Livros do professor Paulo Décio são doados ao Instituto de Ciências Sociais

Ato de entrega do acervo foi marcado por histórias de um bon vivant

16/06/2015 20h42 - Atualizado em 26/06/2015 às 20h53
Ao lado de Silvana  Cavalcanti e Ruth Vasconcelos, Thiago Melo diz que informalidade  era característica principal do pai em todos os momentos

Ao lado de Silvana Cavalcanti e Ruth Vasconcelos, Thiago Melo diz que informalidade era característica principal do pai em todos os momentos

Jhonathan Pino - jornalista

O Instituto de Ciências Sociais (ICS) recebeu a última contribuição do professor Paulo Décio de Arruda Melo, falecido no dia 9 de março de 2013. A família, representada por Silvana Cavalcanti, Thiago Melo e Pablo Fernando estiveram na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para doar o acervo de livros e relembrar os bons momentos do docente.

Silvana relatou como foi doloroso o processo para trazer o acervo para a Ufal. “A ideia aconteceu com a ida dele, foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Agora, começar a fazer isso é que foi doloroso, pois são as coisas que ele amava. Ele tinha mais ciúmes dos livros que de mim. Já faz mais de um ano que eu fui arrumando esses livros e eu ficava inconscientemente adiando essa entrega, que é uma coisa difícil, porque cada livro que você baixava tinha uma história e muitos deles estão grifados e cheio de anotações que nos trazem memórias e lembranças boas”.

A viúva ainda lembrou uma das piadas mais faladas por Décio. “O problema do intelectual, quando morre, é a viúva, porque quando ele morre, ela vai vender seus livros no sebo. E agora estou aqui”, ironizou.

Os causos de um intelectual

Capacidade de agregar e procurar consenso nos momentos de conflitos, bom trânsito entre os ambientes foram algumas das qualificações acadêmicas que se juntaram a de eterno boêmio, intelectualidade refinada e espírito de bon vivant, nas declarações de seus colegas.

Fluminense e formado pela Universidade Federal do Guanabara, em 1975, seu filho, Thiago Melo, ressaltou que o interesse de pesquisar a Sociologia Rural, especificamente o impacto da cultura da cana-de-açúcar sobre a população foi o que o trouxe para Alagoas. No entanto, diante das mesmas possibilidades de atuação profissional no Estado de São Paulo, alguns fatores foram determinantes para sua escolha pela terra dos marechais. “Cerveja gelada à beira da praia e peixinho frito”, enumerou Thiago.

Ao trabalhar com ele por duas décadas, o professor Bruno César também colecionou causos extracurriculares de Paulo Décio. “Muitos deles foram divididos em seis meses de aulas de francês. Elas aconteciam na casa da professora Elisa, regado ao vinho e ao som de Edith Piaf. “O curso não foi a frente porque na metade da aula estávamos bêbados”, sorriu.

“Todos que estão aqui foram mobilizados pelo afeto. Eu particularmente o tenho na memória uma pessoa muito especial, uma pessoa com todas essas características de humor, um homem crítico, mas muito afetuoso e que conseguiu deixar marcas”, revelou Ruth Vasconcelos, que também dividiu 20 dos seus anos acadêmicos com o professor e falou o quanto ele foi incisivo para a criação do Instituto e do mestrado em Sociologia.

Para Ruth, a entrega dos livros do professor Décio, só vai aprofundar sua importância para o ICS, que já o homenageou com o nome de um auditório. “Esse é um tesouro que nós ganhamos hoje, que de certa forma é revelador de sua formação. Essa é a garantia da eternização de Paulo na nossa instituição. Daqui a cem anos os alunos vão ter acesso a esse material”, ressaltou.