Amor romântico e violência fazem parte de debate no Dia Internacional da Mulher

Professora Elvira Barretto aborda o papel submisso que o gênero mantém na era moderna


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Elvira Barretto relata que ampliação da consciência das mulheres é uma das conquistas do Dia | nothing
Elvira Barretto relata que ampliação da consciência das mulheres é uma das conquistas do Dia

Jhonathan Pino - jornalista

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, servidoras e alunas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) estarão reunidas no auditório da Reitoria, a partir das 8h, para debater um mau que aflige a todos, mas ganha particularidade quando praticado sobre o gênero feminino. Conforme a professora Elvira Barretto, na mulher, muitas vezes esse ato é praticado sob o rótulo do amor romântico.

Na palestra "A violência contra a mulher e o mito do amor romântico", Elvira defenderá que esse romantismo pode se manifestar com a violência doméstica. “Existe uma forte relação entre o mito do amor romântico, frise-se romântico. O que queremos dizer com isso: que o amor romântico é sócio-historicamente construído e encontra terreno fértil no contexto do capitalismo industrial, pois é funcional à família burguesa: ao homem (como provedor) demanda-se o afastamento da casa para trabalhar nas fábricas e nos escritórios e a mulher (rainha do lar) institui-se o dever de dar conta do espaço privado do lar, cuidando dos filhos e do esposo”, relatou a professora.

Pertencente ao Núcleo Temático Mulher e Cidadania (NTMC), Elvira diz encontrar na sociedade desigual, injusta e discriminatória o motivo para dar continuidade aos 24 anos de pesquisa do Núcleo. Entre os resultados do grupo, este aponta que a mulher assume o papel de salvadora do homem,  ao evitar as tentações do poder, a partir de valores de dedicação e auto-sacrifício; em oposição ao egoísmo e ao desejo de poder dos homens. “Apenas em sociedades ocidentais, como a nossa, cultiva-se o ideal do amor romântico e torna o romance a base de casamentos e  relacionamentos amorosos. O amor romântico é associado claramente ao casamento, à maternidade e à ideia de que o verdadeiro amor é para sempre”, disse Elvira.

Esse posicionamento cético da professora muitas vezes a leva a ser questionada se é contra o amor, o qual responde negativamente, ao passo que defende que o amor romântico é incompatível com o ardor sexual, “já que se idealiza o ser amado como parceiro de um encontro de  almas que tem um caráter reparador,” citou.

Elvira fez uma equação, para explicar melhor o seu raciocínio: [mulher (Dependência emocional + subserviência + sentimento de necessidade de proteção + sujeição)] + [HOMEM (sentimento de proprietário + desejo de domínio + desejo de reconhecimento de poder e virilidade)] = [violência doméstica contra a mulher].

A professora afirma que o foco que a mídia vem dando nos últimos anos sobre a questão da violência sobre o gênero feminino é o grande avanço a se comemorar nesse dia. “A ampliação da consciência das mulheres, como sujeito de direito e consequente mobilização política e conquista de direitos; as reflexões e produção de conhecimento teórico-crítico sobre as relações de gênero, sob a tutela da cultura patriarcal, da ideologia androcêntrica no contexto do capitalismo moderno, oferecendo subsídios a políticas públicas de enfrentamento às desigualdades sociais e discriminações de toda ordem. Vejo tudo como conquistas que contribuem para outras conquistas mais específicas”.

Veja a programação completa do evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher na Ufal