Estudo indica que Semifeudalidade mantém Usineiros no poder do Estado

Grupo de Pesquisa de Serviço Social aponta manutenção de relações típicas do Brasil Colonial

28/12/2012 14h40 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h36
Professor Nascimento e Fernando Milton acreditam que só a mobilização agrária é capaz de acabar com opressão no Estado

Professor Nascimento e Fernando Milton acreditam que só a mobilização agrária é capaz de acabar com opressão no Estado

Jhonathan Pino - jornalista

Na edição de 16 de dezembro de 2012, a edição da Gazeta de Alagoas chamou a atenção dos seus leitores para o predomínio econômico e político dos usineiros e apontou o controle do estado alagoano nas esferas executivas, legislativa e judiciária pelos “Senhores” das terras alagoanas. Os dados não surpreendem a população, que mostra-se cética diante de mudanças, mas corroboram com a pesquisa do Grupo Cultura, Identidade e Movimentos Sociais da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas, que encontra no Capitalismo Burocrático a causa para a manutenção de valores pré-coloniais nas relações de trabalho e de poder em Alagoas.

Para o grupo, a exemplo de outras regiões do mundo, o Capitalismo Burocrático em Alagoas foi formado a partir do fornecimento de capital por multinacionais, sem que houvesse o interesse político delas para a modificação da estrutura agrária, mantendo na região os pilares presentes em períodos pré-coloniais, como a semifeudalidade e a semicolonialidade.

“Semifeudalismo” é o termo utilizado pelo grupo para a “existência de relações de produção pré-capitalistas, cuja sustentação é o capital proveniente dos grandes latifúndios, bancos, monopólios, que é controlado pelo imperialismo”. Essa definição foi utilizada pelo aluno Fernando Milton, em relatório do projeto de pesquisa “Semifeudalidade em Alagoas: origens e expressões atuais”, orientado pelo professor voluntário José Nascimento, da Faculdade de Serviço Social (FSSO).

Fernando relata que muitos consideram o termo antiquado para o atual estágio da economia, no entanto elementos do semifeudalismo, como concentração agrária e o mandonismo persistem na realidade alagoana desde a época em que o Brasil era formado por Capitanias Hereditárias. “Há meeiros, trabalho por produção; a corveia, instrumento tradicional da idade média, em que os servos prestavam serviços gratuitos ao senhor feudal, foi utilizada em Alagoas em tempos ainda recentes, com outra denominação, isto é, com outra roupagem e adaptada ao mundo contemporâneo”, detalha Fernando.

Junto com os estudantes Felipe Santos e Mônica Silva, o grupo pesquisou não só as relações de trabalho, mas como a violência, a justiça e o poder público estão a serviço da manutenção do poder dos usineiros. “É importante lembrar que nos dias atuais, ao deixar de fornecer cana para uma determinada usina, o fornecedor é obrigado a levar uma declaração desta para a outra usina em que pretende moer suas canas, afirmando que já não é mais fornecedor da primeira. Constata-se, claramente, o caráter controlador dos usineiros”, acrescenta Fernando.

O Estado a disposição dos usineiros

Conforme a pesquisa, as políticas públicas são feitas para servir aos latifúndios. A crise ocorrida no estado na década de 90, culminando com mobilização da população em julho de 1997, e a derrubada do Governador Divaldo Suruagy, seriam frutos das constantes desonerações da indústria sucroalcooleira.

Além do declínio econômico da população, a falta de recursos para saúde e educação seriam reflexos desta política subserviente aos latifundiários. “A falta de tudo para a população gerou o efeito de favelização e aumento da violência no Estado. A discussão atual que o Estado tem sobre a violência também não é levada a sério, é mais uma estratégia de marketing do Governo, com a criação de secretárias que apenas iludem a população”, aponta Fernando.

Os dados vão ao encontro da matéria da Gazeta de Alagoas, quando mostram que o declínio do setor e o letramento dos descendentes dos usineiros foram determinantes para o interesse progressivo deles pela máquina pública: “a ingerência com a coisa pública e o uso do público para finalidade pessoal são posturas costumeiras dos gestores do estado alagoano, desde a emancipação até os dias atuais”, aborda Fernando.

Conforme o professor Nascimento, com a categoria dos latifundiários no poder, o mandonismo não fica restrita às propriedades rurais, mas se expandem até os órgãos públicos, com a imposição do medo aos servidores. “As políticas governamentais também auxiliam na manutenção do sistema, pois aos ofertar assistencialismo, não se toca na necessidade de reais mudanças. A bolsa-escola, por exemplo, na maneira como foi viabilizada, fortaleceu os poderes dos prefeitos, com o processo de escolha e distribuição das rendas. Como os prefeitos estão ligados as famílias tradicionais, eles acabam acumulando mais poder em suas mãos”, relata.

Apesar de ver de forma positiva a publicação do tema em veículos tradicionais da imprensa, os pesquisadores consideram essas matérias fruto de interesses políticos entre o senador Fernando Collor de Melo e o governador Teotônio Vilela Filho. “Eles estão de olho nas eleições para o Senado, daqui a dois anos”, especula Fernando, que a exemplo do grupo, acredita na mobilização dos camponeses e conscientização das classes urbanas como única possibilidade de mudança do estágio de semifeudalidade em Alagoas.