Comunidade de Arapiraca decide manter paralisação

Assembleia rejeita termo de compromisso e defende aditivo com definição de prazos para implantar medidas de segurança no campus

21/09/2012 09h20 - Atualizado em 14/08/2014 às 10h35
Comunidade acadêmica não aceita a volta às aulas

Comunidade acadêmica não aceita a volta às aulas

Simoneide Araújo e Jhonathan Pino  – jornalistas

Em assembleia realizada na quinta-feira (20), 134 pessoas decidiram manter a paralisação das atividades no campus da Universidade Federal de Alagoas em Arapiraca até que algumas medidas para melhorar a segurança, prometidas pelo governo estadual, sejam efetivadas. Apenas 77 dos presentes aceitaram o termo de compromisso firmado dia 14 de setembro e defenderam o retorno às aulas na primeira semana de outubro.

A Associação dos Docentes da Ufal (Adufal) conduziu a assembleia que teve a participação de 175 alunos, dos cerca de dois mil matriculados, 75 professores e 29 técnico-administrativos representantes do Campus Arapiraca. O reitor Eurico Lôbo, a vice-reitora Rachel Rocha, pró-reitores e professores de outras unidades acadêmicas também compareceram ao ginásio Deputado José Lúcio de Melo, da Escola Estadual Quintela Cavalcanti.

O reitor Eurico Lôbo defendeu o termo firmado com Governo do Estado e reafirmou o compromisso assumido pela própria Ufal, poderes Judiciário e Legislativo e Ministério Público Estadual de fiscalizar e cobrar a implantação das medidas garantidas. “Não estamos aqui para uma situação de confronto. Há meses, todos estamos envolvidos na busca de soluções para resolver o problema de insegurança no campus e esse termo de compromisso traz garantias para que medidas sejam tomadas, inclusive algumas já estão sendo implantadas, para dar segurança à comunidade acadêmica. Por isso, defendemos a volta às atividades”, ressaltou.

Eurico Lôbo disse ainda que a Ufal está construindo um muro com seis metros de altura, que separa o presídio do campus para dar mais segurança à comunidade acadêmica. “Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance para garantir o retorno às aulas. Nossos alunos estão tendo um prejuízo enorme e a sociedade cobra nossa volta ao trabalho”, declarou.

O diretor-geral do Campus Arapiraca, Márcio Aurélio, garante que quer voltar a trabalhar, mas não concorda e não acredita no termo de compromisso firmado. “Vou todos os dias para o campus porque desenvolvo minhas pesquisas, mas não defendo o retorno das aulas porque não temos garantias de que as medidas do termo serão cumpridas”.

Por desacreditar no termo de compromisso, a direção do campus e mais 29 professores elaboraram, na quarta-feira (19), um aditivo para o termo de compromisso, com definição de prazos para o governo realizar as ações prometidas e que a Ufal se comprometa a derrubar o muro que está sendo construído, após a desativação do Presídio Desembargador Luiz de Oliveira Souza. O documento, assinado por 70 pessoas, foi entregue ao reitor com pedido de providências.

De acordo com depoimentos na assembleia, outros pesquisadores e alunos de iniciação científica também frequentam o campus diariamente. “Quem faz pesquisa na universidade vai ao campus regularmente. Se há esse pânico de tiroteio e o receio de ‘perder a vida’, por que essas pessoas estão trabalhando? Se as atividades estão suspensas por falta de segurança, então ninguém deve frequentar o campus”, afirmou uma professora do curso de Química, ao defender a volta às atividades.

Votação

Os três segmentos que compõem o campus votaram separadamente nas duas propostas apresentadas: 41 docentes, 11 técnicos e 82 estudantes disseram sim à manutenção da paralisação; a proposta de retorno em outubro foi aceita apenas por 22 docentes, 4 técnicos e 51 discentes.

Jefferson Ferreira, aluno de Física, votou pelo retorno das aulas na primeira semana de outubro e lamentou o resultado: “Estou quase todos os dias no campus para realizar pesquisas. Temos a construção do muro, iniciada pela Ufal, e o aumento de agentes trabalhando no presídio. Acho que tudo isso conta”.

O estudante de Química, João Paulo Ténorio, votou na proposta vencedora. Ele acha mais sensato manter a paralisação: “Estamos lutando, desde o início, pela implementação das medidas paliativas, mas espero que as aulas voltem em, no máximo um mês”.

Após assembleia, gestão vai ao campus

O reitor e a equipe de gestão visitaram a sede do Campus Arapiraca para acompanhar o andamento das obras do muro. A construção está sendo coordenada pela Superintendência de Infraestrutura da Ufal e conta com uma equipe de 21 homens trabalhando.

Eurico Lôbo também conversou com o novo diretor do presídio, capitão Josinaldo Anísio, para saber como está o clima na unidade prisional e confirmar a implantação do núcleo de ressocialização, nos moldes do que é desenvolvido pela Ufal, em Maceió. “Temos de buscar todos os meios para barrar qualquer clima de animosidade entre o presídio e a comunidade acadêmica. Somos educadores e temos muito a contribuir”, declarou.

O capitão, que é o novo diretor do presídio há dois meses, confirmou o aumento da segurança do presídio com mais agentes e a presença de vigilância ostensiva, com viatura policial. “Agora, são 21 agentes por dia e, dentro de alguns dias, receberemos seis cães para fazer a segurança externa. Temos disciplina e os detentos estão respondendo bem às mudanças na unidade”, garantiu.

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