Professora da Ufal é a primeira do Nordeste indicada para a Academia Nacional de Ciências

Marília Goulart será o segundo docente da Universidade indicada membro titular da Academia

13/03/2015 09h21 - Atualizado em 13/03/2015 às 16h58
Marília Goulart é casada com o professor do IQB, Euzébio Goulart

Marília Goulart é casada com o professor do IQB, Euzébio Goulart

Jhonathan Pino - jornalista

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, uma das professoras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) fala sobre sua indicação como membro titular da Academia Nacional de Ciências, na área de Ciências Químicas. Marília Goulart é a primeira docente mulher do Nordeste, indicada para a função. No próximo dia 5 de maio, ela tomará posse em uma reunião Magna, realizada no Rio de Janeiro.

Sua indicação se deve às inúmeras contribuições que a docente vem desenvolvendo na área de bioeletroquímica e por sua atuação no Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Ufal. Como ela, os membros componentes da Academia, existente desde 1916, são selecionados por sua relevância em diferentes áreas científicas, sejam elas da Matemática, Física, Química, Biológica, Biomédica, Agrária, Humanas, da Terra, da Engenharia ou da Saúde. Todos são escolhidos com a missão de estimular e mobilizar a comunidade científica no país e representá-lo internacionalmente.

Marília será a segunda docente da Universidade a tomar posse como membro titular na Academia, o primeiro foi Hilário Alencar, em 2007. O professor do Instituto de Matemática (IM) relatou que existe um olhar diferente e de respeito dos colegas para aqueles que são indicados para Academia. “Do ponto de vista do professor, certamente um dos fatos mais almejados na sua carreira, é ser eleito membro titular na Academia Brasileira de Ciências. Isso é extremamente relevante. É um dos reconhecimentos máximos. E esse fato se torna ainda muito mais forte, quando você trabalha, e vive, num estado do Norte, Nordeste, como é o caso de Alagoas”, destacou.

Para ser eleita, Marília passou por três etapas da seleção: primeiro um membro propôs o nome, sem que ela necessariamente soubesse; depois, o nome passou por uma comissão de seleção dos candidatos, onde todos os membros da Química votaram; no final, todos os membros da Academia, independente da área, participaram do pleito, na escolha dos novos membros.

Se a grande parte dos membros da Academia é formada por pesquisadores de instituições do centro-sul do país, as assimetrias são ainda maiores quando a questão é de gênero. Na área de Ciências Químicas, por exemplo, dos 57 membros atuais, apenas dez são mulheres e nenhuma delas trabalha na região Nordeste do país. Para o professor Hilário, isso se deve às dificuldades na área de educação da região. “Certamente, do ponto de vista profissional, foi uma das maiores alegrias quando eu tomei conhecimento que tinha sido eleito membro titular da Academia. No meu caso, como no da Marília, nós fizemos praticamente toda a nossa carreira profissional na Federal de Alagoas. Fomos criados aqui e tenho certeza que isso é uma coisa de muito orgulho tanto para mim, quanto para Marília”, disse.

As recompensas de quatro décadas no IQB

Como todo científico tem uma trajetória pessoal, a de Marília começou com o que normalmente seria o fim de uma jornada: uma pequena placa de aluno destaque do primário, em 1964, na Escola São Tomás de Aquino; concedida a uma mineirinha, na capital Belo Horizonte. Uma década depois, seria a vez do segundo título, o da graduação em Farmácia.

Dez anos se passaram até que recebeu o título de doutora em Química, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e o Prêmio Jovem Cientista, em 1984. Entre um e outro reconhecimento, a mineirinha cresceu, casou com um farmacêutico; mudou de estado e entrou na Ufal, onde iniciou um longo casamento com a Química.

Desde que Marília entrou na Ufal, em 1976, já se passaram quase 40 anos. Os frutos poderiam ser contados a partir do número de doutores que orientou, pois já são duas dezenas; nos programas de mestrado e doutorado que ajudou a construir, atualmente o respeitado Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB); ou mesmo, na formação de seu filho, Henrique Goulart, hoje também doutor em Química pela UFMG e docente do Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal.