Pesquisador desenvolve técnica e melhora conservação da polpa de mangaba

Experimentos evitaram perda de qualidade e redução de custos no processo de fabricação


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José Harlisson Ferro concluiu as pesquisas em 2012

Jhonathan Pino - jornalista

Diante da baixa resistência de diversas culturas, durante o processo de colheita, transporte e manipulação, uma saída para a comercialização dos frutos popularizados no Brasil foi a sua conservação a partir de polpas. Apesar de solucionar grande parte dos problemas, os danos causados na colheita ocasionam a reprodução de microrganismos que alteram a qualidade do produto final. Tentando otimizar toda essa cadeia, um dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Agronomia utilizou técnicas combinadas como experimento para melhorar a resistência da polpa da mangaba.

O resultado possibilitou a conservação das polpas em até 90 dias, sem onerar os produtores. José Harlisson Ferro, com orientação do professor Eurico Lemos, aplicou a pasteurização convencional e aplicação de constituintes químicos na fruta em processamento. “Foram incluídos ao processo de fabricação convencional a pasteurização “hot filling”, a 80° C, durante três minutos, e outros tratamentos foram também incrementados com o benzoato de sódio e metabissulfito de potássio. Observou-se também diferentes temperaturas de estocagem, congelamento a -18° C e resfriamento a +8° C”, detalhou o mestrando.

Apesar de a medida de pasteurização ser muito comum em outros estados, ainda é um recurso pouco utilizado em Alagoas. Ela reduz os custos de conservação do produto, ao mesmo tempo em que eleva o seu tempo de vida. “Já a adição de constituintes químicos, embora contribua para melhoria da conservação, tira o mérito de produto integral, logo, o uso tem se restringido à indústria de sucos prontos”, acrescentou o pesquisador.

Eficácia da experiência

Os resultados passaram por análises físico-químicas, microbiológicas e sensoriais, ao longo de 90 dias, feitas por bolsistas e colaboradores dos laboratórios de química, microbiologia e análise sensorial, nos campi  do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Maceió e em Satuba. Assim, ficou constatado que é possível reduzir até 99,4% dos microrganismos que resistem à sanitização com hipoclorito de sódio no processo de lavagem.

De acordo com o pesquisador, a partir dos métodos combinados foi possível assegurar a qualidade microbiológica da polpa, sem afetar as características sensoriais, como o sabor, o aroma e a aparência. “É importante salientar que as polpas produzidas convencionalmente foram analisadas e estavam em conformidade com a legislação vigente”, destacou.

Segundo Harlisson, com o processo, é possível manter o elevado padrão de segurança alimentar do produto, além de sanar os problemas de contaminantes oriundos do campo, pelo modelo de exploração extrativista da mangabeira, sem a adição de produtos químicos na polpa. “Pois as formas supracitadas condicionam um produto natural com grande estabilidade. Além disso, as polpas de mangaba poderão ser estocadas por pelo menos 90 dias, em condições de refrigeração, com temperatura de 8° C”, revelou.

Importância da mangaba na economia local

A dissertação aponta que a mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma espécie nativa das regiões tropicais do Brasil, que cresce e se desenvolve bem, mesmo em solos de baixa fertilidade. No Nordeste, as maiores quantidades desta frutífera se encontram em áreas litorâneas e nos tabuleiros costeiros.

Seu valor nutritivo possui grande aceitação para o consumo in natura; no entanto, o fato de ser uma fruta bastante perecível dificulta sua comercialização para as agroindústrias de polpas de frutas, produtoras de derivados como sucos, sorvetes e geleias.

Na opinião de Harlisson, a sazonalidade, aliada à alta procura, diminuição gradativa da cultura e a inexistência de cultivos melhorados tecnologicamente fazem com que o preço da mangaba tenha elevação constante. Para ele, todos esses fatores são estimulantes à busca por alternativas de redução de custos, sem a alteração da qualidade do produto.