Pesquisa mostra influência das redes sociais em campanhas político-eleitorais

Professor e aluna de comunicação apresentaram os resultados do trabalho em evento realizado no Peru


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Sheyla e Wagner apresentaram os resultados do trabalho em evento internacional realizado no Peru

Deriky Pereira – Estudante de Jornalismo

Que as redes sociais tomaram uma curva ascendente de crescimento nos últimos tempos não há como discordar. Além disso, elas vêm sendo consideradas como aliadas por alguns meios que as utilizam. Na televisão, por exemplo, o uso das redes vem tomando grandes proporções, por meio do fenômeno transmidiático da interatividade, que pode ocorrer diretamente com o público que acompanha determinado produto em exibição naquele momento.

Além da TV, o uso das redes sociais também cresceu no mundo da política. E para tentar provar essa tese, uma pesquisa foi desenvolvida pelos professores Ana Paula Saldanha e José Wagner Ribeiro, do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas, com a colaboração de Ana Célia Rocha e Sheyla Albuquerque, estudantes de Jornalismo e Relações Públicas, respectivamente. O artigo recebeu o nome de “Fluxos da Informação Digital: a internet no jogo político – Barack Obama ao Brasil”.

Os resultados do trabalho foram apresentados no Encontro das Faculdades de Comunicação Social (Felafacs), evento realizado em Lima, no Peru, entre os dias 15 e 18 de outubro. A apresentação do artigo foi feita no último dia pela aluna Sheyla Albuquerque e pelo professor Wagner Ribeiro e o trabalho tem como foco mostrar como a utilização da internet na primeira campanha de Barack Obama, em 2008, influenciou nas campanhas político-eleitorais do Brasil.

“Com esse trabalho, nós quisemos tirar um parâmetro: quais foram as consequências desse modo de utilização da internet pela campanha presidencial do Obama, pois isso foi considerado um grande divisor de águas para o conceito da política, uma novidade não só para o Brasil, mas em todo o mundo”, explicou Sheyla, reforçando que, no Brasil, o uso das redes sociais pelos candidatos foi impulsionado após a campanha de Barack Obama.

Sheyla revela que a pesquisa identifica um dos fatos mais importantes do uso da internet pelo atual presidente dos Estados Unidos durante a campanha: renunciar a verba disponibilizada para uso no período eleitoral. “Ele recusou os 80 milhões oferecidos para a campanha e, pela internet, conseguiu arrecadar 600 milhões. Ou seja, ele fez com que a mensagem se multiplicasse pelas redes e o público se identificou. Nesse ponto, a gente mostra que a estratégia estava dando certo”, complementou a estudante.

A força da internet

A pesquisa mostra que com a imagem exposta nas redes, Barack Obama conseguiu propagá-la, direcionando uma mensagem para as diversas classes dos Estados Unidos. “O político, em processo de campanha, deve criar uma mensagem única e que, ao mesmo tempo, seja compreendida pelos diversos nichos da sociedade e Obama soube fazer isso, tornando-se o primeiro presidente negro e com descendência árabe dos EUA, mesmo com as eternas rixas do país com o Oriente Médio”, salientou Sheyla.

O trabalho mostra ainda que, a partir de uma possível disseminação da acessibilidade, as pessoas passariam a absorver esse novo conceito, fato que poderia ter causado um maior êxito para a tentativa da então candidata à presidência Marina Silva. Além de uma equipe para cuidar das mídias tradicionais (leia-se: rádio e TV), ela apostou nas redes sociais para angariar um maior número de votos, ocasionando o segundo turno das eleições presidenciais em 2010.

“Como nos Estados Unidos o voto não é obrigatório, se comparado ao Brasil, podemos dizer que eles apelam para a questão do patriotismo. Além do que, lá a questão da internet é mais disseminada, da mesma forma que a educação, o que facilitou uma compreensão maior das pessoas para esse fenômeno. O que Marina arrecadou é uma parcela mínima, chega a ser irrelevante”, complementou Wagner Ribeiro.

O professor diz ainda que por ser algo muito complexo, não podemos comparar o quadro político dos dois países, mas destaca o quanto a internet vem crescendo nesse meio. “A importância da pesquisa se deu pela nossa percepção do crescimento da utilização da internet, em especial das redes sociais, pelos políticos brasileiros em lapsos de campanha eleitoral, investigando suas consequências para o conceito global de se fazer política”, explicou.

No Brasil, ainda não

Quando se fala em política no Brasil, o resultado não é dos melhores, ainda mais com dinheiro no meio. Recentemente, o escândalo do mensalão veio à tona e segundo investigações feitas pela Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o mensalão desviou pelo menos mais de R$ 100 milhões.

Mas, na visão de Sheyla, o motivo de a política não dar certo no país vai além dos escândalos que viram destaques pela mídia. “O conceito geral de política no Brasil é algo errado porque nós mesmos não buscamos mudar. E não falo isso para atingir a determinadas classes ou pessoas, falo numa perspectiva geral”, criticou.

Ainda segundo a pesquisa, o Brasil é o país que passa mais tempo na internet, com uma média mensal de 23 horas e 48 minutos, mas se o modelo utilizado nos EUA ainda não foi aceito completamente por aqui, a intenção é avançar. “Muitos candidatos estão utilizando as redes sociais como se pudessem fazer uma espécie de comício virtual, tratando seus eleitores como amigos e tirando a imagem de que o político é inalcançável. Já é um começo, mas continua faltando muito”, disse a estudante.

A pesquisa conclui que o país ainda não está preparado para receber esse fenômeno e o professor complementa levando o assunto para além das redes sociais. “Além de falar em internet, se a população tivesse um verdadeiro entendimento sobre a importância de sua participação na vida pública de seu país, quem sabe esse fenômeno também pudesse se repetir no nosso país”, finalizou Wagner.