Arriete em verso e prosa

Escritora alagoana lança Obra poética reunida, uma coletânea com os seus dez livros de poemas publicados; compilação vem sendo distribuída em escolas das redes pública e privada do Estado e em bibliotecas daqui e de todo o País em um trabalho de “formiguinha”, inédito em Alagoas, realizado pela própria autora


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Arriete Vilela

Arriete Vilela

Por Elô Baêta – O Jornal*

 

“Vou ler a composição de uma menina do interior”, anuncia uma das madres do Colégio de São José diante da turma de garotas concorrentes a vagas para o ingresso na instituição de ensino - uma das mais tradicionais de Maceió no passado. A leitura da redação foi a redenção. Estava escrito: a tímida menina, vinda da cidade de Marechal Deodoro, é aprovada com louvor para fazer parte do quadro de estudantes da escola. Mal sabia a madre que a autora do poético texto que tinha em mãos - inspirado em uma paisagem rural e que havia chamado a sua atenção -, Arriete Vilela, tinha um talento poético ainda adormecido no seu âmago e, anos depois, iria ser definitivamente seduzida pela infinita e fértil estrada de "fantasiar pessoas, situações e mundos diversos" com as suas inseparáveis companheiras: palavras, palavras, palavras.... Uma "pena" (trabalho literário) tocante, poética, literária. Um caminho -sem desvios - que decidiu abraçar como a sua vida, como um "filho", para inevitavelmente se transformar em uma das mais nobres escritoras da literatura alagoana. Reverenciada e referenciada aqui e lá fora.

 

Com livros dê contos, crônicas, poemas, romance e prosa poética escritos em quase 40 incansáveis anos de dedicação à literatura e o afago de mais de 30 prêmios literários, homenagens e um indiscutível reconhecimento nos meios acadêmico e estudantil, a escritora Arriete Vilela agora presenteia os alagoanos com mais um "filho" nascido das suas entranhas literárias: Obra poética reunida, coletânea com os seus dez livros de poemas publicados até agora. Um relicário que traz desde o primeiro deles - a marca oficial do seu início na arte da escrita poética, publicado na "flor" da sua juventude (por volta dos 20 anos) -, Eu, em versos e prosa (1971), passando por Ávidas paixões, áridos amores (2007), A palavra sem âncora (2005), Frémitos (2004), Artesanias da palavra (2001), Vadios ajetos (1999), O ócio dos anjos ignorados (1995), A rede do anjo (1992) e 15 poemas de Arriete (1974), até o mais recente deles, Palavras em travessia (2009).

 

A ideia da reunião dos frutos da sua poderosa veia poética, que irriga a alma de uma seiva definida por ela como imprescindível a sua vida, em um só volume tem por trás o forte zelo e o inegável carinho com as suas obras e os seus leitores 'Três razões me motivaram a idealizar essa coletânea dos meus livros de poemas. A primeira delas é porque todos eles já estão com as edições esgotadas, o que dificulta o acesso do leitor; depois, para evitar distorções na Internet, onde muitos dos meus poemas estão dispersos, publicados sem referências bibliográficas e até com erros; e a terceira para facilitar o estudo sistemático das minhas obras por estudantes de escolas e universidades", explica Arriete.

 

Desde a sua publicação, Obra poética reunida vem sendo distribuído em bibliotecas de Alagoas e do Brasil e apresentado em escolas públicas e privadas e em faculdades do Estado pessoalmente pela escritora. "Tenho sido incansável em relação as minhas obras: visito escolas e faculdades, constantemente, para apresentar os meus livros. A divulgação é que é complicada por-tfje não temos agente literário, não temos quem quebre ponta de lança para que o nosso trabalho circule nacionalmente. Escrevo porque a literatura, de certa forma, dá sentido a minha vida, mas quero ser lida, claro, e o retorno dessa leitura me faz de certa maneira, avaliar a minha escrita literária e tentar, sempre, aperfeiçoa-ia", afirma.

 

As mais de 500 páginas da coletâneas minuciosamente produzida, editada e revisada peta escritora, com uma tiragem de 300 exemplares - boa parte com o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) -, é uma verdadeira viagem pela» linhas e entrelinhas do amor: "A minha poesia / lambe a carne" viva do amor. / Não que haja mágoas, dores, / cicatrizes. Ou contendores. / Não há. / É o próprio amor que se oferece / em carne viva / à minha poesia". (trecho do Poema 11 de Palavras em travessia). E das palavras: "A Palavra / - memória ,do mundo - / trança, dentro das paixões míticas, /jeitos singulares de confirmar-se / oráculo,/ faz-se único" destino / única fortuna / o gosto único do melhor vinho / e o mais desarrazoado e irrenunciável amor do Poeta", (Poema 42 de A palavra sem âncora), tônicas ressaltadas por Arriete como constantes nos seus discursos literários poéticos. Para a autora: "O exercício de toda uma vida literária, de dedicação única à literatura”.

* Matéria publicada no domingo, 18 de abril de 2010.