Arquivo Público do Estado de Sergipe faz homenagem a servidora da Ufal

Maristher Moura Vasconcellos foi homenageada durante a comemoração dos 98 anos do Arquivo sergipano
Por Diana Monteiro – jornalista
26/11/2021 18h57 - Atualizado em 29/11/2021 às 14h46
Maristher (de preto) recebendo a homenagem

Maristher (de preto) recebendo a homenagem

Passar a fazer parte da galeria de ex-diretores do Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes) é motivo de muito orgulho e de comemoração para Maristher Moura Vasconcellos, arquivista e servidora da Universidade Federal de Alagoas. No último mês de outubro, o Apes comemorou 98 anos de criação e se destaca como um importante órgão estadual sergipano pela trajetória marcada por relevantes trabalhos prestados à sociedade na sua área de atuação.

Maristher foi diretora do Apes de 1974 a 1975 e foi a primeira arquivista a assumir a direção daquele órgão. Em março deste ano, ela completou 50 anos de atuação na área da Arquivologia e da Arquivística, no tratamento e treinamentos para a melhoria da qualidade dos serviços de Arquivos Públicos, Institucionais e privados. Aproveita para fazer uma breve retrospectiva de sua atuação profissional iniciada no estado em que nasceu e contar um pouco da história que a levou a ser homenageada:

“O Arquivo Público do Estado de Sergipe foi desativado do local onde funcionava e o acervo documental existente sob a sua custódia estava recolhido nos porões do subsolo de um espaço físico no prédio da antiga Escola Normal, localizada na Praça da Catedral, Centro de Aracaju. O local funcionava como um depósito de documentos, sem nenhuma organização documental. Apenas era um depósito de documentos do Governo de Sergipe”, relembrou a servidora.

Complementa dizendo que, tudo começou em 1971, quando era aluna do curso de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde se graduou: “Como aluna de História, junto com os demais estudantes do curso, recebi o convite da professora Beatriz Góis Dantas, da UFS, para participar da higienização e transferência do acervo documental para o espaço físico no prédio da antiga Escola Estadual Atheneuzinho. Para esse espaço foi transferido todo o acervo documental do Apes, acumulado no prédio da antiga Escola Normal, onde funciona hoje o Museu do Homem. O Arquivo Público ocupa, atualmente, o mesmo espaço onde está o Palácio do Governo de Sergipe, prédio do antigo Tesouro do Estado, situado à Praça Fausto Cardoso”.

Para o trabalho de organização do acervo documental histórico do estado sergipano, a equipe de alunos e funcionários do Arquivo Público recebeu treinamento do Arquivo Nacional. Um técnico foi enviado para a citada e importante atividade, cuja organização da documentação foi feita pelo método Respect des Fonds (Respeito dos Fundos), que, segundo Maristher, é o mesmo utilizado na França.

A França é o ‘berço da arquivologia do mundo e dispõe de uma Escola Preparatória para alunos que forem aprovados para trabalhar nos arquivos franceses, a conhecida École des Chartes. Essa escola foi criada na época do Imperador Napoleão Bonaparte, demonstrando todo o cuidado e importância relevante na preservação, conservação e tratamento da sua documentação. Desde a produção da informação até guarda definitiva da documentação histórica, propriamente dita”, explicou Maristher, ao relembrar o trabalho desempenhado e que foi marcante em sua formação acadêmica, em toda sua trajetória profissional e de vida.

Dizendo-se apaixonada pela profissão de arquivista, que a partir da década de 1990 começou a registrar um crescimento com novas legislações, criação de cursos de graduação e pós-graduação, Maristher diz que a homenagem recebida foi muito gratificante: “Como ex-diretora, tenho a satisfação em ver a evolução do Arquivo Público de Sergipe, tão importante para a pesquisa, e o cuidado no tratamento da preservação da memória de um Estado e da sua população, uma vez que a gama de documentos é bastante variada. Além da produção da informação de valor histórico, há também a doação de acervos privados de historiadores e intelectuais sergipanos, que vêm enriquecer o acervo documental existente, custodiado pelo Apes.

Relevantes trabalhos

Toda homenagem retrata trajetórias e quanto se trata de destaque profissional é motivada por relevantes trabalhos prestados à sociedade, por exemplo. Na trajetória profissional da homenageada, são inúmeras as motivações permeadas pelo empenho e pela dedicação ao trabalho, marcados em suas cinco décadas de atuação e ainda em curso.

Como historiadora e pesquisadora em seu estado de origem, Maristher executou alguns trabalhos relevantes em conexão com essa área de atuação. A exemplo do estudo que realizou sobre os Sobrados de Azulejos Portugueses da cidade de Estância e também o trabalho com foco nos prédios tombados nas cidades históricas de São Cristóvão – quarta cidade mais antiga do Brasil – e Laranjeiras.

A trajetória de atuação de Maristher em Sergipe foi dotada de múltiplas atividades e de experiências exitosas em sua área de formação, contemplando a docência e a execução de projetos. Além de dirigir, em 1983, o núcleo estadual da Associação dos Arquivistas Brasileiros, foi professora horista, na Universidade Federal de Sergipe da disciplina antropologia cultural. Também lecionou a mesma disciplina na Faculdade Pio X. Um destaque para a sua aprovação, em primeiro lugar, no concorrido curso de especialização em Administração de Arquivos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a conquista, em 1991, de uma das duas vagas ofertadas ao Brasil para participação de um Estágio Técnico Internacional de Arquivos no Arquivo Internacional na França (Paris).

Trajetória na Ufal

Martisther Vasconcellos ingressou como servidora da Ufal em 2004 e, a partir de 2012, passou a ser a gerente-geral do Arquivo Central, cargo que ocupa há oito anos. Como era de se esperar também tem lugar de destaque na instituição alagoana. Em 2005, obteve o primeiro lugar no concurso para professor substituto da disciplina de Arquivologia e Arquivística para o curso de graduação em História (bacharelado). Devido à positividade de sua atuação docente, por solicitação, lecionou essa disciplina, como professora voluntária, até 2008.

Em 2006, a iniciativa de elaborar e executar o projeto do primeiro curso de especialização de Administração de Arquivos e Documentação, do qual foi vice-coordenadora, também faz parte do dinamismo profissional da servidora. O curso contou com o apoio do Departamento de História e Instituto de Ciências Humanas Comunicação e Artes (Ichca) e teve a coordenação do professor Alberto Vivar Flores. Nesse percurso, com apoio da administração central da Ufal, o empenho e a dedicação de Maristher trouxeram para Maceió a segunda edição do Arquifes – Encontro dos Arquivistas de Instituições de Ensino Superior do Norte e Nordeste. O evento foi o primeiro realizado pela Ufal na área de Arquivos.

Maristher aproveita para anunciar que, ainda este ano, terá início o segundo curso de especialização em Arquivos, que tem como tema Arquivos Permanentes: Teoria e Prática. A coordenação e vice-coordenação vão ser ocupadas pelo professor Alberto Vivar Flores e pela professora Célia Nonata, respectivamente, e contam com o apoio da gestão da Ufal e da direção do Ichca.

“A elaboração do projeto do curso foi uma reivindicação ao Arquivo Central, em 2019, pelos alunos do bacharelado em História, para suprir a carência da disciplina Arquivo na grade curricular da citada graduação. Na construção do projeto, desde o início contamos ainda com o apoio dos professores José Roberto Santos Lima e Virgínia Bárbara de Aguiar Alves. Além da colaboração da equipe técnica do Arquivo Central. A partir de 2020 também contamos com a participação da professora Célia Nonata, que é a vice-coordenadora da edição deste ano”, revelou Maristher.

Formação e atuação

Mestre em Gestão de Empresas, na especialidade em Planejamento e Estratégia Empresarial, pela Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal), Maristher integra o grupo de trabalho para a Política Documental da Ufal e preside a Comissão Permanente de Avaliação Documental (CPDOC/Ufal). Sempre fui atuante na Ufal, pois quando cheguei há 18 anos, a linguagem Técnica Arquivística era desconhecida pelos servidores da Instituição e foi iniciado todo um trabalho nessa área”, destacou.

Maristher também é a representante da Ufal na subcomissão do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo, da Administração Pública Federal, do Ministério da Educação, denominada de Subsiga/MEC, tendo na suplência o técnico de arquivo Alexandre Silva de Oliveira.

A larga experiência, competência e vida dinâmica da servidora a credenciam para ser convidada a dar palestras e se envolver na execução de projetos. O desafio imposto pela pandemia, ainda em curso, e que mudou a rotina universitária, não interrompeu a sua rotina na instituição alagoana, com permanência de sua jornada de trabalho diária, das 8h às 17h.

Para quem trabalha em Arquivos, sejam públicos, institucionais ou privados, não é possível executar trabalho remoto, pois a informação, a organização e a codificação da documentação só podem ser realizadas presencialmente. Com exceção de mim e do Alexandre, mantivemos o trabalho no Arquivo Central da Ufal em sistema de rodízio. Continuamos presencialmente desempenhando as nossas atividades para atender a demanda não somente da organização, preservação e conservação da documentação do Arquivo, mas, também, para a realização de projetos, treinamentos, trabalhos de pesquisa, dentre outras atividades necessárias ao andamento do importante setor da Ufal”, enfatizou a gerente e arquivista homenageada, mostrando, além da disposição ao trabalho, compromisso e amor ao que faz em cinco décadas de atuação profissional.