Ufal em Defesa da Vida debate violência com Michel Misse nesta quinta-feira

Nesta quinta-feira, 28 de abril, às 9h30, no auditório do antigo Csau, a Universidade Federal de Alagoas realiza o 9º ato do Programa Ufal em Defesa da Vida. Com o tema “A Ufal inserida no contexto de violência do Estado de Alagoas: Desafios e Perspectivas”, o evento contará com a presença do professor Michel Misse, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que ministrará a palestra “Problemas e desafios para o enfrentamento da violência na contemporaneidade”.


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Prof. Michel Misse, da UFRJ, será o palestrante do 9º ato do Programa Ufal em Defesa da Vida | nothing
Prof. Michel Misse, da UFRJ, será o palestrante do 9º ato do Programa Ufal em Defesa da Vida

Diana Monteiro – jornalista

Michel Misse é Doutor em Sociologia e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, onde coordena o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU). “Esperamos que as entidades representativas dos estudantes, dos docentes e dos técnicos-administrativos participem ativamente desse importante debate”, destaca Ruth Vasconcelos, coordenadora do Programa.

Também será realizada uma mesarredonda, na Tenda da Cultura Estudantil, às 14h, com participação de Adufal, Sintufal, Atufal, DCE e Sinfra, com o tema “Análise e propostas para o enfrentamento da violência na Ufal”. São esperados estudantes dos três campi da Ufal.

O gráfico que registra o número de homicídios nos últimos 10 anos no Estado de Alagoas compõe o painel afixado pelo Programa Ufal em Defesa Vida em frente ao prédio da Reitoria, no Campus Maceió. Este painel dá visibilidade aos números de mortes violentas, chamando atenção para uma cruel e preocupante realidade: a curva ascendente da violência no Estado, tomando como base os dados fornecidos pelo DataSus, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Mapa da Violência 2010.

O painel tem causado um grande impacto na comunidade universitária. Segundo a professora e socióloga Ruth Vasconcelos, a compreensão desta realidade pressupõe considerar-se os dramáticos índices de desenvolvimento humano do Estado de Alagoas, que resultam da extraordinária concentração de renda, das profundas contradições, desigualdades e injustiças sociais historicamente existentes em nossa sociedade.

“É preciso reconhecer que as mortes acontecem pelos mais variados motivos, mas todas expressam, em última instância, um gesto de intolerância presente nas relações sociais e interpessoais. É preciso pensar sobre o potencial destrutivo das práticas de intolerância, sobre como o desrespeito aos direitos humanos e o extremo individualismo produzem um ambiente favorável aos conflitos explosivos e violentos em nossa sociedade. Na verdade, a banalização da morte expressa uma intensa desvalorização da vida nos dias atuais; essa realidade revela, em última instância, o processo de não reconhecimento do outro como sujeito de direitos”, diz Ruth Vasconcelos.

Ela reforça essa análise, destacando que a violência é um problema social e, portanto, não pode ser enfrentado individualmente. “Não podemos mais pensar que a violência é um caso de polícia. Não é. A violência é um caso de educação, de mais investimentos em programas sociais, em políticas públicas de inclusão social. Infelizmente alguns só se manifestam contra a violência quando vivenciam situações em que são mais diretamente atingidos. Tenho dito nos vários momentos de discussão que produzimos no Espaço da Ufal, que não precisamos sofrer a violência diretamente para nos implicarmos subjetivamente com esta questão”, frisa a socióloga.

Ufal em Defesa da Vida”

Ao assumir em 2009 a Coordenação de Política Estudantil da Pró-reitoria Estudantil da Ufal, uma das linhas de ação da professora Ruth Vasconcelos tem sido o Programa Ufal em Defesa da Vida, através do qual produz, junto à comunidade universitária, várias atividades colocando em pauta os temas da violência, dos direitos humanos e da segurança pública. “A nossa mobilização para essas temáticas é por sempre acreditarmos que, sendo a Universidade Federal de Alagoas uma instituição educacional, não poderia ficar silenciosa diante dos dramáticos números de violência que colocam o Estado como o mais violento do país”, diz Ruth.

Ela complementa reforçando que vem trabalhando com a compreensão de que a violência assume diferentes formas e se expressa em várias dimensões do tecido social. “Seria ingenuidade acreditar que a Ufal estaria protegida de um processo social e político mais amplo que posiciona Alagoas como o Estado que tem os piores Índices de Desenvolvimento Humanos (IDH), do país”, frisa Ruth.

Ruth destaca que através das ações realizadas no meio da comunidade universitária chama a atenção para o fato de que “às vezes somos violentos nas nossas relações interpessoais, produzimos mortes subjetivas através de práticas autoritárias, mas não identificamos essas práticas como violentas e destrutivas”. Além dessa violência que se inscreve nas relações interpessoais – frisa a professora - a comunidade universitária já foi vítima de várias formas de violência que assustam não só a nós, como também a sociedade em geral.

Ocorrências no Campus

Ao falar sobre as últimas ocorrências no Campus Maceió, que deixaram a Ufal na mira como também sendo um espaço violento, e diante das cobranças por medidas mais ágeis e eficientes no que se refere à segurança da comunidade universitária, Ruth considera os fatos registrados extremamente desagradáveis; fatos que produzem muita inquietação e indignação. Mas, é enfática ao afirmar que “temos que pensar a Universidade Federal de Alagoas inserida no contexto social, político e econômico do Estado de Alagoas”.

Sem querer minimizar os fatos diante dessa realidade, Ruth Vasconcelos ressalta que a instituição sofre todos os impactos a partir do que acontece fora dos muros universitários. “É leviandade atribuir à atual gestão a violência que tem adentrado em seus muros. Uma gestão que tem investido fortemente na segurança de sua comunidade, mesmo que suas ações fiquem restritas, porque a segurança contratada não tem o poder de polícia, no campo da repressão e prisão dos meliantes. Temos feito um grande esforço, como instituição educacional, no sentido de estimular a construção de uma nova cultura política que esteja sintonizada com os valores e princípios democráticos e humanitários”, finaliza.

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