Coral inclusivo leva música a surdos e ouvintes na 7ª Bienal de Alagoas

Melodia, afinação e sonoridades variadas não faltaram à apresentação

29/11/2015 15h31 - Atualizado em 29/11/2015 às 15h52
Grupo Vocal Canto Coral, formado por alunos da Universidade Federal de Alagoas e estudantes da rede pública estadual

Grupo Vocal Canto Coral, formado por alunos da Universidade Federal de Alagoas e estudantes da rede pública estadual

Myllena Diniz - estudante de Jornalismo com fotos de Aline Lima

Jaraguá - Um universo de sentidos para todos os públicos. Todos os sentidos. Todos os públicos. Com espírito democrático e inclusivo, a 7ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas deu espaço ao Grupo Vocal Canto Coral, formado por alunos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e estudantes da rede pública estadual. Melodia, afinação e sonoridades variadas não faltaram à apresentação, mas a grande surpresa foi a Língua Brasileira de Sinais (Libras), presente em cada nota do grupo.

A ideia surgiu a partir da professora Regla Toujaguez, do Centro de Ciências Agrárias (Ceca), e logo chegou a alunos de duas escolas estaduais. De forma despretensiosa, o trabalho foi idealizado por gente que compreende o poder do conhecimento e sabe que o papel do docente vai além da sala de aula.

Regla tinha a missão de preparar e orientar universitários contemplados com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Eles levariam práticas aprendidas nos bancos da academia para as escolas, com especial atenção para a Geografia. Logo, perceberam que adentrar no universo da docência é, também, entrar no universo do próprio aluno.

As Escolas Tavares Bastos e Onélia Campelo foram as duas contempladas pelo projeto. O que elas têm em comum? Em ambas, circulam e aprendem surdos e ouvintes. Nas mesmas salas de aula, nos mesmos corredores e no mesmo pátio, um muro invisível divide dois mundos, ainda que estejam lado a lado.

Transformar essa realidade também seria papel do professor, o protagonista da formação dos cidadãos. “Quando íamos para as salas de aula, percebíamos que os surdos ficavam isolados, não participavam das atividades. Era uma segregação silenciosa. Por isso, nos dedicamos a promover a integração desse aluno, para que ele pudesse participar de todo o processo de aprendizagem”, explicou Regla.

Para isso, escolheram a música como instrumento integrador. Segundo a professora, todos podem sentir essa arte, ainda que não a escute. Desconstruindo a ideia daqueles que poderiam considerar o projeto improvável, ela destaca: “É uma linguagem não verbal e, para torná-la acessível a todos, fazemos uso das Libras. Assim, os ouvintes têm a missão de convidar os surdos para essa integração”.

De acordo com Regla, a primeira competência do docente é possibilitar aos estudantes o contato com as linguagens verbal e não verbal. Se a tarefa parece difícil, vontade e persistência são os combustíveis para enfrentar o desafio. “É uma tarefa desafiadora, mas a gente sabe da sua importância. Hoje, o coral só conta com ouvintes, mas o meu sonho é que entrem surdos também. Eles ainda não se sentem à vontade para participar, há um bloqueio, mas estão sempre acompanhando o coral. A gente espera que eles saiam da plateia e venham para os palcos. Ao melhorar a integração por meio da música, pretendemos melhorar a integração na sala de aula”, enfatizou a professora.

Júnior Nolasco, 18 anos, é aluno do 2º ano do Ensino Médio e membro do coral. Um jovem que já entende que a vida só tem graça quando compartilhada. “A gente sempre quer incluir o surdo no mundo do ouvinte. Por que não procuramos, também, incluir o ouvinte no mundo dos surdos? É isso que estamos fazendo. Aqui, aprendemos com os intérpretes e, principalmente, com os surdos”, refletiu.