Pesquisas científicas avançam em AL

Cientistas de Alagoas para o mundo Pesquisa e inventos nos centros acadêmicos do Estado apontam para experimentos criativos e inovadores

14/09/2009 15h19 - Atualizado em 13/08/2014 às 06h58

 

Thiago Gomes - Repórter de O Jornal

  
É um trabalho dos bastido­res. Duas mentes pensantes -ou até uma só –E ansiosas por descobrir o oculto. É assim a rotina de um pesquisador. Em Alagoas, o ramo da iniciação científica vem crescendo e mostrando que grandes ideias podem surgir daqui e ganhar o mundo. E o caso do analis­ta de sistemas Leonardo Tor­res que de um projeto criou um software capaz de identi­ficar o usuário apenas pela forma como ele digita a senha no teclado numérico. O pro­fessor Doutor João Xavier, da Ufal, conseguiu descobrir substâncias em plantas medi­cinais capazes de inibir o crescimento de tumores malignos.
 
Estes casos são apenas dois que a reportagem de O JOR­NAL relata. Muitos outros nascem de um simples proje­to de pesquisa e acabam sendo patenteados como uma ideia inovadora.
 
A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem duas responsabilidades relevantes: tornar o aluno apto a ser in­serido no mercado de traba­lho e incentivar o surgimen­to de pesquisadores. De acor­do com Silvia Uchoa, coorde­nadora de pesquisa da insti­tuição, atualmente 470 estu­dantes são bolsistas financia­dos pelo Programa Insti­tucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e outros 163 são voluntários.
 
Eles estão distribuídos em cerca de, 300 projetos de ini­ciação científica.
 
De 1990, quando o Pibic foi criado, até 2009, a Ufal teve 13.783 bolsistas e 611 voluntários, segundo a coordenadora.
 
Estes colaboradores realizam pesquisa mesmo sem recebi­mento de bolsa e têm as mesmas atribuições do titular do projeto.
 
"A produção cien­tífica   da Ufal   está crescendo. Cada área tem benefícios de diversas   formas;   po­dem-se citar as pes­quisas com a cana-de-açúcar, com o melhoramento genético; as pesquisas raíz a das com doenças como leishmaniose; estudos de fármacos produzidos a par­tir de produtos naturais; estudo das línguas indígenas com a criação de um dicionário da língua; o aproveitamento de resíduos como materiais de contrução sustentável, entre outros, cita Silvia Uchoa.
 
Os trabalhos dos alunos são apresen­tados todos os anos, de forma obrigatória no Encontro de Ini­ciação Científica, que faz parte do Congresso Aca­dêmico da Ufal. Este ano, o evento tem data marcada para acontecer entre os dias  28 de novembro.
 
DEMANDA - Já o Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac), primeira instituição privada a implan­tar a iniciação científica no Estado, conta com atualmente com 85 bolsas financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Ala­goas (Fapeal), Pibic e pelo Programa Semente de Inicia­ção Científica - PSIC, da pró­pria faculdade.
 
A pesquisa no Cesmac foi iniciada em 2004, com 27 projetos fomentados. Até este ano, são 287 bolsas.
 
"O número de projetos inscritos no processo seletivo, este ano foi de cento e dezesseis para setenta bolsas ofertadas pelo Cesmac. Logo a demanda supera nossa ofer­ta. O Centro Universitário tem como meta atingir, em 2010, o número de cem bolsas de iniciação científica no in­tuito de atender à grande de­manda", revelou a coordena­dora do Programa de Rela­ções Internacionais da facul­dade, professora Doutora Enaura Quixabeira.Segundo ela, a maior con­tribuição que o Cesmac ganha com a pesquisa é "lançar no mercado de trabalho profis­sionais com formação apri­morada e com maior chance de acesso ao mestrado e dou­torado". A sociedade também ganha com o avanço nos pa­drões de excelência na educa­ção.


Pesquisa com plantas: redução de tumores

Quem nunca tomou um chazinho indicado por alguém quando o remédio está longe do alcance. A população brasileira desenvolveu um hábito consi­derado perigoso pelos pesquisa­dores. O uso das plantas como elemento fitoterápico e medici­nal tem os seus benefícios e os seus malefícios comprovados cientificamente. É o caso da ba­bosa, da graviola, aroeira, aveloz e do barbatimão, encontra­dos por qualquer pessoa em bancas espalhadas pela cidade.
O professor Doutor João Xavier de Araújo Júnior, do curso de Farmácia da Ufal, coor­dena, desde 2006, o projeto "Avaliação da atividade antitumoral de plantas medicinais e fitoterápicas utilizadas pela população de Alagoas". O trabalho já rende grandes resultados e é composto por candidatos ao Mestrado e alunos de iniciação científica.
O projeto tinha a finalidade de consultar pacientes com cân­cer, se tratando por quimiotera­pia, e que utilizavam plantas me­dicinais por confiarem no poder da natureza contra a doença ma­ligna. Surpreendentemente, os pesquisadores da Ufal constata­ram, após coletar, identificar e preparar os extratos (chás) que algumas delas apresentavam substâncias capazes de inibir a evolução de tumores malignos. Os experimentos foram realizados em camundongos.
"O estudo de tumores em animais é o primeiro passo para a pesquisa nesta área, por isso que esta espécie de animal foi utilizada nas pesquisas. Tes­tamos de três maneiras diferen­tes, uma com o camundongo para ver a indicação de toxidade, outra com as células tumorais e com tumores em crustá­ceos. Três plantas analisadas apresentaram atividade anti-tumoral in vivo (camundongos) e in vitro (em células tumorais)", explicou.
Para evitar que a população utilize os extratos para o pró­prio consumo de forma inade­quada, o professor João Xavier prefere não dizer quais foram as plantas medicinais que pos­suem substâncias ativas com ca­pacidade de inibir o crescimen­to de tumores.
"São resultados prelimina­res e o uso inadequado e sem comprovação científica destas plantas não é recomendado. O mesmo cuidado que se deve tomar com os medicamentos in­dustrializados, deve ter com o consumo destas plantas, que podem ser altamente tóxicas ao ser humano", acrescenta o pes­quisador da Ufal.
CHÁS -Além de falar sobre estas plantas medicinais, o pro­fessor alerta para o uso indiscriminado do boldo do chile, aque­le chazinho indicado para dis­funções gastrintestinais. O prin­cípio ativo da erva, caso,seja con­sumido por muito tempo, pode provocar problemas graves na visão, um deles poderia ser o deslocamento da retina. A cabacinha, muito usada pelas mu­lheres, teria propriedades abor­tivas.
Comprovado mesmo, se­gundo exemplificou o profes­sor João Xavier, é o poder cal­mante contido nas folhas do ma­racujá e nas flores da camomi­la. No entanto, os estudos ainda estão no início e não podem ser tratados como oficiais."Atualmente, para se colo­car um medicamento no mer­cado, uma série de cuidados são tomados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]. E se um deles provocar a morte de algum paciente, a tendência é que seja retirado das farmá­cias o quanto antes. Os medica­mentos com base natural tam­bém estão seguindo as mesmas normas", disse o doutor.
João Xavier adianta que o fi­nanciamento do projeto sobre as plantas medicinais será en­cerrado nos próximos meses, mas as pesquisas continuam in­dividualmente. O próximo passo será identificar as subs­tâncias contidas nestas ervas que conseguiram inibir o avanço do tumor maligno.