Ufal participa de estratégias nacionais e internacionais para promover a igualdade racial

Com 30 anos de existência o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) tem um trabalho reconhecido e é convidado para participar da formulação de políticas

03/12/2012 11h03 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h36
Professora Clara Suassuna

Professora Clara Suassuna

Lenilda Luna - jornalista

O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal de Alagoas está se preparando para comemorar os 30 anos de criação. Além das festas e homenagens, o mais importante para os integrantes do grupo  é o reconhecimento do trabalho. "Somos o núcleo de pesquisa mais antigo da Ufal e um dos mais atuantes", destaca a coordenadora Clara Suassuna. Com este dinamismo, ela participou recentemente de duas importantes reuniões para a promoção da igualdade étnico-racial no Brasil e no mundo.

Um deles foi o seminário internacional sobre Educação nas relações étnico-raciais, promovido pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e pela  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Brasília,  nos dias 29 de outubro a 1 de novembro. Representantes de vários países, com diferentes indicadores sociais e processos culturais estavam representados. Desde a Palestina, que vive um período de conflito extremo por questões territoriais e religiosas, até países de primeiro mundo, como o Canadá.

O seminário abordou as políticas públicas e estratégias para a superação de conflitos e preconceitos com motivações raciais, étnicas e religiosas, em particular, os programas de formação de professores, conteúdos curriculares e ações afirmativas. A Ufal participou de algumas discussões sobre a participação da universidade no programa do Governo Federal, Juventude Viva, que foi lançado primeiro em Alagoas, no dia 27 de setembro "Percebemos que os representantes da Unesco ficaram muito satisfeitos com os projetos que estão sendo desenvolvidos no Brasil e com a maturidade dos grupos que atuam nos movimentos sociais", ressaltou Clara Suassuna.

O seminário trouxe contribuições para o trabalho desenvolvido pelo conselho consultivo da Unesco, que pretende elaborar um programa mundial de educação para a igualdade, respeitando as diversidades culturais e ideológicas. O Conselho é formado por representantes dos Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica, República da Coréia, Uganda, Cisjordânia, África do Sul, Rússia, Suíça e Brasil. Foram debatidos os avanços na legislação brasileira, para garantir uma educação para a igualdade, com a lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira em todas as escolas brasileiras, complementada pela lei 11.645/2008. O programa nacional da Unesco deve ser lançado em janeiro do próximo ano, aqui no Brasil.

As experiências que obtiveram algum êxito em todo o país foram apresentadas em vários painéis durante a programação. "Foi muito bom perceber o reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelas universidades nordestinas, em especial, a participação dos pesquisadores que tiveram uma atuação destacada aqui em Alagoas, como Moisés de Melo Santana, que já foi diretor do Neab e hoje é titular da  Comissão  Técnica  Nacional  de  Diversidade para  Assuntos Relacionados  à Educação dos Afro-Brasileiros (Cadara)", ressaltou Clara.

Juventude Viva

Agora no final de novembro, nos dias 27 e 28, Clara Suassuna voltou à Brasilia para participar do seminário de lançamento nacional do programa "Juventude Negra, Juventude Viva", uma articulação interministerial para enfrentar a violência crescente envolvendo homicídios de jovens negros em todo o Brasil. O Plano que integra 25 programas federais voltadas para a população negra mais jovem foi lançado primeiro em Alagoas, porque o Estado ocupa a primeira posição em taxa de homicídios contra a população em geral e contra negros no país. A reunião em Brasília foi convocada pelo Ministério da Cultural para debater os aspectos culturais desta ação.

 

Com relação ao plano, Clara Suassuna ressaltou que a universidade vai colaborar fortalecendo ações que já são desenvolvidas. "Na Ufal, temos uma política de cotas pioneira e que serviu de exemplo para as ações afirmativas nacionais, temos a assistência jurídica aos apenados do sistema prisional e várias outras ações voltadas para as comunidades do entorno do campus Maceió, que podem ser articuladas com as ações do governo estadual em municípios do interior de Alagoas e bairros da capital com os índices mais altos de violência", explica a presidente do Neab.

Preparativos para a festa de 30 anos

Em meio a tantas atividades, o Neab também prepara as comemorações dos 30 anos de atuação do Núcleo. "Definimos que a data da festa será 21 de março do próximo ano, por ser o Dia Mundial de Combate à Discriminação Racial", informa Clara Suassuna. O evento vai contar com uma vasta programação cultural e também vai homenagear personalidades e pesquisadores que contribuíram com a história do núcleo.

Apesar do reconhecimento nacional e até internacional, que motiva a convocação dos representantes do núcleo para várias ações e projetos, o Neab ainda se ressente com a pouca estrutura. "Temos uma sala no Espaço Cultural que não comporta o tamanho da nossa atuação. Precisamos de mais espaço para a realização de oficinas, cursos de capacitação e outras atividades desenvolvidas pelo núcleo", esclarece Clara.

Para o próximo ano, o Neab já conta com projetos aprovados, com recursos de Ministério da Educação, para registrar a memória das comunidades quilombolas de Alagoas. "Vamos fazer um registro de história oral. Serão os próprios quilombolas a contar a história deles. Depois faremos uma publicação e um CD com essas memórias", adianta Clara Suassuna.