Projeto “Matemática na Rua e na Escola” envolve feirantes e pedreiros de Arapiraca

Resgatar a cidadania dos trabalhadores informais de Arapiraca que possuem baixa escolaridade e que estão fora da escola, a partir do processo de ensino da Matemática é um dos objetivos do projeto “Matemática na Rua e na Escola: uma análise das diferentes formas de construção do conhecimento matemático”, coordenado pelo professor Talvanes Eugênio Maceno, da disciplina Planejamento, Currículo e Avaliação nos cursos de Licenciatura do Campus Arapiraca.


- Atualizado em
A matemática é utilizada no cotidiano das feiras, por isso a relevância do projeto em suprir as dificuldades desses trabalhadores

A matemática é utilizada no cotidiano das feiras, por isso a relevância do projeto em suprir as dificuldades desses trabalhadores

Diana Monteiro – jornalista

Para a análise das diferentes formas de construção do conhecimento matemático vem sendo observado pelos pesquisadores o cotidiano dos trabalhadores informais alvo do estudo, no seu ambiente de trabalho. “Estamos verificando como os feirantes usam a matemática no processo de compra e venda de mercadorias, e as dificuldades encontradas ao desempenhar a atividade. A álgebra na feira também é praticada pelos feirantes que trabalham constantemente com números decimais e com cálculos das quatro operações. Analisamos ainda o contexto social em que estão inseridos e qual a sua perspectiva de voltar aos bancos de sala de aula”, frisa o professor Talvane.

Quanto aos pedreiros, Talvane destaca que a análise do conhecimento matemático se dá de diferentes formas, por eles desenvolverem conceitos matemáticos geométricos, através de experiências não-formais em diferentes contextos sociais. “Já percebemos que a falta de domínio da matemática escolar é a sua principal dificuldade profissional. Os conteúdos como porcentagem, escala, volumes e áreas são trabalhados constantemente por eles de maneira bem informal, mas com uma sabedoria que poderá ser aproveitada no âmbito escolar. Mas, mesmo obtendo êxito na profissão enfrentam dificuldade em inserir-se no mercado de trabalho como determina as leis trabalhistas,  ou seja, com carteira assinada,  em empresas ou construtoras, por exemplo”,  complementa.

O professor destaca que, ao propor intervenção no cotidiano dos trabalhadores informais, o projeto objetiva ainda entender a relação existente entre o saber matemático popular e o saber matemático científico e busca também compreender como se dá a construção do conhecimento popular e o seu processo de aplicação na prática social efetiva. “A construção de alternativas didático-metodológicas no processo de ensino-aprendizagem para ampliação do conhecimento matemático dos feirantes e pedreiros pesquisados são destacadas no estudo”, diz o coordenador.

O professor Talvanes Maceno diz que os professores de Educação de Jovens e Adultos (EJA) também são alvo do projeto, especificamente no que se refere à disciplina matemática. “Pretendemos formar técnico-instrumentalmente e político-eticamente esses professores, pois sabemos que boa parte que atua no programa no interior não tem formação em licenciatura”, frisa ele, falando sobre a contribuição social e cultural que o estudo terá para a região agreste.

O projeto visa proporcionar aos alunos formação científica, enriquecimento intelectual, experiência docente e pedagógica, promoção de uma identidade docente, e construção de um perfil de professor pesquisador; além de desenvolver a capacidade criativa e um caráter pluricultural. Integram à equipe as alunas Mayra Taís Albuquerque Santos (bolsista) e Simone Silva da Fonseca (colaboradora).

O projeto vem tendo boa repercussão junto à comunidade acadêmica, já foi apresentado em vários eventos promovidos no Campus Arapiraca e no Campus Maceió, recebendo no Congresso Acadêmico de 2010 o prêmio de Excelência Acadêmica. Este ano foi apresentado no I Colóquio de Matemática da Região Nordeste, realizado na Universidade Federal de Sergipe (Campus São Cristóvão).