Setor canavieiro convive com uma nova ameaça

A ferrugem alaranjada, doença muito antiga da cana-de-açúcar, inquieta o setor canavieiro e pode chegar ao Brasil, a qualquer momento, através do ar

14/05/2009 09h26 - Atualizado em 13/08/2014 às 00h44
Ferrugem alaranjada

Ferrugem alaranjada

Rose Ferreira - jornalista

Em 2000, a ferrugem alaranjada chegou à Austrália, causando um prejuízo de 45 a 50% dos canaviais. Entre 2007 e 2009, a doença alcançou Estados Unidos, Costa Rica, México, Guatemala e Nicarágua. Agora, a preocupação de alguns especialistas brasileiros é quanto à chegada da temida ferrugem alaranjada da cana (Puccinia kuehnii) no país, já que está comprovada a fragilidade de uma das espécies mais cultivadas no Centro-Sul, a RB 72454.

“Esta doença se manifesta em épocas úmidas e seus sintomas são manchas pequenas, arredondadas e bastante agrupadas. Possui esporos alaranjados, e não é difícil de diferenciar microscopicamente dos esporos da ferrugem marrom (Puccinia melanocephala), comum no Brasil”, explica Marcelo Cruz, engenheiro agrônomo e professor de Fitopatologia do Centro de Ciências Agrárias (Ceca).

Apesar de ainda não estar no Brasil, a doença pode repetir a história da ferrugem marrom na década de 80. A Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa) tem desenvolvido importantes ações como a visita do pesquisador-fitopatologista Dr. Robert Magarey (BSES-Austrália), ao Paraná, São Paulo e Alagoas; missão técnica a Austrália em outubro de 2008, com ida de dois pesquisadores da UFSCar (Marcos Sanches e Alfredo Urashima), objetivando conhecimento da doença e firmar parceria com órgãos de pesquisa locais; missão técnica a Costa Rica em dezembro de 2008, com ida de dois pesquisadores (Hermann Hofmann - UFSCar e Marcelo Cruz - Ufal), acompanhados de um assessor técnico (Guilherme Rossi), que é conhecedor dos canaviais desse país; participação de fitopatologistas da Ridesa com palestras em reuniões com produtores e eventos regionais; e cruzamentos na Serra do Ouro para obtenção de variedades RB têm levado em consideração parentais resistentes à doença.

Na visita a Costa Rica, foram observados os comportamentos de variedades brasileiras cultivadas em algumas regiões (cerca de 30 materiais genéticos) e foi firmado um acordo de cooperação técnica entre Ridesa e LAICA-DIECA, o que motivou o envio de 75 materiais genéticos RB entre janeiro e abril de 2009, registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Esses materiais já se encontram em quarentena, para testes de avaliação do comportamento desses genótipos à doença.

“Mas isso ainda é muito pouco, a ameaça é grande, e o governo federal deveria ter ações mais efetivas junto a instituições que enfrentaram e resolveram o problema da ferrugem marrom”, avalia Geraldo Veríssimo, coordenador do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (PMGCA/Ufal).

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