Comemorações do 8 de março refletem avanços


26/02/2009 08h30 - Atualizado em 13/08/2014 às 00h13
Caminhada das Mulheres - foto tudonahora

Caminhada das Mulheres - foto tudonahora

Por Jacqueline Freire – estagiária de Jornalismo

As comemorações do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foram iniciadas na sexta-feira, no auditório da Reitoria da Ufal, com a participação de alunas, funcionárias, professoras e comunicade acadêmica em geral.

A mesa de abertura, presidida pela reitora Ana Dayse Dorea, refletiu as várias áreas de atuação, além das diferentes culturas e manifestações religiosas onde as mulheres estão inseridas e são lideranças. Em seguida aconteceu uma Mesa Redonda com o tema “Gênero, Trabalho e Violência: a Saúde em Foco”. No período da tarde, serão realizadas oficinas sobre temáticas relacionadas à Mulher.

Já no domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foi realizada uma caminhada na orla marítima. As atividades conjuntas foram promovidas pelo Sintufal, Adufal, Atufal e Progep/Ufal.

Núcleo Temático da Ufal estuda a questão da mulher

As comemorações do dia 8 de março refletem os avanços na organização feminista na sociedade. Segundo a professora Elvira Barretto, diretora do Núcleo Temático Mulher e Cidadania, é perceptível que gradativamente as ações de combate à violência contra a mulher vêm ganhando destaque na mídia, e isso é um ganho para a sociedade. “O bom é que estas ações vêm sendo incorporadas às discussões de violência como um todo. A sociedade deve se voltar para esse tema de forma geral, não somente em relação à mulher. A violência que a mulher vivencia é uma consequência das relações de miséria que vemos hoje, das questões mais profundas do ponto de vista humano”, diz.

A professora conta ainda que os movimentos de mulheres têm trazido a tona diversos temas que antes não eram muito discutidos, temas privados e da intimidade, como as discussões sobre sexualidade, Aids e outras doenças. “Mesmo assim, a estrutura político-social de apoio a essas mulheres ainda é frágil, quase inexistente. Precisamos de equipamento tanto na prevenção como no enfrentamento da violência”, afirma. Para a professora, do ponto de vista do trabalho, ainda há contrariedade, pois “na medida em que as mulheres conquistam a igualdade de direitos, a precarização do trabalho para homens e mulheres vem aumentando”.

Ainda assim, há muito o que comemorar, segundo Elvira Barretto. “Não se negam as conquistas”, diz. “Hoje se discute salários;  temas complexos vão a público e são problematizados no sentido de buscar soluções. Mesmo assim, a saúde da mulher ainda é uma via-crucis no Estado, principalmente na hora do parto, pois se banaliza a vida, tanto da mãe quanto da criança, que não tem serviço privado de saúde, sem se preocupar com danos psíquicos e morais que possam afetar a vida dos dois”, denuncia.

No campo da sexualidade a professora Elvira Barreto faz um alerta. “Há que se ter cuidado com o que foi conquista e o que é uma lógica de mercado. A relação entre a vivência saudável e livre da sexualidade, que é uma bandeira, incorporada por uma lógica de mercado e consumo, passando a ser um modelo de mulher, corpo e sociedade divulgados pela mídia. Essa autonomia da mulher vai se perdendo, mas o pior era a moralização da sexualidade, os danos eram maiores”, afirma. Para a professora, ainda existe o mito da “Eva que tentou Adão”, as mulheres tendem a se sentir culpadas por sua autonomia.

Segundo a professora, as mulheres precisam agir coletivamente em busca por seus direitos, mas a luta deve começar internamente, de forma individual. “Elas devem superar as normas fixas de gêneros, os estereótipos que estruturam a identidade feminina e partem de valores que vão fortalecer o conservadorismo”, avalia e dá um conselho: “Devemos buscar romper essas normas fixas tradicionais de feminilidade, da centralidade dos homens na vida das mulheres, da idéia de que a realização feminina só vem com o casamento, dos padrões estéticos impostos pela mídia. Se não rompermos com isso, nenhuma mudança será feita, pois precisamos renascer de uma ordem que nos impõe modelos convenientes. É uma atuação coletiva, mas também incessante de superação dos estereótipos, atitude que não depende do outro, só de nós”.

O Núcleo

O NTMC surgiu há 20 anos, com a concepção de que é indissociável das esferas ensino, pesquisa e extensão. Segundo conta a professora Elvira Barretto, uma das primeiras atividades do núcleo foi a oficina para mulheres líderes populares, direcionada para um público que mora nas áreas circunvizinhas à Ufal e da Vila Brejal. Desde então, foi criado um vínculo entre a Universidade e a comunidade. Os trabalhos realizados a partir daí se concentraram no sentido de fortalecer este vínculo.

No campo da extensão, as atividades do Núcleo têm buscado vincular as organizações de mulheres nas diversas esferas política e social, nos conselhos de igualdade de gênero e de direitos. Dentre as ações realizadas estão o Cinefórum e um projeto ligado à educação a distância, voltado para professores do ensino médio e trabalhando com a temática Gênero e Diversidade. Todos esses projetos têm participação ativa de estudantes.

O Núcleo também trabalha com diversas atividades de pesquisa, estudando o papel da mulher em diversos campos da sociedade, a exemplo dos estudos sobre a saúde das mulheres quilombolas, realizada pela professora Aparecida e professor Riscado. Uma outra pesquisa de grande repercussão foi a que fez a radiografia da presença da mulher na Ufal, marcando a atuação de discentes, docentes e técnicas administrativas na Universidade nas décadas de 1970, 1980 e 1990, coordenado pela professora Izabel Brandão. Além disso, o NTMC também organiza periodicamente a coleção Gênero e Cidadania, tratando de temas como violência, meio ambiente, saúde, ciências, entre outros.