A expansão com o olhar atento para a pesquisa

O Brasil estava imerso numa ditadura e por todos os cantos do país havia focos de manifestações de resistência ao regime. Com os pilares nesse contexto, a universidade avança em busca da modernização de sua estrutura administrativa, pedagógica e de pessoal. A intenção de dar prosseguimento à política de construção de novos prédios iniciada por A. C. Simões permanece, mas vai ocupar um novo lugar no planejamento estratégico da Ufal. Os reitores que vieram depois voltaram sua atenção a outras prioridades também necessárias ao desenvolvimento da instituição.

03/01/2011 10h48 - Atualizado em 13/08/2014 às 11h08

Simone Cavalcante - jornalista e Élcio Verçosa - doutor em Educação

 

Nessa fase, nota-se um aumento do leque de cursos de graduação ofertados, e do quadro de pessoal, com a realização de novas contratações; o direcionamento dos recursos à qualificação dos servidores; o incentivo ao campo da pesquisa científica, por meio de convênios com outras instituições; e o surgimento do primeiro curso de pós-graduação stricto sensu, Letras. As expressões artísticas e o incentivo à leitura buscam um lugar no espaço acadêmico a partir da existência de equipamentos culturais: Corufal, sob a regência do maestro Benedito Fonseca, grupos folclóricos como o Pastoril Universitário, Teatro Universitário (TUA), Cinema de Arte (Cinufal), Museu Théo Brandão de Arte e Folclore (1975), Imprensa Universitária (1977), Biblioteca Central (1978), Orquestra de Câmara da Ufal (1981), Pinacoteca Universitária (1981) e Editora Universitária, Edufal (1983), voltada para a circulação de textos científicos.

 

Assim, as gestões dos reitores Nabuco Lopes Tavares da Costa Santos (1971-1975), Manoel M. Ramalho de Azevedo (1975-1979), João Ferreira Azevedo (1979-1983) e Fernando Cardoso Gama (1983-1987, primeiro mandato) compreendem uma fase de expansão e preocupação com a pesquisa e a pós-graduação, ainda que os efeitos dos esforços desses gestores nem sempre tenham sido coroados de êxito.

 

A gestão de Nabuco Lopes, por exemplo, teve início com a assessoria de planejamento elaborando um Documento Descritivo Preliminar, levantando informações e analisando criticamente a situação da universidade. O relatório entregue ao MEC pretendia traçar uma rota diferente de atuação, que fosse capaz de articular o capital humano (professores, alunos e servidores) à execução das ações acadêmicas e administrativas da forma mais integrada possível. Um dos pontos que sintetiza o espírito daquele momento está no deslocamento do foco da estrutura física para a valorização de pessoas, conforme trecho do documento: “A atual administração da Ufal considera meta prioritária a mobilização de seus recursos humanos em nível de suficiência e qualificação adequada”.

 

De olhos fixos na ampliação dos quadros de pessoal, o setor de planejamento da universidade põe em prática, em 1972, o Plano de Expansão, com a realização de mais de 200 concursos e provas de seleção. Neste ano, é criado o Campus Tamandaré, mediante a ocupação, em regime de comodato, do complexo onde se situava a Escola de Aprendizes de Marinheiro de Alagoas, no Pontal da Barra. Ali foram instalados os cursos da Área III, de Ciências Humanas, com uma população estudantil de mais de 3.000 alunos. Em 1976, o campus foi desativado diante dos riscos que sofreria com a instalação da empresa Salgema no Pontal.

 

Por outro lado, foram dados os primeiros passos na articulação de uma política para o fomento do conhecimento científico, a partir da criação da coordenadoria de pós-graduação e pesquisa. Inicialmente, havia um número reduzido de pesquisas, a exemplo dos estudos avançados sobre o setor pesqueiro, e a maioria delas estava atrelada a convênios com instituições nacionais e estrangeiras, ou eram produzidas pelos professores meramente para alcançar uma melhoria salarial com a mudança para o regime de 40h de trabalho.

 

Caminhando na divulgação da ciência e da pesquisa, a revista científica e cultural Scientia ad Sapientiam é lançada durante a gestão do reitor Manoel Ramalho, em 1978. O primeiro número da publicação – que traz na capa um desenho do artista Hércules – deixa bem claro seu perfil editorial ao apresentar os resumos dos trabalhos apresentados no I Encontro de Pesquisa Científica. É uma marca também dessa gestão a preocupação em tornar mais adequadas as condições de funcionamento dos 22 cursos de graduação, como pode ser observado num trecho do relatório “Meu tempo de reitor”, organizado por Manoel Ramalho: “A prioridade absoluta estabelecida pela administração em qualificar seu corpo docente visa possibilitar maior produtividade no processo de ensino”.

 

Além da reestruturação dos cursos, ocorreu a ampliação da cobertura dos serviços de assistência aos estudantes e a criação de programas, como o Bolsa de Trabalho Arte (1976), que incentivava a elaboração de projetos de pesquisa sobre diversas linguagens artísticas. Além disso, o processo seletivo para ingresso de futuros alunos tornou-se mais profissionalizado a partir da assinatura de um convênio com a Fundação Carlos Chagas.

 

Com um estilo de administrar mais voltado para o planejamento de ações, o reitor João Azevedo lança, no início de sua gestão, o documento Diretrizes Básicas (1980-1983), um plano estratégico direcionado para os próximos três anos. Nele se confirma também a preocupação em fortalecer a pesquisa como um dos pilares da formação acadêmica, com o desenvolvimento dos trabalhos da recém-criada Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propep). Tornava-se mais intensivo também o estudo e o debate de temas pertinentes à conjuntura socieconômica de Alagoas, numa visão incipiente do discurso de desenvolvimento sustentável muito em voga nos dias atuais.

 

No reordenamento administrativo da Ufal, a Pró-Reitoria de Planejamento amplia suas bases, com a formação de núcleos de apoio para atender as necessidades da universidade. São criados os núcleos de Apoio ao Ensino Pesquisa e Extensão (NAEPE), de Informações (NI), de Apoio Administrativo, entre outros. A manutenção desses núcleos tinha como finalidade aumentar o desempenho do fluxo administrativo, permitindo a troca de informações entre os diferentes setores.

 

Nos anos 1980, a primeira gestão do reitor Fernando Gama encerra a fase em que a expansão e a preocupação com a pesquisa tinham caráter de urgência nas discussões acadêmicas, tendo em vista a carência de pessoal e o baixo índice de projetos registrados. Atuando na transição entre a ditadura e a abertura política, sua gestão terá o apoio decisivo de um empréstimo tomado com o MEC/BID III (Banco Interamericano de Desenvolvimento), permitindo a aceleração da política de capacitação de professores e técnicos, juntamente com a ampliação física e as instalações técnicas no Campus A. C. Simões. É nesse período que surgem cursos de pós-graduação, cujo pioneirismo coube ao mestrado de Letras, e praticamente todos os cursos de graduação passam a ter reconhecimento do MEC.