Especialistas de várias regiões do Brasil analisam conceito de Cidades Inteligentes

Painel realizado na tarde de quarta-feira (24) foi um dos mais concorridos do Congresso de Computação

25/07/2013 19h32 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h31
Aldri Luiz dos Santos, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná

Aldri Luiz dos Santos, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná

Lenilda Luna - jornalista

O tema central da 33ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Computação é "Cidades Inteligentes: desafios para a computação". Esse foi o assunto de um dos painéis mais concorridos do evento. Na quarta-feira (24) à tarde, o teatro Gustavo Leite estava lotado de pessoas interessadas em saber mais sobre como a computação tem sido aplicada na prática para tornar as cidades mais adequadas às necessidades dos cidadãos, como melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem em grandes centros urbanos, onde os problemas são mesmo desafiadores.

Como colocou a comissão organizadora do Congresso, as novas tecnologias devem impactar na rotina das cidades de forma a torná-las mais humanas e não mais automáticas. "A SBC definiu Os Grandes Desafios Científicos da Computação para a próxima década, com o objetivo de prover diretrizes de pesquisa a longo prazo na solução de problemas de significativa relevância para o Brasil e para o mundo". Nesse propósito, especialistas com experiências diferenciadas sobre Cidades Inteligentes fizeram suas reflexões durante o Seminário sobre Computação na Universidade.

Participaram deste painel: Aldri Luiz dos Santos, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná; Eduardo Freire Nakamura, da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica; Célio Vinicius Neves de Albuquerque, do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense; e Juliana Salles, da Microsoft Research. O debate foi moderado por  Antônio Alfredo Loureiro. Os palestrantes abordaram, dentro de cada realidade, levando em consideração as questões específicas, como é possível planejar soluções tecnológicas para que as cidades possam ser sustentáveis economicamente, preservando riquezas, como os recursos naturais e a qualidade de vida dos cidadãos.

Aldri Santos propôs reflexões sobre o próprio conceito de Cidades Inteligentes, colocando exemplos mundiais e questionando: para tornar uma cidade inteligente, basta informatizá-la? E no Brasil, qual seria a nossa prioridade? Mobilidade urbana, já que as questões de trânsito e de acessibilidade são uma reclamação geral? Ou seria uma gestão mais eficiente da Saúde Pública? Ou quem sabe a questão de segurança? Será que espalhar câmeras de monitoramento pelas ruas contribui para diminuir os índices de violência? Ou colocar notebooks nas salas de aula vai melhorar a educação? O palestrante fez referência inclusive as manifestações recentes dos jovens em todo o país. "Não temos um padrão Fifa nos serviços públicos, por isso, precisamos contribuir para buscar soluções viáveis para nossas cidades", destacou o pesquisador.

Aldri também ressaltou que a aplicação de projetos inovadores só podem acontecer se forem estabelecidas parcerias. "A aplicação das TICs tem que acontecer de forma integrada, para alcançar uma gestão pública mais eficiente. Além disso, a elaboração das propostas tem de levar em consideração desafios que precisam ser superados, como a nossa dependência de hardwares e dispositivos importados da Ásia. Mas estes problemas são também oportunidades: o desenvolvimento de hardwares e de tecnologia nacional é um campo aberto para os novos pesquisadores explorarem. Além disso, só a necessidade de elaborar projetos já proporcionou uma importante interação entre diversos grupos de pesquisa no Brasil", indicou o palestrante.

Logo após a palestra de Aldri, o pesquisador Eduardo Nakamura começou a exposição dele com relatos bem-humorados sobre como as pessoas se impressionam, por desconhecimento da realidade das regiões Norte e Nordeste, com as demandas para Tecnologias da Informação no Amazonas, onde ele realiza as pesquisas. "Já brincaram comigo, duvidando da ocorrência de congestionamentos no trânsito de Manaus. Mas esse problema não é privilégio da região sudeste. Em Manaus, eu já levei mais de uma hora de carro para fazer o percurso de casa até o trabalho. Mesmo nas cidades mais afastadas do eixo sul-sudeste, hoje temos que enfrentar o desafio de tornar as cidades mais inteligentes", disse Nakamura. 

Para ele, os grandes desafios para a Computação se relacionam ao aspecto humano. "Precisamos humanizar as cidades, e, para isso, é preciso enfrentar os problemas em saúde, segurança e mobilidade urbana", concluiu o pesquisador.