MTB recebe universidades do RJ para trabalho em prol do acervo sonoro

Em breve será assinado um termo de cooperação técnica
Por Jacqueline Batista - jornalista
21/09/2023 15h33 - Atualizado em 21/09/2023 às 15h33

O Museu Théo Brandão (MTB) recebeu o professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Wagner Chaves, e a professora de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Elizabete Mendonça, para conhecer suas coleções e, junto ao reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, ao pró-reitor de Extensão, Cézar Nonato, e à equipe do Museu Théo Brandão (MTB), articular e unir esforços para trabalhar em prol do acervo sonoro de Théo Brandão, sob a guarda do MTB e do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/IPHAN). O último também parceiro nesse trabalho.

O objetivo da parceria é identificar o acervo sonoro, agregar pesquisas antropológicas e, futuramente, digitalizar e promover a difusão desse conhecimento. Em breve, será assinado um termo de cooperação entre as instituições envolvidas.

Além das peças que compõem o acervo tridimensional do MTB, outros tipos de acervo fazem parte do Museu. São as fotografias, documentos e registros sonoros deixados por Théo Brandão. No acervo sonoro, além do material gravado, há um catálogo identificando essas gravações. A maior parte desses materiais é fruto de pesquisas realizadas pelo patrono do MTB.

Especificamente o acervo sonoro vem sendo objeto de estudo do professor Wagner, que atualmente coordena a pesquisa “Os registros sonoros de Théo Brandão: identificação e estudo dos itinerários de uma coleção fonográfica”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), que será finalizada em 2025. “A documentação sonora realizada por Théo Brandão, juntamente com os mestres e mestras da cultura popular alagoana, durante trinta anos, configura um precioso e ainda pouco conhecido acervo fonográfico”, destacou Wagner.

Em 1979, Théo Brandão enviou uma parte desse material sonoro ao Centro Nacional de Folclore, no Rio de Janeiro. O material foi digitalizado e deu origem à “Coleção Théo Brandão”. Em 2013, uma cópia dessa coleção foi enviada para o MTB, como resultado da parceria firmada, no ano anterior, entre o CNFCP e o MTB, com um Termo de Cooperação Técnica.

O material sonoro, sob a guarda do MTB, é dividido em 226 fitas cassetes, 109 fitas rolo e 45 discos de metal. Atualmente, a cooperação entre as quatro instituições visa ampliar o trabalho desenvolvido até agora. Para isso, será elaborada uma minuta com os objetivos de cada instituição para desenvolver um termo de cooperação. “Vamos comparar o material que está no Museu e no Centro Nacional de Folclore para tentar recompor a coleção. Por isso que esse trabalho conjunto é de suma importância. Théo Brandão gravou em suportes diferentes, começando com discos de acetato, passando pelas fitas de rolo até chegar às fitas cassete”, explicou Wagner.

Na visita ao MTB, os professores fizeram o reconhecimento do acervo, apresentaram a proposta de trabalho aos servidores e bolsistas do Museu e, em seguida, aos gestores da Ufal. Ambos os pesquisadores visitantes consideram fundamental que, após a realização do trabalho técnico inicial, que o acervo seja disponibilizado e compartilhado. “Nossa ideia é conhecer melhor o acervo para então compartilhar essas gravações com os músicos, tocadores, coletivos e demais interessados nas musicalidades e sonoridades alagoanas. Pretendemos que esses registros possam ser ouvidos e reverberem em múltiplas direções, aproximando o museu e suas coleções da sociedade. Que as vozes dos mestres e mestras dos xangôs, guerreiros, maracatus, cheganças e tantas outras belas expressões da cultura popular alagoana, adormecidas e silenciadas, ganhem nova vida com a democratização do acesso a esse material, disse o professor.

Desencastelar” o patrimônio dos museus

A professora Elizabete, que é coordenadora adjunta do projeto do CNPq, também destaca a necessidade de pensar em trabalhar esses objetos não apenas como pesquisa, como trabalhos isolados, mas pensar em estruturar processos mais participativos, e, futuramente, pensar na difusão desse acervo. “Confrontar os inventários das instituições e a partir dessas três narrativas, desses olhares, não focar apenas no suporte físico, mas pensar as performances que estão relacionadas, agregando a esse processo. Fazer uma documentação participativa, um processo de documentação multivocal com o olhar do técnico, do pesquisador e de quem detém o conhecimento. A partir disso, juntar esses olhares e potencializar não apenas a recuperação do material no MTB e no Centro de Folclore”, salientou.

A pesquisadora explica que a ideia é apresentar o acervo com o conhecimento produzido por esse projeto, a partir do trabalho de Antropologia e dos conhecimentos construídos por outras narrativas. Elizabete ressalta que atualmente a pauta é o capital popular e que é necessário que os museus sejam espaços políticos e de representação, que revejam estruturas acadêmicas. “Hoje, se pensa os mestres desses saberes na participação desse processo. Os museus são espaços ativos que devem dar retorno a quem eles representam. Temos que buscar essa construção do saber, que não seja mais centrada no olhar da Academia. A grande discussão atual é pensar na cogestão dessa informação. É ter uma participação cidadã emancipadora. Isso é rever o nosso papel político. O patrimônio só tem sentido se tiver ressonância. O patrimônio dos museus tem que se ‘desencastelar’. O museu é um espaço de políticas públicas. É pensar as coleções respeitando as narrativas institucionais, mas qualificando essas narrativas, unindo essas leituras, juntar esses olhares, entender a vida social desse objeto para qualificar essa documentação”, disse.