Pesquisadores questionam revolução do ensino a partir dos cursos on-line

Debate ocorreu durante Congresso da Sociedade Brasileira de Computação e colocou em xeque o ensino a partir dos MOOCs

25/07/2013 13h10 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h31
Mirela Moro, José Palazzo, Ronaldo Mota e Itana Maria, durante seminário

Mirela Moro, José Palazzo, Ronaldo Mota e Itana Maria, durante seminário

Jhonathan Pino - jornalista

José Palazzo, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Ronaldo Mota, do Institute of Education da Universidade de Londres, e Itana Maria Gimenes, do Departamento de Informática da Universidade Estadual de Maringá, abriram o 43º Seminário de Computação na Universidade, com o debate sobre cursos on-line aberto e massivo, do inglês Massive Open Online Course (MOOC). O evento fez parte do 33º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, realizado entre os dias 23 e 26 de julho, em Maceió-AL, e apontou visões opostas sobre as consequências da tecnologia para o ensino tradicional.

Mediados por Mirella Moro, diretora de Educação da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), os professores tiveram que responder a questionamentos sobre a disseminação dos MOOCs nas universidades. Eles também trataram de especulações sobre a destruição da academia, a defasagem dos alunos e a entrada do Brasil na “onda dos MOOCs”.

Para os iniciantes, Itana explicou que os MOOCs são uma nuvem que está inserida em um contexto das tecnologias Web. 2.0, marcadamente de softwares livres e posicionando-se a favor da Ciência Aberta. De acordo com a professora, os MOOCs, presentes na educação aberta e híbrida, são diferentes dos cursos on-line tradicionais, por apresentarem maior dinamicidade, gratuidade e maior abertura para seus usuários.

“Os voos são livres, o aluno se utiliza dele da forma que quiser, os MOOCs têm parâmetros diferentes dos cursos face to face [presenciais] e tampouco significa o fim das universidades”, defendeu a palestrante.

Itana também relatou que a tecnologia surge em um momento em que as estruturas tradicionais de ensino estão abaladas, marcada pela diferença de gerações no contato com as ferramentas, pela autonomia e habilidade dos usuários na busca dos saberes e pela possibilidade da diversificação de leituras. “Hoje a aprendizagem está presa apenas à leitura dos livros? Será que os vídeos e outras mídias existentes não são formas diferentes de leitura?”, questionou a professora.

Revolução do ensino

A pesquisadora acredita que a interatividade, o compartilhamento das discussões e a cooperação entre os pares seriam medidas capazes de revolucionar o modelo atual de ensino. Posicionamento comungado por Ronaldo Mota, que ressaltou que as tecnologias digitais são os grandes transformadores da educação depois da criação dos livros. “O século 21 trouxe uma novidade: a integração das mídias. As mudanças que acontecerão a partir daqui são imprevisíveis”, defendeu Ronaldo.

Pensamentos adversos

Os primeiros palestrantes não estavam em total consonância com José Palazzo, que abordou os MOOCs como fruto de uma estratégia de marketing das universidades europeias e americanas e como saída para suas crises financeiras. Palazzo relatou que essa onda favorável às ferramentas de educação aberta era fruto de um deslumbramento pela tecnologia. “A tecnologia serve de apoio ao ensino, mas não é elemento central para revolucioná-lo. Os cursos de Computação necessitam ter disciplinas de humanidades em seus currículos para fazer com que as tecnologias sejam bem utilizadas”, reiterou o terceiro palestrante, que pontuou que o Brasil não deveria entrar nessa “onda”.