Pesquisa: própolis vermelha pode ser aliada no tratamento da Aids

O Grupo de Pesquisa em Tecnologia e Controle de Qualidade dos Medicamentos, da Escola de Enfermagem e Farmácia, coordenado pelo professor Ticiano Gomes, está investigando as propriedades farmacológicas da própolis vermelha, encontrada no litoral alagoano. Já existem estudos em Cuba que comprovam que os flavonóides desta substância são antirretrovirais, ou seja, inibem o crescimento do vírus da Aids.

25/02/2011 09h09 - Atualizado em 02/05/2024 às 16h01
A própolis vermelha é encontrada no litoral alagoano

A própolis vermelha é encontrada no litoral alagoano

Lenilda Luna - jornalista

A própolis vermelha já faz parte dos Arranjos Produtivos Locais em Alagoas, ou seja, já existem políticas de incentivo para a produção e comercialização desta substância, que está à venda em algumas farmácias de produtos naturais. “Desta forma, o interesse pela pesquisa é maior, já que a própolis vermelha é encontrada no litoral alagoano de Maragogi a Jequiá da Praia”, diz o professor Ticiano Gomes.

A própolis é uma substância produzida pelas abelhas a partir de coletas na vegetação. Por isso, pode ter cores e propriedades diversas, dependendo do ecossistema local. A própolis vermelha de Alagoas tem características específicas, porque é produzida a partir da resina do rabo-de-bugio, planta encontrada nos manguezais.

Os flavonóides, que são compostos químicos encontrados nas plantas, extraídos da própolis vermelha já tem comprovação como antioxidantes, ou seja, retardam o envelhecimento das células. “Também já comprovamos nos nossos estudos que a própolis vermelha contribui para fortalecer o sistema imunológico, mas precisamos de equipamentos mais precisos para estudar as propriedades antirretrovirais (contra a Aids), como já foi comprovado em Cuba, e anticancerígenas”, esclarece Ticiano.

O pesquisador informa ainda que, como a própolis verde é mais comum, a pesquisa sobre esta variedade está mais avançada. “Mas, ultimamente, a própolis vermelha vem chamando a atenção do mundo, por isso a importância de realizar pesquisas sobre este fitoterápico produzido no Estado”, reforça o professor. “Estamos realizando aqui no nosso laboratório, com os recursos que temos, o isolamento dos constituintes químicos por spray drier, que possibilita uma avaliação por nanotecnologia”, explica o professor.

Segundo o professor, ainda será necessário investir nos equipamentos do laboratório para aprofundar as pesquisas e conseguir comprovar as propriedades químicas, fisioquímicas, farmacológicas e toxicológicas da própolis vermelha. “Nossa pesquisa aqui na Ufal é recente. Tem menos de cinco anos. Ainda estamos equipando o laboratório, mas temos perspectivas de produzir boas pesquisas para a sociedade alagoana”, ressalta o pesquisador da Esenfar.

Pesquisas e produtos

As pesquisas realizadas no grupo já conseguiram comprovar as ações antimicrobianas e antifúngicas. “Mas carecemos ainda de alguns recursos para estudar as propriedades anticancerígenas”, informa o professor e diz ainda que o laboratório de controle de qualidade dos medicamentos deve receber um aporte de recursos de 80 mil reais por meio de três projetos aprovados pelo CNPq para investimento em infraestrutura.

O grupo de pesquisa está desenvolvendo um método de cromatografia para o controle de qualidade da própolis in natura e de seus bioprodutos. “Como é uma matéria-prima que sofre alterações dependendo do clima e da vegetação, precisamos ter uma padronização do produto final. Com isso, queremos desenvolver pomadas e cremes à base de própolis, que podem ser utilizados como cicatrizantes, por exemplo”, diz Ticiano.

O grupo de pesquisa em Tecnologia e Controle de Qualidade dos Medicamentos conta atualmente com dois alunos de iniciação científica, dois de inovação tecnológica, um mestrando de nutrição e um aluno de extensão. O mestrando, Walter Alvino, está inclusive desenvolvendo a dissertação dele sobre a própolis vermelha.

“A própolis vermelha tem largas possibilidades de aplicação. Podemos desenvolver xaropes à base de própolis para utilização farmacêutica, podemos ter também o uso cosmético, como o xampu de própolis vermelha, que pode ser utilizada para combater a caspa, já que a substância combate os fungos que são um dos motivos do surgimento da caspa e da queda de cabelo”, adianta o pesquisador.

Outras pesquisas e parcerias

Além da própolis vermelha, o grupo tem várias outras pesquisas em andamento. Uma delas é sobre o açafrão da terra, ou cúrcuma, que tem propriedades antiinflamatórias e anticancerígenas e que pode ser utilizada para combater o câncer intestinal.

Outro importante trabalho realizado pelo grupo é no controle de qualidade dos medicamentos produzidos pelo Laboratório Farmacêutico de Alagoas, o Lifal. “Temos uma parceria com o Lifal, tanto no controle de qualidade como na formação e capacitação dos técnicos que trabalham na instituição. O Lifal é ainda um campo de estágio para os nossos estudantes”, destaca o professor.

Dentro deste trabalho de controle de qualidade de medicamentos, o professor ressalta a pesquisa realizada entre 2005 a 2008 para avaliar os medicamentos antirretrovirais, utilizados para o tratamento de pacientes com Aids e que são distribuídos pelo Governo Federal.

Mestrado

O professor Ticiano Gomes adianta ainda que a Esenfar vai apresentar o projeto de Mestrado em Ciências Farmacêuticas. “O projeto será encaminhado para avaliação da Capes em julho deste ano e, se for credenciado, as aulas começam em março de 2012”, informa Ticiano. O Mestrado será multidisciplinar e vai contar com a participação de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) e Faculdade de Nutrição (Fanut).