Campanha nacional em defesa do Rio São Francisco marca em Alagoas o Dia Mundial do Meio Ambiente

As atividades serão em Penedo, nesta terça-feira, 3 de junho, contemplam no Baixo São Francisco os estados de Alagoas e Sergipe, com a campanha "Eu Viro Carranca Prá Defender o Velho Chico


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Anivaldo Miranda fala para vários públicos no Brasil sobre a Bacia Hidrográfica do São Francisco e seus projetos | nothing
Anivaldo Miranda fala para vários públicos no Brasil sobre a Bacia Hidrográfica do São Francisco e seus projetos

Diana Monteiro - jornalista  

Na passagem do Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, o foco das atenções será para a  manifestação em defesa do Velho Chico, nesta terça-feira, 3 de junho,  simultaneamente em vários trechos do Alto, Médio e Baixo  São Francisco. Entre Alagoas e Sergipe, as atividades se serão na histórica cidade de Penedo.  A programação, que vai de debates a caminhadas e apresentações artísticos culturais, terá seu ponto alto com a caminhada simbólica de “levar”  água ao rio que vive graves problemas em consequência da degradação ambiental. 

O presidente do Comitê da Bacia do São Francisco, Anivaldo Miranda, informa que as mobilizações desta terça-feira serão   em vários trechos do São Francisco, porém, com maior ênfase no entorno do Lago de Três Marias, em Minas Gerais; no município de Barreiras, no Oeste baiano; no polo agrícola de Juazeiro e Petrolina, entre Bahia e Pernambuco; e na  cidade de Penedo, na região do Baixo São Francisco. Danças indígenas, peixamento com espécies endêmicas e atividades culturais integram também a programação do dia. 

O objetivo maior da manifestação é conscientizar as populações da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco acerca dos problemas de degradação ambiental que atingem duramente esse ecossistema. “Precisamos alertar essas populações e a opinião pública nacional sobre o grande potencial de conflitos já existentes em torno do uso das águas são franciscanas, o que poderá se agravar significativamente se o poder público, os usuários da água e a sociedade civil  não produzirem com brevidade um pacto pela recuperação hidro ambiental da bacia, pelo aumento da quantidade e da qualidade das águas, pela melhoria da gestão dos recursos hídricos e pelo uso racional das águas", destaca Anivaldo Miranda. 

O Comitê Hidrográfico da Bacia do Rio São Francisco (CHBRSF), que tem a frente o jornalista e ambientalista alagoano, é composto por 62 membros, entre representantes governamentais, ongs e sociedade civil. A Universidade Federal de Alagoas é representada pelo professor Melchior Nascimento, do Instituto de Geografia e Meio Ambiente (Igdema).   

Informações sobre o Comitê e Campanha no www.cbhsaofrancisco.org.br

Assoreamento e degradação da Bacia 

A estiagem se estende desde o ano de 2013,  considerada pelos estudiosos  a pior  dos últimos 50 anos, com impactos negativos e a diminuição do volume útil dos reservatórios que garantem a geração de energia elétrica. "O risco dos apagões por enquanto está sendo inteiramente descartado pelo setor hidrelétrico. Mas o preço a ser pago para afastar esse risco está custando muito caro para os demais usuários das águas do rio, muito embora o setor elétrico tenha outras alternativas menos traumáticas dentro do próprio sistema interligado brasileiro", enfatiza o ambientalista. 

A degradação ambiental do Rio São Francisco também é consequência  do assoreamento decorrente da derrubada das matas ciliares e da contaminação pelas redes de esgotos. Recursos destinados ao Programa de Irrigação são irrisórios para dar conta da enormidade de problemas e desafios que o Velho Chico e seus afluentes estão enfrentando. “Para reverter o  cenário desolador,  algumas ações  tímidas de revitalização  estão em marcha, a maioria esmagadora delas financiadas pelo poder público, mas o volume de recursos é até hoje irrisório”, reforça Anivaldo Miranda. 

Segundo o presidente do Comitê do São Francisco, as vazões regularizadas depois da construção das barragens hidrelétricas cobraram alto preço ambiental ao ecossistema, potencializando problemas bem mais antigos como o desmatamento das matas ciliares, tanto nas margens do rio  com nas margens de seus afluentes. A expansão desordenada das fronteiras agrícolas para a implantação da grande agricultura de irrigação também  agravou problemas de compactação dos solos, contaminação das águas superficiais e subterrâneas com agrotóxicos, intensificação da pressão sobre os aquíferos,  perda de biodiversidade, intrusão salina na Foz do São Francisco e um sem número de outras mazelas decorrentes do uso irracional das águas e da ocupação desordenada do solo. 

Revitalizar ou transpor? 

Sobre o polêmico Projeto de Transposição do Rio São Francisco executado pelo Governo Federal para garantir a segurança hídrica de 12 milhões de pessoas em 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, Anivaldo Miranda ressalta que no mundo inteiro a nova cultura das águas estabelece que transposições devem sempre ser encaradas como a última das soluções recomendáveis para resolver problemas de escassez hídrica. “Estamos em uma época em que a lógica da gestão dos recursos hídricos passa a ser dirigida cada vez mais pela ótica da “produção” de água (gestão sustentável) e não pela lógica do seu consumo, sobretudo se esse consumo for feito de forma irracional ou mediante custos econômicos e ambientais abusivos”.