Ações solidárias da 3ª Expedição Científica beneficiam ribeirinhos

Atividades de saúde e educação contemplaram estudantes dos municípios por onde o projeto passou
Por Diana Monteiro – jornalista
18/12/2020 16h04 - Atualizado em 19/12/2020 às 07h32
Crianças de escolas públicas tiveram atendimento e noções de saúde bucal

Crianças de escolas públicas tiveram atendimento e noções de saúde bucal

Navegar 350 quilômetros durante dez dias pela bela Região do Baixo São Francisco, para os participantes da 3ª Expedição Científica liderada pela Universidade Federal de Alagoas, representa sempre a oportunidade de contribuir com importantes estudos científicos para a melhoria e conhecimento aprofundado de uma realidade de vasta degradação ambiental que acomete a flora e fauna do famoso e conhecido Rio da Integração Nacional. Mas também é uma oportunidade de desenvolver algumas ações para beneficiar a população ribeirinha, principalmente estudantes da rede pública.

Nesse contexto merece destaque a importância das comunidades ribeirinhas como aliadas para que, a cada edição, do considerado atualmente o maior evento científico no Rio São Francisco e com maiores ações científicas já realizadas em águas interiores brasileiras, atinja o seu objetivo, que é o de transformar a realidade local em melhores políticas públicas, por meio da valorização do meio ambiente e consciência ambiental. Assim como apresentar ações mais efetivas para resolução dos problemas que afligem comunidades ribeirinhas e organismos aquáticos.

Coroada de êxito, assim como as duas primeiras edições, pelo avanço e ampliação das pesquisas, novas descobertas, aprofundamento do conhecimento no mais amplo aspecto da região, a edição deste ano enfrentou muitos desafios para a realização, mas vencidos a partir do momento que etapas tiveram que se adequar à realidade da existência de uma pandemia, ainda em curso. Este ano não foi possível a visitação, pela comunidade escolar ribeirinha, aos barcos laboratórios da Expedição. A atividade, ao tempo em que proporciona conhecimento científico, configura-se como importante para a conscientização ambiental, fazendo a interação dos pesquisadores como os principais atores para mudanças de realidades na região.

A interação com as comunidades ribeirinhas, este ano, teve destaque com ações promovidas nas áreas de saúde e educação tendo como público-alvo estudantes de escolas públicas de municípios alagoanos e sergipanos. A distribuição de cerca de cinco mil kits da Colgate, sob a coordenação da pesquisadora Christiane Feitosa, do Campus Arapiraca, com participação do professor José Vieira Silva, proporcionou orientação sobre reeducação alimentar e saúde bucal, por meio de palestras e atividades práticas, a exemplo de escovação correta e cuidados dentários. Constatou-se que, mais de 40% das crianças envolvidas nessas ações estão acometidas de cárie, verificando-se também, perda de dente numa significativa parcela. Uma realidade comprometedora para a saúde bucal, mas que amplia áreas de atuação da expedição, importante parceira de conhecimento e orientação.

Outra marcante atuação executada pela equipe participante da Expedição se deu na área de educação em duas escolas ribeirinhas alagoanas com a distribuição de equipamentos para ampliação de práticas pedagógicas. A Escola Municipal de Educação Básica General Arthur da Costa e Silva, localizada no município de Igreja Nova, e o Grupo Escolar Municipal Messias Calumby, em Piaçabuçu, receberam, cada uma, um notebook e um datashow. Segundo o coordenador da Expedição, Emerson Soares, posteriormente haverá a doação de equipamentos de som (caixas) para os respectivos estabelecimentos de ensino e assim otimizar as ações de educação no mais amplo aspecto.

Avanços e descobertas

“A Expedição superou as expectativas, mesmo realizada nesse tempo de pandemia. A organização, o cuidado, o envolvimento da equipe, a determinação e o compromisso com o trabalho, resultaram em positividades além do esperado. No contato mantido com as prefeituras e secretários dos nove municípios visitados a interação entre gestores, educadores e a equipe de pesquisadores foi muito positiva. Sem falar do quanto fomos muito bem recebidos na maioria das cidades ribeirinhas alvos da expedição”, destacou o coordenador geral do evento científico Emerson Soares, da Ufal.

Emerson chama a atenção para um cenário diferente de 2018 e 2019 quanto ao aumento de vazão na Região do Baixo São Francisco. Este ano foi verificado que o Baixo São Francisco, está com maior volume e vazão de 2.700 metros cúbicos, em relação aos estudos dos dois anos anteriores. Outra boa notícia é que a meta da terceira edição foi superada, com mais quatro novas áreas de trabalho concluídas, em relação às duas expedições realizadas. Resultados parciais apontam também a descoberta de novos sítios arqueológicos. A conclusão da batimetria e topologia do rio, assim como catalogação de alguns animais da fauna terrestre, constituem a ampliação e dinamismo nos estudos científicos em prol do Velho Chico.

Mesmo com avanços verificados pela equipe de pesquisadores, permanece a desafiante realidade de degradação ambiental na região. Mapeamento realizado contatou desmatamento em todos os municípios ribeirinhos. Sobre a preocupante, contínua e grave situação ambiental que acomete o rio, Emerson complementa: “A Região do Baixo São Francisco continua com problemas graves de lixo, esgotos, desmatamento, erosão e problemas relacionados à pesca e com a fauna aquática. O mais preocupante foi observar problemas graves de erosão, desrespeito quanto à quantidade de poluentes lançados no rio e pesca irregular no período de defeso ou reprodutivo das espécies pesqueiras”.

Segundo o pesquisador, todos os problemas ambientais observados nos anos anteriores continuam na região, inclusive preocupa a equipe científica o sumiço de espécies da flora e fauna terrestres. A boa notícia este ano foi o maior volume de águas no rio e aumento da vazão, o que favoreceu as espécies aquáticas e deverá permitir a maior diluição dos poluentes no rio.

A expedição da Ufal é realizada em parceria com o Comitê do São Francisco, Ministério da Ciência e Tecnologia e (MCTI) e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba). Mas a possibilidade de firmar novas parcerias para fortalecimento das ações também consiste como saldo positivo da edição deste ano. “Há o comprometimento da Marinha em colaborar com a expedição, e também a possibilidade de envolvimento de alguns municípios ribeirinhos, por meio dos futuros prefeitos que assumem o cargo em janeiro de 2021. O que significa uma importante ampliação e fortalecimento das ações em prol do Velho Chico para a realização da edição do evento ano que vem dando continuidade aos estudos científicos naquela região”, comemorou Soares.