Museu Théo Brandão entrega Prêmio Gustavo Leite ao artista Jasson

Homenagem também inclui a exposição O sol nasce para todos, que será aberta na mesma noite
Por Jacqueline Batista – Ascom MTB / Fotos Renner Boldrino
12/11/2021 09h01 - Atualizado em 12/11/2021 às 09h04
A museóloga Hildênia OLiveira, o diretor do MTB, Victor Sarmento, o o artista Jasson e o curador da exposição, Renan Quevedo

A museóloga Hildênia OLiveira, o diretor do MTB, Victor Sarmento, o o artista Jasson e o curador da exposição, Renan Quevedo

Do Sertão de Alagoas para o mundo. Assim tem sido a trajetória de Jasson, artista que alcançou espaços em importantes eventos de design no Brasil e fora do país. No dia 2 de dezembro, às 19h30, o Museu Théo Brandão (MTB) vai homenageá-lo com a entrega do Prêmio Gustavo Leite de Artista Popular de 2021, que chega a sua 14ª edição. No evento, que vai acontecer na Companhia Brasileira de trens Urbanos (CBTU), também haverá a abertura da mostra O sol nasce para todos, realizada pelo Museu, pela CBTU e pelo Projeto Novos para Nós.

Até o dia 2 de fevereiro, cadeiras, carrancas e esculturas são algumas das peças exibidas nesta primeira exposição individual de Jasson. Uma intervenção da artista visual Ser’tão vai compor a mostra, que tem a curadoria de Renan Quevedo.

O curador explica que o momento atual da pandemia foi uma influência para intitular a mostra O sol nasce para todos. “O nome da exposição traz esse sopro de esperança. A gente está passando pela pandemia. Se tudo der certo, caminhando para o final. Então, eu acredito que é um grande empurrão para as pessoas que trabalham muito com a resiliência, com o acreditar”, ressaltou Quevedo.

Antes de participar da mostra com uma intervenção que vai acontecer em um dos vagões antigos e no ponto de ônibus em frente à CBTU, a artista Ser’tão já vinha fazendo um trabalho em parceria com Jasson. “É uma honra imensa fazer parte com um pouco do meu trabalho. Estou muito feliz e lisonjeada. Estar no contexto em que esse artista vai ganhar um prêmio é emocionante. É supermerecido. Ele é um grande mestre, um ícone da cultura alagoana, com um trabalho que tem uma autenticidade absurda, tanto que está ganhando todo esse repertório, até mundial. Fui convidada pelo Museu e, ao mesmo tempo, eu e ele vínhamos executando um trabalho paralelo com a nossa arte. Foi uma congruência de coisas que deram certo”, contou.

O projeto expográfico da mostra foi realizado pela museóloga Hildênia Oliveira e pelas arquitetas Cynthia Fortes e Thaisa Sampaio. “Há quase um ano estamos planejando essa grande exposição. Foi um verdadeiro desafio fazê-la nesta pandemia, mas foi uma rica experiência para toda a equipe. O resultado é um projeto convidativo, colorido e vibrante, assim como a arte popular de Jasson. Carrancas, malas, as inigualáveis cadeiras e garrafas do mestre foram integradas às referências da paisagem sertaneja de onde foram criadas e traduzem a grandeza da obra deste nosso artista alagoano de renome internacional”, disse Cynthia Fortes.

O Sertão revelado em obra de arte

O artista, cujo nome de batismo é Jasson Gonçalves da Silva, nasceu em Belo Monte. Por volta dos 18 anos de idade, foi morar no interior da Bahia, onde viveu por 15 anos e trabalhou na construção civil. “Antes, eu trabalhei na roça e quando fui para a Bahia, aprendi a profissão de pedreiro e carpinteiro. Então, já comecei a trabalhar diretamente com madeira, levantava casa, rebocava, deixava pronta”, contou o artista, que voltou a trabalhar na roça quando retornou a Alagoas.

A entrada para o universo artístico aconteceu por volta de 2013. Antes de trabalhar com madeira na confecção da arte, Jasson fazia esculturas em gesso e cerâmica. A madeira transformada revelou o universo do Sertão em obra de arte e, aos poucos, a vida de Jasson foi mudando. “Uso madeira de diversas qualidades, não é um tipo só, o que eu vou encontrando pela frente, madeira morta, que não serve mais para o pessoal da região, eu busco e transformo em obra de arte. Até dois ou três anos atrás, vivia da agricultura e da arte, mas, hoje, passei a viver só da arte”, explicou.

No início do processo artístico, Jasson criava imagens religiosas nas esculturas em madeira. Com o tempo, a produção foi se diversificando e surgiram garrafas, carrancas, malas, cadeiras e esculturas da fauna e da flora sertanejas, com a marca e o colorido próprios do artista.

Outro momento decisivo nessa mudança de vida foi o encontro com o atual curador, o publicitário paulista Renan Quevedo. “Ele foi a minha luz no fim do túnel. Chegou aqui sem eu esperar, mas foi o início de tudo quando ele me lançou para o mundo e, hoje, eu não tenho palavras para descrever a emoção e a gratidão a Renan”, disse Jasson.

Em 2018, Renan estava em Alagoas, realizando um trabalho de pesquisa para o projeto Novos para nós – no qual ele percorre o Brasil contando as histórias de artistas populares – e ao passar por Batalha, soube que Jasson morava na região. “Eu tinha ouvido falar do trabalho dele com algumas galerias e colecionadores específicos. Conheci o ateliê e vi peças absolutamente incríveis. Embora ele tivesse toda uma capacidade e produzisse coisas sensacionais, na época, a parte mercadológica estava muito difícil. Nesse primeiro contato, eu já fiz questão de falar sobre o trabalho dele no ‘Novos para nós’. Escrevi a história e postei. Lojistas, galeristas, muitas pessoas me pediram o contato dele. Eu fiz questão de passar porque achava que ele deveria comercializar para mais pessoas do que estava vendendo na época e que pudesse ter um reconhecimento, uma valorização pelo trabalho. Em pouco mais de um ano, uma cadeira produzida por ele foi para a Semana de Design de Milão, ou seja, ele explodiu, ganhou o mundo. Muitas pessoas começaram a comprar dele. Ele passou a ter um retorno muito expressivo pelo trabalho”, contou o curador.

Pelo mundo

Foram várias participações em feiras e exposições de arte e design. Em 2017, peças de Jasson integraram a exposição Natureza: matéria e forma, uma das mostras do Mercado Arte Design (Made), uma feira internacional de design colecionável, que acontece na capital paulista. No ano seguinte, cadeiras do artista foram expostas na mostra Criativos por tradição, no Festival Artesol, sediado no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, do Rio de Janeiro.

Em 2019, Jasson estreou em feiras do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), participando de eventos em Pernambuco, São Paulo e Maceió. Uma de suas criações foi exposta na Design Weekend, a semana de design paulistana. O artista também foi destaque em jornais e portais de notícias de todo o país, com a notícia de que uma de suas obras esteve exposta no Salão Internacional do Móvel de Milão, evento considerado o maior do setor no mundo. Batizada de “O trono”, a peça de Jasson que foi exposta é uma cadeira multicolorida, com pássaros, carrancas e frutos da caatinga.

O prêmio

O curador considera a homenagem do MTB um enorme incentivo para o artista e outros artesãos locais. “Essa premiação do Museu para o Jasson é uma celebração. Fico muito feliz desse prêmio ser entregue. É um grande empurrão da economia local para que haja o despertar de outros na mesma produção, no entorno da cidade onde ele mora. Jasson me disse uma frase muito emocionante, que é a primeira exposição que ele vai na vida. Nada que consiga mostrar um grande reconhecimento da obra do que ele mesmo estando no centro dessa história”, disse Renan Quevedo.

A premiação realizada pelo MTB presta uma homenagem ao produtor cultural, iluminador e cenógrafo alagoano Gustavo Leite, que atuou junto aos artistas do interior do Estado, na divulgação e na comercialização de suas obras. Esta é a 14ª edição da entrega do prêmio.

Em 2019, foi instituída uma comissão para discutir e aprovar o nome a ser homenageado. Fizeram parte da comissão a museóloga Carmen Lúcia Dantas, os fotógrafos Celso Brandão e Jorge Vieira, o arquiteto Rodrigo Ambrosio, a galerista Maria Amélia, o diretor do MTB, Victor Sarmento, e a museóloga da instituição, Hildênia Oliveira. E o artista Jasson foi o escolhido para receber o Prêmio Gustavo Leite.

Artista revelado

Jasson conta que se surpreendeu após confeccionar as obras iniciais e que o resultado foi um aumento do incentivo. “Quando eu fiz as primeiras peças, aquilo me chamou muito a atenção e dali eu fui me inspirando em cada peça que eu fazia. Me incentivei em mim mesmo. A inspiração surge do dom que Deus deu. Quando, durmo eu sonho com uma peça e na manhã seguinte eu já coloco a mão na massa. Eu não aprendi ainda, estou aprendendo. Quanto mais a gente trabalha, mais a gente aprende porque o artista não sabe, o artista cria”, declarou.

A exposição é gratuita e ficará aberta de terça a sexta, das 9h às 16h, e aos sábados, das 12h às 16h, na Estação Ferroviária, sede da CBTU, no Centro de Maceió, próximo à Praça dos Palmares. Serão adotados todos os protocolos de segurança com relação à covid-19.

Serviço:

O quê: exposição O sol nasce para todos
Abertura: 2 de dezembro, às 19h30
Quando: Até 2 de fevereiro
Horário: de terça a sexta, das 9h às 16h, e aos sábados, das 12h às 16h
Onde: CBTU – Rua Barão de Anadia – 121, Centro

Entrada gratuita.