Professores Gusmão e Amilton são homenageados em evento no COS

Com quase 40 anos de docência, eles foram lembrados pelos relevantes trabalhos a favor da instalação e do reconhecimento do curso de Comunicação Social
Por Thâmara Gonzaga – jornalista
30/09/2019 10h40 - Atualizado em 22/11/2021 às 09h06
Professores foram homenageados pela dedicação ao COS. Foto: Thâmara Gonzaga

Professores foram homenageados pela dedicação ao COS. Foto: Thâmara Gonzaga

Em 2019, o curso de Comunicação Social (COS) da Universidade Federal de Alagoas, que engloba as graduações em Jornalismo e Relações Públicas (RP), comemora 40 anos do início de suas atividades. O primeiro vestibular e o ingresso da primeira turma datam de 1979. 

Criado em 1978, de acordo com informações da página do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca) da Ufal, o COS se estabeleceu por causa da reivindicação dos profissionais da área, por meio de suas representações sindicais. Professor Salomão de Barros Filho, jornalistas Aldo Ivo, Freitas Neto, Dênis Agra e Luiz Plácido Tojal são alguns dos que se dedicaram para a instalação do curso no Estado. 

O projeto técnico para a criação ficou sob a responsabilidade do jornalista Carlos Alberto Sarmento Cavalcanti Gusmão, que depois se tornou docente da unidade em 1982. Aposentado recentemente, ele foi homenageado durante a Semana de Comunicação Alternativa (Saca) 2019, recepção organizada pelos estudantes veteranos para os que acabaram de ingressar. O evento, realizado de 24 a 27 de setembro, também homenageou o professor Amilton Gláucio de Oliveira, um dos primeiros professores do curso de Comunicação. Ambos, com quase quatro décadas de docência, foram lembrados pelos relevantes trabalhos, luta e dedicação a favor do COS. 

“Carlos Gusmão é uma pessoa muito querida. Um dos fundadores, que trabalhou durante 40 anos para estarmos aqui. Um profissional que comparecia com afinco. Para a gente, o senhor é um farol e não vai passar. Será sempre lembrado, amado por nós e pelas próximas gerações de estudantes”, declarou a coordenadora do curso de Jornalismo, Raquel do Monte. Sobre o professor Amilton, Manuela Callou, coordenadora do curso de RP, lembrou o dia do concurso, quando foi cumprimentada por ele. “Cheguei para fazer a prova e ele me recepcionou de uma forma tão gentil e humana, achei tão lindo”, disse. E destacou: “Ética, valores humanos e compromisso com a profissão de RP. Sentimos honrados por termos aprendido com você”. 

Antes do evento, Gusmão e Amilton conversaram com a Assessoria de Comunicação da Ufal e, diante de tantos fatos importantes guardados na memória, compartilharam algumas lembranças sobre suas trajetórias profissionais e a história do COS. Confira: 

Jornalista Gusmão e o projeto do COS 

Natural de Maceió, Gusmão, como é mais conhecido, é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande Norte e, ao ser convidado por Manoel Ramalho de Azevedo, então reitor da Ufal na época, para fazer o projeto do COS, já atuava como jornalista em Natal. “Em 1977, formei e já era estagiário. Continuei trabalhando no Jornal da República e na RN Econômica, que era uma revista de economia. Fazia bicos numa agência de publicidade, ExpoComunicação”, relembra. “Em janeiro de 1978, vim de férias para Maceió e meu pai me disse que Azevedo, que era reitor na época, queria conversar comigo, pois queria montar um curso de comunicação aqui, pois era uma reivindicação do sindicato dos jornalistas, e não tinha ninguém formado no Estado”, conta. “Fui lá na Reitoria, onde hoje é o Espaço Cultural, e o reitor me perguntou se eu me sentia apto a montar um projeto do curso. Eu respondi que sim”, diz. 

Em abril do mesmo ano, relata, iniciou os trabalhos na Coordenadoria Técnica de Ensino (CTE) da Pró-reitoria de Graduação (Prograd). “Trabalhei por três meses. O projeto tinha uma pesquisa de mercado de trabalho, pesquisei tudo que tinha de possível de mercado de trabalho, potencial existente, pois queríamos justificar a criação do curso. Enviamos o projeto ao Consuni [Conselho Universitário] e foi aprovado”, conta. Na proposta, diz ele, já eram previstas as habilitações de Jornalismo e Relações Públicas: “Eu tinha o ciclo básico todo pronto, mas a parte profissionalizante de RP teria que ter ajuda. Então a Reitoria bancou a vinda do professor Cândido Teobaldo para auxiliar na parte de RP e fechamos o projeto”. 

Com o início do curso em 1979, Gusmão conta que se afastou para fazer mestrado no Rio de Janeiro. Em 1982, retornou a Maceió devido ao falecimento do pai e ficou. Foi quando foi chamado para ser professor do COS. “Adentrei ao curso em 14 de agosto de 82. Já tinha uma turma de professores, Amilton foi um desses, e começamos a nos encontrar para conversar”, rememora. “Era um grupo grande de professores, que começou a se constituir, digamos assim, politicamente articulado e com projetos. Esse curso começou a fundação com o projeto originário, técnico, necessário, e com os primeiros contatos entre esses professores. Havia um núcleo de trabalho articulado”, afirma. 

Importância da criação do curso de Comunicação Social para Alagoas 

Ao falar sobre a importância da criação do curso para as transformações da atuação profissional e da sociedade alagoana, Gusmão comenta que, ao se formar em Jornalismo no Rio Grande do Norte, “lá já tinha uma faculdade há muito tempo e já tinha interferido na própria mentalidade da classe jornalística, na maneira de fazer e na questão da própria autonomia do jornalismo em relação aos processos políticos e econômicos”. E compara: “Quando cheguei a Alagoas, vi uma coisa completamente diferente, vi um jornalismo adaptado a uma realidade, digamos assim, corporativa politica e econômica, dominada por uma mentalidade de compadrinho e camaradagem, onde os jornalistas acabavam não tendo muito espaço, muita autonomia. Os jornais estavam muito ligados a grupos econômicos, como ainda são hoje, na verdade, mas isso é característica muito daqui”. 

Para ele, a chegada do curso ajudou a mexer com essa realidade. “O sindicato solicitava a criação do curso, o que não sabia é que iria, com certeza, interferir nessa mentalidade profissional, nesse modo de fazer o jornalismo. E você viu ano a ano se passando a diferença. Para quem estava fora, para quem foi jornalista como eu fui fora daqui, como isso foi se transformando. Muitos bons jornalistas saíram daqui. De fato, esse fenômeno é que caracterizou a mudança do perfil profissional”, defende. E ressalta: “Eu acho isso, talvez, a coisa mais importante, que é como a universidade pode interferir na realidade social, econômica e política. Estive agora pouco no Sertão, em Delmiro Gouveia, e conversei com o pessoal da cidade. Eles dizem que a Universidade mudou a face da cidade em todos os aspectos”. 

Para o professor, “o jornalismo fez isso [mudanças] em Alagoas, em menor escala, pois as forças conservadoras e políticas são muito poderosas, mas há uma desvinculação a cada dia que se passa, veja a última greve dos jornalistas? É um exemplo disso, de uma nova mentalidade, do valor, da dignidade do jornalista. Acho isso a coisa mais importante que aconteceu neste Estado em muito tempo, e vai acontecer muito mais”, afirma. 

Ainda abordando a greve dos jornalistas alagoanos, ocorrida em junho de 2019, Gusmão destaca a “coragem que tiveram” e a “força com que agiram” e define que é um momento de “autovalorização do jornalista e da valorização do jornalismo”. Segundo o docente, “quando eles entraram em greve, fizeram aquele enfrentamento aqui, tiveram consequências sobre isso. Pensando em termos de 40 anos passados, isso jamais existira, jamais seria possível de pensar”. Ele defende que “a raiz disso está na universidade, local de convergência, onde se estabelece conhecimentos teóricos, deontológicos, éticos. E essas coisas que aconteceram não só forjam o jornalista, mas criam uma mentalidade profissional. Então, eles já sabem lutar, eles aprenderam aqui, porque aqui lutavam muito, em muitos momentos”, conclui. 

Professor Amilton, um dos primeiros docentes do COS 

Amilton Gláucio de Oliveira é formado em Relações Públicas, pela Escola Superior de Relações Públicas de Recife, e iniciou o magistério na Ufal em 15 de setembro de 1981. Parceiro de trabalho do professor Gusmão no processo de criação e, posteriormente, no reconhecimento do curso, ele lembra com emoção dos momentos vividos no COS. “A gente conhece tudo isso. Em qualquer sala aqui tem muita coisa para dizer, qualquer sala que a gente entre aqui tem as nossas mãos. Esse prédio me lembra tudo”, diz. 

Ao contar sobre as frentes de trabalho assumidas ao longo de quase 40 anos de docência, o professor destaca: “Sempre fui metido, nunca deixei de fazer as coisas. Fui um dos fundadores do Ciseco [Centro Internacional de Semiótica e Comunicação]”, afirma. “Conseguimos equipamentos, trouxemos para cá no muque, a gente com o apoio dos estudantes. Gusmão e eu assumimos as funções de coordenador de curso, de vice, de chefe de departamento, sempre trabalhamos juntos. Batalhamos também, com apoio dos professores e colegiado, para a construção do prédio novo”, acrescenta. 

Com tantos anos de magistério, Amilton já formou diversas gerações, inclusive da mesma família. Certa vez, conta ele, “chegou uma aluna e me disse: - Professor, o meu pai mandou um abraço para o senhor. - E foi? Quem é ele? - Foi seu aluno. - E você é minha aluna? Sacanagem, como eu estou velho”, conta aos risos. 

Pensando em se aposentar, ele comenta que “fica triste quando um professor antigo, que tem muita experiência, se aposenta. É muito conhecimento. É a única área do saber onde quanto mais tempo tem, melhor para todos. O professor vai acumulando conhecimento”, justifica. 

Desafios para o COS 

Passadas quatro décadas da criação do COS, professor Amilton afirma que “está na hora de acabar com o complexo de vira-lata. O nosso curso é crítico, é dinâmico, sempre se mobilizou”. E aponta como desafios para o curso a criação de mestrado e doutorado, além da necessidade de um maior “envolvimento com a sociedade”. Segundo o docente, “RP e Jornalismo têm que sair desse casulo e trazer as comunidades, todos os alunos para conhecerem a universidade”. 

Ele argumenta que, “enquanto a ignorância quer levar a sociedade para as trevas, a universidade deve ser o suporte do saber, do conhecimento em todas as áreas”. E afirma: “Passamos por um período crítico, estranho, onde a ignorância está triunfado. E o lugar da universidade é do saber. Aqui é o lugar da humildade, do aprendizado, da procura pela verdade”. 

Amilton salienta que “o centro de saber de Alagoas está na universidade”. E defende: “A gente compreende que a universidade para Alagoas é tão fundamental como você ter uma família. Em todos os lugares, a universidade é o berço do sentido humano, da existência humana”.