Universidades defendem desenvolvimento sustentável na região costeira

70% da população mundial vive a menos de 50 km do mar. Esta atração pela região costeira é explicada por vários fatores. Os oceanos são fonte de renda e lazer; muitas exportações são feitas por via marítima, ou seja, a vida no litoral é intensa. Mas a intervenção do homem nos mares e rios também provoca alterações prejudiciais ao equilíbrio da flora e fauna marítimas. Parte desses problemas não acontece diretamente nas praias, mas através dos materiais despejados nos rios.

08/04/2011 11h51 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h07
Vista área da foz do Rio São Francisco

Vista área da foz do Rio São Francisco

Lenilda Luna - jornalista

“Todos os dias os continentes despejam bilhões de toneladas de materiais nos rios. Esta carga continental é responsável pelo equilíbrio entre a erosão e a sedimentação na região costeira e é responsável por uma fração significativa da fertilização das águas”. A citação faz parte de um relatório da pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente Oceano, financiada pelo CNPq.

São mais de 40 pesquisadores e 13 universidades e institutos de pesquisa participando do projeto, que foi aprovado em 2008 e iniciado em 2009. Cada universidade estuda a foz dos rios da sua região. Neste período, já foram publicados 67 artigos, fora os capítulos de livros sobre o tema. A pesquisa é coordenada pelo professor Luis Drude Lacerda, da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Essas ações visam à construção de cenários para o desenvolvimento sustentado da região costeira”, destaca o coordenador nacional na apresentação do projeto.

O Rio São Francisco

Na Ufal, a pesquisa é coordenada pelo professor Paulo Petter, do Instituto de Geografia e Desenvolvimento Ambinetal (Igdema). A missão da universidade alagoana é tão grande quanto o rio São Francisco. O rio da integração nacional é responsável por uma considerável contribuição à qualidade das águas na zona costeira nordestina, por isso é tão importante avaliar quais materiais estão sendo levados para o oceano pelo velho Chico. Para esta parte do projeto, já foram investidos cerca de 450 mil reais em equipamentos.

“O Rio São Francisco foi bastante alterado pela ação dos homens. São grandes barragens para geração de energia nas hidrelétricas, as matas ciliares que foram arrancadas para agricultura e ainda a piscicultura, que cada dia mais vai substituindo a pesca no rio”, explica o oceanógrafo da Ufal, Paulo Petter. “São poucas as chances de reverter a situação. Temos que trabalhar para que não se degrade mais”, pondera o pesquisador.

Um dos focos do grupo de pesquisa da Ufal, que está ligado ao Laboratório Integrado de Ciências do Mar e Naturais (Labmar), é o efeito da piscicultura sobre a qualidade da água do Rio São Francisco. “Em Xingó, somente em uma dessas pisciculturas, temos 900 tanques-redes, com uma produção de dez toneladas de peixes por mês”, explica o professor. Segundo Paulo Petter, a grande quantidade de ração utilizada para alimentar esses peixes produz resíduos que ficam nas águas e são responsáveis pelo aumento do fitoplâncton, uma alga que, em grande quantidade, acaba liberando toxinas, que podem inviabilizar a própria atividade pesqueira e de criação de peixes.

As barragens, segundo a pesquisa, modificam bastante a regularização da vazão do rio, induzindo ao aumento da erosão das margens e ao assoreamento. “Todas essas questões precisam ser acompanhadas para reduzir o impacto da intervenção humana no ecossistema”, explica Paulo Petter.

O Labmar e a formação de pesquisadores

O laboratório de Geoquímica,  do Labmar, que funciona no mesmo prédio do Museu de História Natural, no bairro do Farol, está mudando em breve para as novas instalações, construídas no Campus Maceió. A melhoria na estrutura será importante para os pesquisadores e para os estudantes ,que estagiam no laboratório.

“Recebemos alunos de vários cursos relacionados às ciências naturais. Os estudantes de bacharelado do Instituto de Geografia e Meio Ambiente, por exemplo, tem poucos campos para realizar o estágio obrigatório em Alagoas. O Labmar é uma opção fundamental para a formação destes graduandos”, pontua o professor. Os alunos acompanham inclusive o trabalho de campo, coletando amostras diversas no rio.

O Labmar também desenvolve ações de pesquisa e extensão em parceria com outras unidades da Ufal, como Usina Ciência, Instituto de Química e Biotecnologia, Instituto de Física, Centro de Educação, Museu de História Natural, Instituto de Geografia e Meio Ambiente, entre outros.

Para mais informações sobre o projeto, consulte o site.