Bico Singeleza de Alagoas reforça estudo para doutorado de antropólogas italianas

Renda é similar ao bordado puntino ad ago e buscar a procedência do “saber fazer” é foco de pesquisa em Alagoas e na Itália

06/07/2015 12h43 - Atualizado em 08/07/2015 às 11h12
Professora Josemary e as pesquisadoras italianas Antonella Lacovino e Vita Santore

Professora Josemary e as pesquisadoras italianas Antonella Lacovino e Vita Santore

Diana Monteiro – jornalista 

O acordo de cooperação técnica entre a Universidade Federal de Alagoas e a Universidade de La Basilicata, da Itália, firmado em 2013, trouxe recentemente para a instituição local as antropólogas e pesquisadoras italianas Antonella Lacovino e Vita Santoro. Elas estão por um período de três meses no Estado realizando o estudo de caso como parte do doutorado em andamento na instituição europeia, tendo como um dos focos a renda alagoana conhecida como Bico Singeleza. 

A renda, confeccionada unicamente em Alagoas, é similar ao Puntino Ad Ago italiano feito exclusivamente por artesãs vinculadas à Associação Cultural Il Tasselo - Latronico, na região de Basilicata, mas a hipótese de transmissão “do saber - fazer” de ambos bordados, continua desconhecida. Antonella Lacovino é doutoranda na área de Cidades e Paisagens e Vita Santoro faz o curso na área de Antropologia com enfoque em Linguística e integram departamentos específicos da Universidade de Basilicata que cedeu bolsas de estudos para a pesquisa em Alagoas. A orientação da pós-graduação é do professor Ferdinado Mirizzi que teve importante contribuição para a concretização do acordo de cooperação técnica firmado entre as duas instituições. 

Ferdinando propôs o convênio com a Ufal também com a finalidade de solicitar à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a inscrição (denominada de candidatura multinacional) da Singeleza alagoana e do bordado Puntino como bens culturais. As pesquisadoras destacam que os estudos realizados fortalecem a parceria e consistem ainda em um importante suporte para alcançar o objetivo. “Estamos analisando a possibilidade de fazermos a candidatura entre a Singeleza de Alagoas - Brasil e o Puntino ad Ago, da Itália. As pesquisas que fazemos em Alagoas para o doutorado são mais um suporte ao dossiê a ser entregue à organização internacional”, reforçou Vita Santoro. 

Inovação 

Para o estudo local, as antropólogas têm como tutora a professora Josemary Omena Passos Ferrare, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), do Programa de Pós-graduação de arquitetura e Urbanismo e coordenadora do projeto “(Re)bordando o Bico Singeleza”. Além de registros documentais já disponíveis em Alagoas, as doutorandas têm visitado os municípios alagoanos onde aparecem o “saber fazer singeleza” que são: Marechal Deodoro, Água Branca, Coqueiro Seco, Paulo Jacinto e Paripueira, referência do bordado em peças tradicionais. 

Atualmente, na inovação da tradição, artesãs locais vêm também utilizando o trabalho em adereços, como colares, braceletes, brincos, bolsas, em peças decorativas, a exemplo de luminárias e caixas de madeiras revestidas comercializados em lojas de artesanatos da capital. 

O estudo na área de cidades e paisagens de Antonella Lacovino tem também como campo de pesquisa o Museu Théo Brandão, pela exposição que faz utilizando peças da Renda Singeleza. Na Itália, Antonela foi diretora do Museu do Termalismo Il Latronico, localizada na região de Basilicata, que mantém uma exposição permanente com peças Singeleza/Puntino. Elas aproveitam para destacar o acolhimento recebido no Estado e da importante contribuição do farto material resultado da pesquisa local cedido pela tutora Josemary, para agilização do estudo de caso e do doutorado em andamento. 

Dossiê 

Sobre a atuação das pesquisadoras, a professora Josemary Ferrare enfatiza a importante contribuição para dotar de mais subsídios o dossiê que se encontra no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília, com o objetivo de tornar o bico Singeleza Patrimônio Imaterial do Brasil. 

O instituto aprovou parcialmente o dossiê e faz a solicitação de mais dados relacionados à procedência da renda. “Apesar de a renda alagoana ser similar ao bordado puntino ad ago, não dar para afirmar que a procedência do “saber fazer” seja italiana. Em Alagoas não existe reduto de colonização italiana, e na Itália a única localidade que tem o bordado é em Il Latronico”, destacou Josemery. 

Integram também a equipe alagoana do projeto (Re)bordandoo o Bico Singeleza, as pesquisadoras Arrizete Costa e Rachel Rocha, da Ufal, e as arquitetas Nímia Braga e Adriana Guimarães, ambas graduadas na Ufal. O acordo técnico entre a Ufal e a Universidade de Basilicata transcorrerá até 2018, com possibilidades de renovação. 

Resgate Cultural 

A aproximação da Ufal com a comuna Latronico, onde fica a Associação Cultural Il Tasselo, proporcionou à professora Josemary Ferarre a visitar em 2012 a Associação Cultural Il Tasselo para tratar sobre o bico Singeleza de Alagoas e do Puntino ad ago italiano. Em 2013 a pesquisadora alagoana participou de um concurso público “La finestra piú bela Latronico”, na citada associação que teve boa repercussão e mobilizou a comunidade local. 

As peças confeccionadas em Alagoas foram expostas na vitrine da associação com o objetivo de mostrar à população a extrema similaridade entre as duas rendas. Outro espaço para exposição é o Museu do Termalismo em Latronico.