As carrancas representam a vida cultural da população que vive no vale do rio São Francisco. A jangada está presente tanto na vida dos ribeirinhos como na dos pescadores do litoral. O filé é reconhecido internacionalmente como uma expressão artesanal genuinamente alagoana", destacou o gestor cultural.

No auditório, as artesãs do Conjunto Graciliano Ramos estavam representadas. O trabalho manual realizado por elas é a inspiração da artista plástica Solange Arruda, a quem coube a missão de dar um toque popular as vestes talares que fazem parte do cerimonial universitário. "Fiquei muito honrada com esse convite. É tão bom saber que a nova reitora valoriza quem trabalha com as mãos. Um trabalho que já foi muito discriminado, como se só os títulos acadêmicos tivessem valor. Mas, hoje, esse saber popular é reconhecido e valorizado", ressaltou a artista.

Outro artista muito feliz, sentado com seu violão entre o público presente, foi o sambista Gustavo Gomes, que participou ativamente da campanha de Valéria Correia. Coube a ele interpretar a música Lilás, de Djavan, que foi tema da chapa representada por essa cor em todos os materiais de divulgação. "A academia não é só o erudito e tem que contemplar todas as áreas. Que bom ter a inclusão da musica popular nessa cerimonia solene", comemorou o sambista.

Além disso, o Corufal e o quinteto de cordas, que fazem parte dos equipamentos culturais da Ufal, tiveram mais uma vez uma participação destacada na solenidade. "Apresentamos um repertório eclético, de acordo com a orientação do professor Piccoli. Os cortejos dos conselheiros acadêmicos foram acompanhados de música erudita, mas preparamos algumas peças da música popular brasileira e do cancioneiro popular para essa festa de posse", informou o maestro Gustavo Lima.

Expectativa das entidades sindicais da Ufal

Na posse, além de representantes de várias entidades sindicais e populares, estavam também as entidades representativas dos três segmentos da Universidade: docentes, alunos e técnico-administrativos. André Albuquerque, coordenador geral do DCE, reafirma a autonomia da entidade, mas aposta numa relação de diálogo com a nova gestão. "Nesse sentido, a reitora já deu um primeiro passo que foi marcar uma reunião, na próxima quarta-feira, 27, com o DCE e os Centros Acadêmicos", destacou o estudante.

Emerson Oliveira, coordenador geral do Sintufal, afirmou que a expectativa do sindicato é de negociar as reivindicações da categoria. "Temos demandas acumuladas durante anos. Uma das questões que entrou no programa de campanha da nova reitora e temos um grande interesse na execução é a reserva de vagas para técnicos nos cursos de pós-graduação stricto sensu, permitindo a qualificação dos servidores", destacou o sindicalista.

Ana Vergner, eleita recentemente como presidente da Adufal, destacou que existe uma pauta em nível nacional e local que não avançou muito na última greve. "A expectativa é de uma postura de uma maior abertura para dialogar com com a categoria docente. Ao mesmo tempo, temos um sentimento de preocupação, por conta dos cortes no orçamento das universidades. Então, de certa forma, esse momento tem uma certa tensão, afinal de contas, temos uma pauta extensa, num período de dificuldades", ponderou a docente.

A luta por uma Universidade socialmente referenciada

Entre os vários convidados para a solenidade de posse, estava Maria Inês Bravo, coordenadora da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. "Fiz questão de vir do Rio de Janeiro para celebrar esse momento que representa uma vitória para os movimentos sociais. Atuei ao lado de Valéria em várias ações em defesa do SUS e fui orientadora dela no pós-doutorado", relatou a professora e pesquisadora.

Maria Inês destacou que a posse de Valéria Correia fortalece um projeto em defesa da Universidade pública, gratuita e de qualidade, socialmente referenciada. "O grupo representado por Valéria tem uma preocupação com a democratização da Universidade, com fortalecimento da autonomia da instituição, e o compromisso com os movimentos sociais. Essa foi uma eleição histórica, pois essa gestão vai viabilizar uma articulação entre ensino, pesquisa e extensão, em que os movimentos sociais serão convidados a construir uma outra Universidade", declarou ela.

A luta em defesa do Hospital Universitário (HU) cem por cento gerido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passa, segundo a estudante Morgana Torres da Rocha Silva, pelo retorno da gestão do HU à Ufal. Estudante de Serviço Social e representante do Fórum alagoano de defesa do SUS e contra a privatização da saúde, ela acredita que haverá uma transição para a retirada da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Essa é uma das muitas expectativas dos movimentos sociais representados na solenidade de posse. "A vitória de Valéria foi muito significativa para os movimentos e para a sociedade alagoana, no sentido de romper os muros da Universidade, para ampliar essa relação com a população em geral. Esse é um dever da Universidade, dar esse retorno da produção de conhecimento à sociedade. Queremos que o povo alagoano sinta-se parte da Universidade e seja contemplado por ela", concluiu Morgana.