Manejo alimentar do peixe “xira” vira pesquisa do Laboratório de Aquicultura

Estudo com espécie nativa curimatã-pacu busca povoamento no São Francisco e já resultou em dissertação de mestrado
Por Diana Monteiro – jornalista
23/04/2021 14h32 - Atualizado em 23/04/2021 às 15h39
Professor Elton Santos, do Campus de Engenharias e de Ciências Agrárias

Professor Elton Santos, do Campus de Engenharias e de Ciências Agrárias

O Grupo de Pesquisa de Aquicultura do Campus de Engenharias e de Ciências Agrárias (Ceca) tem em andamento estudos científicos com a espécie curimatã-pacu, nativa do Rio São Francisco, popularmente conhecida como “xira” e muito apreciada pela população das cidades ribeirinhas. Os estudos buscam transformar a espécie num peixe de criatório e possibilitar a reprodução para povoamento no rio.

A espécie curimatã-pacu apresenta baixa reprodução e, segundo os pesquisadores, essa realidade pode ter entre as causas a poluição e a diminuição de vazão das hidrelétricas. Dentre as experiências contempladas pelas pesquisas estão: alimentação, manejo alimentar, exigências nutricionais, sistemas de criação, uso de alimentos alternativos e sobre a fisiologia da espécie.

De acordo com o professor Elton Santos, mestre e doutor em Nutrição Animal e coordenador dessa área no Laboratório de Aquicultura (Laqua), não se tem muitos estudos sobre a criação do curimatã-pacu, o que é, na maior parte, apenas obtida da pesca exploratória, e, dessa forma, sub-utilizada como espécie cultivada, o que poderia ter um grande potencial.

“No passado era uma das espécies mais pescadas no Rio São Francisco, no entanto, ultimamente, a sua captura vem diminuindo e os peixes pescados estão cada vez menores. A baixa reprodução pode ser atribuída, ainda, à exploração desenfreada dos estoques pesqueiros das espécies, da diminuição do rio ao longo dos anos e também por causas antropogênicas, ou seja, provocadas diretamente pela ação do homem, a exemplo da poluição causada por esgotos domésticos”, revelou Santos.

O professor relata que as pesquisas com a espécie curimatã-pacu começaram há cerca de cinco anos com estudos das exigências nutricionais, testes com alimentos alternativos na ração e estratégias de manejo alimentar. Recentemente ele orientou a pesquisa de mestrado do aluno Jurandyr Reis Neto, intitulada de Manejo alimentar para curimatã-pacu Prochilodus argenteus, envolvendo ciclos curtos de restrição alimentar e realimentação. Foram avaliados os efeitos de regimes de restrição e alimentação no desempenho produtivo e aspectos fisiológicos em alevinos da espécie.

A pesquisa, para verificar se a privação alimentar afetaria o crescimento de juvenis do peixe “xira”, foi dotada de etapas de testes com diferentes períodos de privação alimentar e realimentação, além de análises do desempenho produtivo. Também foram realizados estudos para a análise da composição corpórea, do estresse oxidativo, da imunidade, da fisiologia digestiva e do comportamento social da espécie.

Segundo Santos, o estudo concluiu que a adoção de até dois dias de privação alimentar seguidos de cinco dias de realimentação até a saciedade pode ser aplicada em alevinos curimatã-pacu sem que haja comprometimento do seu desempenho zootécnico e estado fisiológico. “Isto pode ser benéfico, vista a aplicação na prática dentro de uma piscicultura, pois, observou-se que deixar de alimentar os animais durante dois dias, o que poderia ser traduzido a um final de semana, não afetaria o desenvolvimento final dos peixes, se comparado aos animais alimentados todos os dias”, enfatizou.

O professor complementa que, na natureza, os peixes, inclusive a espécie alvo das pesquisas, passam por períodos de escassez de alimento, devido ao clima ou outros fatores naturais. Entretanto, quando a alimentação é farta e disponível, esses animais tendem a compensar o período em que estiveram de jejum, aproveitando melhor os nutrientes da dieta. Esse mecanismo de adaptação fisiológica é conhecido como “ganho compensatório”, que pode se igualar ou até ser superior em relação ao ganho de peso, se comparado a animais que não passaram por esse período de privação.

Incremento econômico

O pesquisador destacou que na prática da criação do curimatã-pacu em cativeiro foi observado que se os animais passam por um período curto de tempo com privação de alimento, esse efeito compensador em relação ao ganho de peso pode ser lucrativo ao produtor, pois ele pode diminuir o gasto de mão de obra para alimentar os animais. Inclusive, até diminuir o consumo de ração total, sem a perda de desempenho dos animais.

Sobre a contribuição do estudo como incremento à atividade pesqueira de Alagoas, Santos destaca: “O estímulo à criação em cativeiro de peixes nativos, a exemplo da ‘xira, pode ser considerada uma atividade sustentável pela importância ambiental que apresenta, já que, com o aumento do cultivo, diminui-se a pesca predatória dos ambientes aquáticos em busca desse pescado. Além de ser uma fonte de renda planejada, principalmente ao pequeno produtor rural, que teria peixe na época certa de despesca, na quantidade necessária e com grande aceitação pelo mercado consumidor”.

Atividades

Professor das disciplinas aquicultura e aquicultura agroecológica para os cursos de Zootecnia e Agroecologia da Ufal, no Laboratório Laqua, Elton Santos orienta várias pesquisas nas diversas temáticas dessas áreas, inclusive coordena um grupo de pesquisa do CNPq. Um estudo em andamento tem como foco ecotoxicologia aquática frente a diversas substâncias tóxicas, a exemplo dos agrotóxicos, com várias espécies de peixes nativos e exóticos.

Além de Elton Santos, a equipe do Laboratório de Aquicultura da Ufal é composta pelos professores Emerson Soares, Themis de Jesus, Priscylla Dantas e a bióloga Maraísa Bezerra. As atividades científicas também contam com a participação de vários alunos da graduação e do mestrado, envolvendo, praticamente, toda comunidade acadêmica do Ceca.

Conheça as ações científicas do Laqua pelo site e pelo perfil do laboratório no instagram