Grande atração do Festival de Música, Gismonti emociona fãs e lota teatro

Multi-instrumentista parecia flutuar no palco e seus dedos pareciam dançar nas teclas do piano
Por Jamerson Soares – jornalista / Fotos: Allerson Jesus e Bruno Vieira
19/10/2023 14h44 - Atualizado em 19/10/2023 às 14h44

Ao abrir oficialmente a programação de apresentações musicais do Festival de Música de Penedo, na terça-feira (17), o multi-instrumentista, compositor e ícone da música brasileira, Egberto Gismonti, emocionou fãs e todas as pessoas presentes ao Teatro Sete de Setembro ao apresentar seu concerto.

Com uma touca de crochê laranja, vestido de camisa longa cor de céu ensolarado, cabelo comprido e branco, Egberto parecia flutuar em seu compasso frenético, de olhos fechados, e seus dedos pareciam dançar nas teclas de seu piano progressivo. Sucessos como Ruth, composição feita por ele tendo como inspiração sua mãe; Palhaço, Água e Vinho, foram tocadas por ele durante a apresentação.

Antes de começar a tocar seus trabalhos autorais, o músico embalou a plateia com Eu vou p’ra Maracangalha, de Dorival Caymmi, canções de ninar e de infância, como o Boi da Cara Preta. Essa foi tocada sob uma espécie de subversão adaptada ao seu estilo contemporâneo de música, sensações que podem ser encontradas nos discos Sonho 70 (1970), Corações Futuristas (1976) e Em Família (1981). Releituras de composições de Tom Jobim e Pixinguinha também foram apresentadas pelo artista.

Entre uma e outra música, Egberto contou alguns causos e histórias sobre o que motivou a escrita das suas composições autorais e também sobre sua infância. "Meu pai adorava cinema mudo e de valsas, acho que foi daí que me interessei por fazer música", comentou ele, que já gravou trilhas sonoras para filmes, séries e novelas, como Karup (1989), Amazônia (1991) e O Pagador de Promessas (1988). Só para ser ter uma ideia da importância do músico brasileiro e do quanto ele é querido e respeitado, tem um quadro com sua foto pendurado em um dos museus da Alemanha, ao lado de uma tela do retrato de Beethoven.

Antes de se apresentar, durante os ensaios, todo artista tem um ritual de preparação. Com Egberto não foi diferente. Ele não costuma tocar em qualquer lugar e até pediu para a organização do Festival fechar as portas do teatro e desligar os aparelhos de ar-condicionado para ensaiar. "Na realidade o qualquer lugar existe, mas não quer dizer a respeito do teatro não, o teatro ajuda, mas qualquer lugar é lugar. Só espero que as pessoas gostem do que eu faço", disse o músico durante entrevista exclusiva para o site do Femupe.

Egberto também é íntimo da contradição. Ele contou que fez uma lista com as composições que seriam tocadas no concerto, mas acabou ignorando parte da seleção e tocou outros trabalhos: um certo improviso mágico que valeu a noite.

Para ele, estar em Penedo foi um privilégio e também foi interessante olhar para o público sorrindo ao ouvir suas músicas. "A nota que eu dou ao teatro e a vocês do Festival é 100. Não me interessa o que eu faço ou um balanço do que apresentei, porque as pessoas já sabem o que eu faço. A música tem que divertir, deixar as pessoas felizes, fazer dormir, estimular a sensação de tomar um sorvete, gritar, vibrar. Gosto de falar de sensações boas e de humanização das coisas. Só tenho a agradecer a todos vocês", concluiu.

"É um privilégio receber aqui esse grande artista. Ele escolher Penedo, para nós, é uma honra. Devido a história dele, da produção artística e centenas de discos gravados, isso o faz um ícone da música brasileira. O show de Egberto foi um grande acontecimento em Penedo. O som dele se multiplicou no palco, foi inesquecível", disse o coordenador-geral do Festival, professor Marcos Moreira.

Dois fãs de Egberto estavam emocionados na plateia e quase pulando ao encontro do músico. Um deles foi Josimar Alves, de 40 anos, de Arapiraca. Ele foi ao concerto para ver Gismonti de perto e também trouxe vários discos de vinil do artista para tentar conseguir autógrafos. E conseguiu.

"Sou músico e tenho ele como referência desde os meus 13 anos. A sensação é indescritível, me arrepiei várias vezes. Egberto é um cara que é referência para mim, nem acreditei quando vi. Foi um momento inesquecível, chorei muito durante a apresentação dele. Só tenho a agradecer ao pessoal de Penedo, à Prefeitura, à organização do evento. Estão de parabéns", comemorou Josimar.