Medicina Veterinária desenvolve técnicas que aquecem agronegócio nacional

Trata-se da produção comercial de plasma hiperimune; empresa paulista J. Garcia Agropecuária já adotou as técnicas

12/08/2015 12h06
As pesquisas com cavalos são desenvolvidas pelo Grupequi em parceria com a empresa Fresenius Kabi

As pesquisas com cavalos são desenvolvidas pelo Grupequi em parceria com a empresa Fresenius Kabi

Diana Monteiro - jornalista

Com pesquisas de relevância nacional em equídeos, o curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Alagoas, instalado no Município de Viçosa, passa a ser referência no desenvolvimento de técnicas para aféreses em animais, ampliando o raio de atuação e parcerias. A aférese é um processo inovador utilizado em casos clínicos de alta complexidade e para produção de bioprodutos, cujo procedimento consiste na retirada total de um doador para obtenção de plasma, plaquetas, leucócitos ou outros hemoderivados.

Na Ufal, as técnicas plasmaférese foram desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Equídeos (Grupequi), coordenado pelo professor Pierre Barnabé Escodro, em parceria com a Fresenius Kabi. Essa é uma empresa de assistência médica global, especializada em medicamentos e tecnologias para infusão, transfusão e nutrição clínica, visando à produção de plasma hiperimune para neonatos e equinos imunodebilitados. A técnica foi padronizada pelo grupo na America Latina.

A empresa J. Garcia Agropecuária, criadora de cavalos Quarto de Milha no Brasil e nos Estados Unidos, sediada em Presidente Prudente-SP, iniciou a produção comercial de plasma hiperimune para equinos, utilizando aférese automatizada, em parceria com o Centro de Diagnóstico Veterinário Presidente Prudente, a partir dos estudos do Grupequi da Ufal.

Recentemente, o professor Pierre visitou a empresa paulista para acompanhar a produção do bioproduto a ser comercializado nacionalmente. Para o início do processo, a J. Garcia Agropecuária utilizou as referências dos trabalhos do grupo de pesquisa da Ufal, tornando-se assim a primeira a produzir o plasma hiperimune para equinos. “A visita que fiz foi bastante produtiva em vários aspectos, principalmente para parcerias e desenvolvimento de futuras técnicas”, enfatizou.

Pierre enfatiza que a meta é manter visitações periódicas ao Centro de Diagnóstico de Presidente Prudente, também destinadas a alunos integrantes do programa institucional de Iniciação Científica (Pibic) e da pós-graduação na área. “Isso nos dará oportunidade e ampliarmos o conhecimento científico e o aprendizado. Em pouco tempo, a empresa pré-incubada TEC-Animal deverá oferecer ao Nordeste a produção comercial do plasma hiperimune”, disse.

O Centro de Diagnóstico de Presidente Prudente é coordenado pelo professor Osimar Sanches, doutor em Patologia pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e pesquisador de referência na área de anatomo-patologia animal.  Entre as técnicas estão:  a do Exame PCR e o Imunohistoquímica, que se refere ao processo de localizar antígenos (e.g. proteínas) em tecidos, explorando o princípio da ligação específica de anticorpos. 

Atividades

Na mesma linha de pesquisa, Pierre Barnabé é co-orientador do professor Odael Spadeto no doutorado realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); o orientador é Rafael Faleiros, da instituição mineira. Spadeto é docente da Universidade Vila Velha (UVV), no Estado do Espírito Santo, e seu estudo é focado na utilização da leucoaférese e voltado ao tratamento da Laminite Aguda, afecção que acomete os ossos internos do casco do animal e que mais tira cavalos de esporte de atividade no mundo. A leucoaférese é a retirada dos leucócitos da circulação sanguínea do animal.

Segundo Pierre, o primeiro piloto foi realizado na Unidade de Ensino de Viçosa da Ufal, onde o animal, após o procedimento, não desenvolveu a doença, com perspectivas positivas no estudo da fisiopatologia da laminite. "Tudo ainda é muito embrionário, mas acreditamos muito nas afereses terapêuticas”, enfatizou o pesquisador.

Ações do Grupequi

O Grupo de Pesquisa e Extensão em Equídeos (Grupequi) da Universidade Federal de Alagoas é um dos mais ativos nessa área em todo o Brasil. Foi o responsável pelos três primeiros simpósios alagoanos de Medicina Equina, realizados em 2010, 2012 e 2014. Este último aconteceu junto com o Simpósio da Associação Brasileira dos Médicos Veterinários de Equídeos (Abraveq – Nordeste), em Maceió.  O grupo também é promotor do Encontro Integrador nessa área, que congrega professores e profissionais da Região Nordeste do Brasil. A 4ª edição do evento será de 6 a 8 de novembro deste ano, no Campus A. C. Simões.