Creche-escola utiliza estratégias de educação nutricional como fonte de pesquisa

O grande desafio para os pais e educadores é diversificar a alimentação das crianças pequenas, garantindo todos os componentes nutricionais para este período de metabolismo intenso e crescimento. Nutricionistas da Ufal fizeram uma experiência no Campus Maceió, com as crianças do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI).

19/08/2011 14h40 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h08
Crianças estudam as frutas

Crianças estudam as frutas

Lenilda Luna - jornalista

A creche-escola da Ufal tem cerca de 150 alunos, entre filhos de servidores, de estudantes e de moradores das comunidades circunvizinhas. As crianças têm de um a cinco anos. A necessidade da implantação das estratégias de educação nutricional surgiu a partir do diagnóstico realizado através de dados nutricionais, detectando casos tanto de desnutrição como de obesidade.

O projeto foi desenvolvido pela nutricionista do NDI, Cléa Maria Rocha Albuquerque, com a ajuda da estudante de Nutrição, Janatar Stella Vasconcelos de Mel, e a orientação da professora Janaína Freitas de Andrade. “O objetivo foi implantar as estratégias de educação nutricional, com a finalidade de incentivar hábitos alimentares mais saudáveis não apenas das crianças, mas também dos pais e professores”, explica Cléa Albuquerque.

As atividades de educação nutricional foram realizadas durante três semanas seguidas, em oito turmas de alunos. “A escola é um dos melhores locais para a promoção da educação nutricional, principalmente onde a maior parte das crianças permanece em período integral”, destaca a nutricionista do NDI.

A necessidade de estimular a curiosidade das crianças

As nutricionistas destacaram no relatório que um dos principais problemas envolvendo a nutrição e as alimentações decorrem do excesso ou da carência de determinados nutrientes. Este equilíbrio entre os nutrientes, sem exagerar ou suprimir, é importante em qualquer idade, mas é ainda mais fundamental neste período de crescimento, porque a criança apresenta um metabolismo muito mais intenso e está ainda em formação física e intelectual.

Nessa idade, as modificações no comportamento alimentar são necessárias para prevenir doenças relacionadas à alimentação e promover a saúde do indivíduo. “É na infância que ocorre a formação dos hábitos alimentares, por isso é preciso entender os fatores determinantes, para que seja possível propor processos educativos efetivos para a mudança do padrão alimentar da criança, para que os hábitos alimentares saudáveis permaneçam ao longo da vida”, destacaram as nutricionistas envolvidas no projeto.

Mas a nutricionista do NDI, Cléa Albuquerque, sabe pela experiência diária na creche escola, que “forçar” as crianças a comerem verduras, legumes e frutas, não é uma boa estratégia. Desta forma, o efeito pode ser negativo. A criança pode se recusar e reagir quando os alimentos são apresentados. “É essencial um processo ativo, lúdico e interativo, onde educar consiste em ensinar e treinar, motivando a troca entre o aluno e o educador, com palavras de fácil compreensão, aliada a um ambiente favorável ao aprendizado”, ressaltam as nutricionistas.

“A dificuldade é fazer com que a criança aceite uma alimentação variada, aumentando suas preferências e adquirindo um hábito alimentar mais adequado, uma vez que muitas crianças têm medo de experimentar novos alimentos e sabores, fenômeno este denominado neofobia alimentar”, explicam as pesquisadoras no relatório da pesquisa.

Material e Métodos

As nutricionistas começaram o trabalho avaliando, com a coordenação pedagógica e a psicóloga da escola, a real aplicabilidade das atividades propostas nas estratégias de educação nutricional já existentes na unidade. “Ouvimos as sugestões da coordenação pedagógica, foram realizadas modificações e definidas todas as atividades que pretendíamos desenvolver”, contou Cléa.

Durante três semanas, nas oito turmas, foram abordados vários temas, destacando a importância das frutas, verduras, legumes e laticínios. Os professores ajudaram a definir o cronograma de atividades. “O apoio de todos os setores foi fundamental para realizar as atividades, sem alterar a rotina da escola”, destacou a nutricionista.

Para chamar a atenção das crianças, foram usados recursos educativos como teatro de fantoches, histórias em quadrinho, mural e pinturas. “Para animar as crianças a provarem verduras e legumes, por exemplo, nós fizemos um jogo de adivinhação, onde elas eram estimuladas a degustar para saber se tinham acertado a resposta”, conta Cléa Albuquerque.

No final de cada etapa, foi feita a avaliação, envolvendo os alunos na também neste processo, com pintura e perguntas acerca da atividade realizada. No total, foram 24 atividades de educação nutricional nas oito turmas da unidade, três em cada turma. O foco foi a avaliação nutricional e a educação em saúde no contexto alimentar infantil e familiar.

“Em todas as atividades, sempre buscamos resgatar todo o conhecimento que os alunos possuíam acerca dos alimentos e de sua importância para a saúde. Após a realização das atividades em sala de aula ou no refeitório, foi realizada a degustação para que os alunos associassem a atividade com os alimentos que estavam sendo oferecidos”, contou Cléa.

As atividades tiveram a participação dos professores, auxiliares de sala, estagiárias e bolsistas de nutrição. Além da nutricionista da unidade e todos os funcionários envolvidos na produção dos alimentos da unidade. “É importante destacar a contribuição do professor no processo de mobilização para o ato de aprender, Já que ele acompanha a rotina escolar e está sempre em contato com as questões levantadas pelas crianças”, destacou a nutricionista.

No final do projeto, as nutricionistas avaliaram que o resultado foi bastante positivo. “Na maioria das vezes as crianças responderam além do que se esperava em determinadas atividades, mostrando um elevado grau de conhecimento acerca do tema abordado. Ficou evidente que, o fato das crianças realizarem uma atividade diferente no cotidiano escolar, como por exemplo, o lanche coletivo, contribuiu para o sucesso das atividades”, concluíram as nutricionistas.

A educação alimentar continua

O trabalho realizado pelas nutricionistas no Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Ufal vai continuar. Agora em agosto, os resultados da primeira etapa e o planejamento das próximas atividades, foram apresentados na reunião de pais. A cada mês, um grupo alimentar será exposto às crianças, com a mesma metodologia desenvolvida, buscando sempre a participação dos alunos e a fixação de informações e hábitos alimentares saudáveis.

Ainda no mês de setembro e outubro serão desenvolvidas atividades com o Projeto Zero Trans, em parceria com a Faculdade de Nutrição. O objetivo é orientar professores, auxiliares da escola e os pais na preparação de alimentos sem gordura trans, e repassar também dicas para comprar alimentos mais saudáveis quando forem ao supermercado. “Teremos cursos específicos para cada segmento. Os pais, por exemplo, estão convidados a participar. São 25 vagas no curso que será realizado nos dias 13 e 15 de setembro”, convidou Cléa Albuquerque.