Pinacoteca Universitária apresenta novas exposições


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Artistas conversaram com o público presente

Artistas conversaram com o público presente

Em solenidade bastante concorrida na noite desta quinta-feira, 19 de agosto, a Pinacoteca Universitária abriu novas exposições, trazendo ao público alagoano os trabalhos de três artistas representativos das artes visuais pernambucanas. Esses artistas, que lidam com múltiplas linguagens, iniciaram suas trajetórias em gerações subsequentes (José Paulo – década de 1980; Paulo Meira – década de 1990 e Rodrigo Braga – década de 2000) e vêm atuando com regularidade no cenário nacional.

O Marco Amador é o título da pesquisa artística iniciada por Paulo Meira em 2004. Vídeos, fotografias e pinturas constituem universos onde acontecimentos são tomados como medida ética, estética e política pelos quais personagens transitam em ambientes e situações desafiadoras. Em todos esses acontecimentos, o próprio artista atua como personagem-chave.

Através de peças escultóricas (Para Nunca Mais Me Esquecer) e instalação (Cordel), José Paulo explora a possibilidade da escrita e sua representação. Maximizando e reconfigurando letras, tipografias e outros elementos do universo gráfico, a escrita se associa à dor, à submissão e à posse, num jogo simbólico contundente e poético.

Após uma temporada de imersão nos arredores do município sertanejo de Solidão (PE), a série Desejo Eremita, de Rodrigo Braga, traz imagens de uma experiência de intensa relação com um espaço-tempo suspenso – não ordinário –, onde presenças (corpos, elementos naturais, paisagens) surgem em contato mútuo, numa deriva existencial repleta de ciclos de morte e recriação.

A Pinacoteca Universitária está localizada no Espaço Cultural da Universidade Federal de Alagoas, na Praça Sinimbu. O horário de visitação das exposições é, nas segundas, quartas e sextas-feiras das 8h30 às 12h30 e das 14 às 18 horas, e nas terças e quintas-feiras das 8h30 às 12h30 e das 14 às 20 horas.

Para Nunca Mais Me Esquecer

 “Nos dois trabalhos apresentados, resultado de uma pesquisa mais recente, exploro a possibilidade da escrita e sua representação; utilizo letras, tipografias e outros elementos do universo tipográfico e gráfico”, diz José Paulo sobre as obras.

 O trabalho "Para Nunca Mais Me Esquecer", grandes peças de madeira e ferro com todas as letras do alfabeto, representa os imensos ferros usados para marcar gado, onde a escrita aparece  associada à dor, submissão e posse. “Apresento também, um trabalho da série "Cordel ". São tipos móveis feitos de cerâmica, expostos em uma linha de texto , apresentando de forma descritiva e direta o significado  da palavra Dor”, complementa o artista.

 Sobre a série “O marco Amador”

 “O Marco Amador é o título da pesquisa artística que iniciei no ano de 2004, e cuja investigação norteadora é a construção de universos (plásticos e conceituais), onde acontecimentos homônimos (um marco amador) são tomados como medida ética, estética e política pelos quais personagens transitam em ambientes e situações desafiadoras”, explica José Meira.

 Tais universos são construídos através de obras em vídeo que, por sua vez, depois de realizadas, são desdobradas em séries de pinturas e fotografias que apresentam imagens extraídas dos processos de execução do vídeo, ou remissivas ao universo conceitual deste.

 “Por todos estes acontecimentos sempre atuo como personagem-chave das situações, de modo que venho experimentando o imbricar de diversas linguagens ao meu processo artístico. Desde o seu início no ano de 2004, O Marco Amador resultou em quatro vídeos e quatro séries de pinturas e fotografias”, conclui o artista.

 Desejo Eremita

Natural do Amazonas, mas há muito residente no nordeste brasileiro, o artista Rodrigo Braga vem abordando, em sua obra fotográfica, questões em grande parte autobiográficas, traduzidas por meio de relações de troca física e simbólica entre seu corpo, elementos e contextos naturais. O artista parte para uma situação de isolamento espacial e temporal amplamente diferente do seu cotidiano de grande cidade para criar a série intitulada Desejo eremita.

O artista escreveu sobre suas impressões, numa pequena cidade de Pernambuco, onde se isolou para realizar o trabalho. “Por aqui o aspecto que mais me impressionou inicialmente foi a crueza (estupidez, diria) da violência de uma terra - para a minha surpresa - ainda sem lei. Parece mesmo que o cangaço e o coronelismo deixaram um legado significativo para o século XXI no nordeste, sem falar na ausência do poder público e da Justiça, é claro. Mata-se por muito pouco, mas não é como a oportunista violência urbana, é algo mais primitivo mesmo. Apesar da pobreza da região, quase não se mata para roubar, mas sim para a defesa de uma suposta honra (traduzida também pelo machismo e pela dominação econômica), o que leva a julgamentos precipitados e a truculentas violências à ponta de faca”, expressou Rodrigo Braga.