Cooperação técnica entre a Ufal e universidade italiana pesquisa artesanato similar nos dois países

Antropologa Vita Santoro participa da comissão que vai solicitar reconhecimento multinacional do Bico Singeleza como Patrimônio Cultural junto à Unesco

10/04/2015 11h59 - Atualizado em 10/04/2015 às 14h50
Pano de mesa no bico Singeleza

Pano de mesa no bico Singeleza

Lenilda Luna - jornalista 

Quando a arquiteta e professora da Universidade Federal de Alagoas, Josemary Ferrare, iniciou a pesquisa sobre o ponto Singeleza, em 1994, ela não imaginava a repercussão internacional que esse projeto teria. Dona Marinita, uma das últimas bordadeiras a deter esse conhecimento, estava com mais de 80 anos, na época, mas tinha medo que esse "saber" desaparecesse com a morte dela.

O resgate do Bico Singeleza mobilizou uma equipe de pesquisadores da Ufal para que o ensinamento fosse repassado às novas gerações e documentado como saber popular. As pesquisas alcançaram o outro lado do oceano e pesquisadoras italianas, que estavam fazendo o mesmo trabalho de resgate e reconhecimento do Puntino ad Ago, encontraram similaridades entre os dois modos de fazer. 

O Bico Singeleza produzido em Marechal Deodoro era muito utilizado em peças de enxoval como lençóis, toalhas de banho, lenços de bolso e peças de vestuário íntimo feminino. O Puntino ad Ago também é tradicional em Latronico, cidade italiana da região de Basilicata. Desde que Josemary Ferrare fez contato com as artesãs e pesquisadores de lá, foram muitas viagens, trocas de informações, pesquisas conjuntas e a tentativa de descobrir se o Puntino ad Ago e a Singeleza têm uma origem comum. É para aprofundar essa investigação que a antropóloga italiana, da Universidade de Basilica, Vita Santoro, está na Ufal, desde o início de março até junho deste ano.

Acordo de Cooperação Técnica

O Acordo de Cooperação Técnica foi firmado em agosto de 2013 entre a Universidade de Basilicata (Unibas) e a Ufal, intermediado pela Assessoria Internacional da Ufal (ASI). A pesquisa da antropóloga Vita Santoro está sendo realizada sob a supervisão da professora Josemary, do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. "O estudo desses dois casos, o Puntino ad Ago e a Singeleza integram a pesquisa de doutorado que tem como finalidade embasar cientificamente o pedido para reconhecimento e registro na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Convenção da Unesco", relata a antropóloga italiana. 

A hipótese levantada pelas pesquisadoras Josemary Ferrare e Vita Santoro é que a transmissão do saber e a técnica do bordado Singeleza foi feito por meio da migração italiana para o Brasil. "O Puntino ad Ago de Latronico, Itália, tem características do fazer técnico do bico e renda Singeleza ocorrentes em Alagoas. A semelhança entre os dois modos de saber-fazer sugere que pode ter havido, no passado, alguma forma de transmissão de conhecimento entre italianos e alagoanos. O foco da pesquisa já em curso abrange a dinâmica de transmissão desse saber-fazer em pequenos municípios do Estado, como Marechal Deodoro e Água Branca, onde é identificado e produzido", destacam as pesquisadoras. 

Elas buscam identificar as características da "comunidade de herança" ou "comunidades de prática" que se construíram em torno do objeto cultural, o bordado Puntino ad Ago, que é o elemento de estudo, "Queremos analisar, ainda, os níveis de participação e os processos de atribuição de novas funções que superem as exclusividades das formas de uso no passado, para ajudar na sobrevivência desse saber tradicional que apresenta necessidade de proteção e valorização. Os materiais e toda a documentação consultada durante a minha estada em Maceió serão utilizados para escrever o dossiê para o processo de candidatura multinacional para a inscrição na Lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco", garante Vita Santoro.