Pesquisadora desvenda origem e males da aniridia congênita

Entrevista com Ana Karolina Maia traz informações de suas investigações no Hospital Universitário

23/09/2015 15h26 - Atualizado em 23/09/2015 às 19h39
Ana Karolina Maia continua colaborando no atendimento de pacientes da Genética Médica do HU

Ana Karolina Maia continua colaborando no atendimento de pacientes da Genética Médica do HU

Jhonathan Pino – jornalista

Premiado no último ano como projeto de iniciação científica de excelência acadêmica, o Estudo clínico-etiológico de defeitos congênitos selecionados em serviço de referência em genética clínica no SUS-Alagoas continua com suas investigações. É que mesmo recém-formada, a pesquisadora, egressa do curso de Medicina, Ana Karolina Maia, não quer cortar os vínculos com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pretende sensibilizar as pessoas para um problema que tem origem congênita, mas que é agravado com a vulnerabilidade social das pessoas.

Junto com a professora Isabella Lopes Monlleó, Ana Karolina vem utilizando o Serviço de Genética Clínica do Hospital Universitário (HU) para colher dados sobre a aniridia congênita e acompanhar pessoas que apresentam essa enfermidade em Alagoas. Entre 2013 e 2014, a pesquisadora acompanhou 36 pacientes, entre cinco famílias, e identificou as características demográficas, clínicas e genéticas da doença no Estado.

Em entrevista ao Portal da Ufal, ela expôs parte dos resultados obtidos na pesquisa, como a constatação de que as desigualdades e o baixo nível de acesso aos serviços de saúde afetam negativamente tanto a prevenção quanto o tratamento da doença. Abaixo, é possível entender um pouco mais sobre a enfermidade.

Ascom – Quais são os sintomas da aniridia congênita? É possível aos próprios familiares identificarem a doença?
Ana Karolina – A aniridia congênita é caracterizada pela ausência da íris, parte que dá cor aos olhos. Associada a essa alteração podem ocorrer anormalidades em outras estruturas oculares como: embranquecimento da córnea, nistagmo [oscilações repetidas e involuntárias rítmicas de um ou ambos os olhos], estrabismo [desvio do eixo do olhar pela perda do paralelismo entre os olhos], erro de refração, ptose (queda da pálpebra superior) e fotofobia [sensação de sensibilidade ou aversão a qualquer tipo de luz]. Como consequência, as pessoas costumam ter diminuição da capacidade de enxergar. Geralmente o diagnóstico é firmado a partir de investigação clínica com equipe especializada constituída por oftalmologista e geneticista. Algumas dessas alterações podem ser suspeitadas pelos pacientes e seus familiares.

Ascom – A presença de alguém na família é fator indicativo para que uma pessoa possa tê-la?
Ana Karolina – Sim, em dois terços dos casos, a presença de um familiar com a doença revela a forma de transmissão. Os demais casos costumam ser esporádicos, ou seja, acontecem em somente um membro da família por uma mutação nova.

Ascom – Além da genética, que fatores podem causar a doença?
Ana Karolina – A aniridia congênita é causada, na grande maioria dos casos, por uma mutação no gene PAX6, que está localizado na região do braço curto do cromossomo 11 (11p13). A aniridia de origem não genética pode ser causada por traumas oculares.

Ascom – A quem uma pessoa deve procurar, se estiver com suspeitas?
Ana Karolina – Uma pessoa com suspeita de aniridia congênita deve procurar os serviços de oftalmologia e de genética para investigação diagnóstica, tratamento das outras alterações associadas à ausência da íris e aconselhamento genético.

Ascom – O Serviço de Genética Clínica do Hospital Universitário da Ufal costuma fazer o levantamento da árvore genealógica dos pacientes?
Ana Karolina – Sim. A investigação da árvore genealógica de pacientes com doenças genéticas é uma ferramenta importante na consulta do médico geneticista. Uma vez que, é uma forma gráfica de visualizar a herança de uma determinada característica genética em uma família.

Ascom – Quais são os principais males da doença?
Ana Karolina – Pacientes com aniridia geralmente apresentam baixa acuidade visual e podem apresentar complicações como catarata, glaucoma, opacidade corneana e estrabismo.

Ascom – Como é possível evitá-la ou mesmo tratá-la?
Ana Karolina – Não existe, até o momento, cura para pacientes com a aniridia congênita. Embora essa doença seja um distúrbio mal formativo de origem genética, a variabilidade clínica em termos de comorbidades, de intensidade e de velocidade da perda visual pode estar relacionada, pelo menos em parte, à qualidade da atenção à saúde oftalmológica. Portanto, o diagnóstico precoce e o acompanhamento regular com serviços de saúde especializados são fundamentais para retardar o aparecimento de outras comorbidades.