Ufal concede título de Doutor Honoris Causa a Ariano Suassuna

Nesta terça-feira, 24 de agosto, o Museu Théo Brandão encerrou em grande estilo as comemorações do Mês do Folclore Ranilson França, com a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa a Ariano Suassuna; a entrega do Prêmio Gustavo Leite aos artesãos Geraldo Dantas e Vicente Ferreira; além do lançamento do livro "Do Belo Monte das Promessas à Canudos destruída: o drama bíblico na Jerusalém do Sertão".


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A reitora concede o grau de Dr. Honoris Causa a Ariano Suassuna

A reitora concede o grau de Dr. Honoris Causa a Ariano Suassuna

Jaqueline Batista - jornalista

A concessão do título de Doutor Honoris Causa a Ariano Suassuna foi uma iniciativa do Museu Théo Brandão, que fez a proposta à reitora da Ufal, a qual aceitou e submeteu o assunto à apreciação dos órgãos superiores da Universidade. “Acho que teria que ser o Museu a fazer essa proposta, por conta da sua tipologia, haja visto Ariano ser o maior arauto da cultura brasileira, além do Museu ser um órgão voltado para a guarda, a resignificação e os valores desta cultura; particularmente da cultura alagoana”, disse Leda Almeida, diretora do Museu Théo Brandão.

A concessão do Honoris Causa, que foi criada na Idade Média juntamente com o surgimento das universidades, é o título de maior importância da Ufal. É um ritual que se mantém até hoje com o mesmo formato. Só é concedido à personalidade que tenha se distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos, a exemplo de Lêdo Ivo, Paulo Freire, entre outros.

Ariano Suassuna encantou e emocionou o público quando lhe foi franqueada a palavra. Primeiro, um pouco encabulado, pediu desculpas porque não sabia como se comportar com as vestes talares. Mas logo voltou a ser o Ariano irreverente e cheio de histórias. Facilmente prendeu a atenção do público contando causos que presenciou ao longo dos seus 83 anos de vida e que lhe servem como inspiração para suas obras. "Eu não tenho criatividade nenhuma, eu copio. O povo é que tem uma genialidade muitas vezes desprezada", disse Suassuna ressaltando personagens como Chicó, de O Auto da Compadecida, que de fato existiu e tinha esse mesmo nome. Atualmente, Secretário da Cultura de Pernambuco, Ariano já percorreu quase todo o Estado com suas aulas-espetáculo e descobrimento de novos talentos regionais.

Além da entrega do título, o Museu Théo Brandão realizou, pelo sétimo ano consecutivo, a entrega do Prêmio Gustavo Leite ao melhor artesão do ano. O evento, que já faz parte do calendário festivo da universidade, tem o objetivo de reconhecer o talento de artistas populares de Alagoas. Parte das esculturas de Geraldo Dantas e das pinturas de Vicente Ferreira está à mostra no Museu Théo Brandão até o próximo dia 31, na exposição intitulada Entre cores e formas.

Os ganhadores do prêmio deste ano têm estilos diferentes, mas ambos fazem parte do universo da cultura popular nordestina. O cearense e radicado em Maceió, Vicente Ferreira, além de pintor, é cantor de forró. O artista diz que gosta de pintar principalmente o folclore, a natureza e o patrimônio histórico da cidade. As pinceladas contidas com muitas cores seguem a linha do figurativo, com a representação de folguedos populares, religiosidade e cidades do interior. Seu trabalho tem uma curiosa semelhança com o bordado, provavelmente uma de suas fontes inconscientes de inspiração, já que em Alagoas existe a tradição das bordadeiras.

Já o artista Geraldo Dantas, de Arapiraca, faz esculturas em madeira de pequeno, médio e grande porte. São santos e anjos ornamentados com flores e árvores. Apesar de nunca ter estudado arte, seu trabalho revela fortes aspectos do barroco, como o rebuscamento das figuras e o espírito contraditório, permeado por dilemas existenciais e espirituais.