Facchinetti conta sobre sua luta pelo ciclismo alagoano

Há seis anos, o professor do CTEC reivindica espaços para as bicicletas


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Apesar de seu sobrinho ter desistido, Facchinetti continua no mundo do ciclismo

Apesar de seu sobrinho ter desistido, Facchinetti continua no mundo do ciclismo

    Jhonathan Pino - jornalista

    - Tio, vou comprar uma bicicleta para você!

    - Você tá doido Rodrigo? Eu não tenho mais tempo para isso.

    - Arruma tio. Eu vou comprar uma para mim e outra para você. Seria massa se o senhor andasse comigo. Eu te dou uma forcinha.

Talvez não tenha sido necessariamente desta forma que o Rodrigo convenceu seu tio, Antônio Facchinetti, a entrar para o mundo do ciclismo. Seis anos depois dessa conversa, o docente do Centro de Tecnologia coleciona histórias de uma luta constante pela mobilidade urbana.

“Você sabe o que é ciclovia? Sabe qual a diferença entre ela e a ciclofaixa?”, perguntava Facchinetti ao repórter, que enquanto gaguejava tentando responder, foi logo interrompido. “Muitas vezes nem o ciclista sabe, quanto mais os pedestres e motoristas”, continuou. É nesse tom instrutivo que o docente relata os maus bocados que os amantes das “bikes” passam ao tentar dividir os espaços com motociclistas, pedestres e automóveis.

“Nós temos 30 quilômetros de ciclocoisas, ou seja: ciclovias que não têm características técnicas para chamarmos de ciclovias, a começar pela largura mínima, que é de três metros. Em Maceió, a ciclocoisa mais larga tem dois metros e vinte, com exceção da beira da lagoa e das avenidas mais novas, Pierre Chalita e Márcio Canuto. Além disso, não existe sinalização adequada para os ciclistas. Em todas elas há entrada e saída de veículos, sem qualquer aviso aos usuários”, completou o professor.

Facchinnetti ainda destaca que os meios-fios das ciclovias também não respeitam o limite de 10 centímetros de altura. Em Maceió eles chegam a 25 cm, servindo de empecilhos aos pedais dos usuários. Para o professor, esses são detalhes apenas notados por quem é prejudicado, mas nem por isso menos importantes.

O movimento em defesa da bicicleta, como saída para melhoria da mobilidade humana, é conhecido mundialmente por bicicletada. A atividade ocorre todas as sextas-feiras, às 18h, nos quatro cantos do globo e, em Maceió, começou em junho de 2008.

Na capital alagoana, desde 2010, existem passeios todas as terças e quintas-feiras, a partir das 20h, reunindo mais de 100 ciclistas no espaço Vera Arruda, para fazer percursos de 20 km a 40 km. “Como nos apropriamos daquele espaço, passamos a chamar de Praça dos Ciclistas”, disse Facchinetti.

O evento é organizado pela Associação Alagoana de Ciclismo, fundada em dia 31 de março de 2010, com intuito de se fazer uma revolução na mobilidade urbana por bicicleta, sempre com a participação de Facchinetti. Mas além dos dois passeios semanais, a associação organiza o Passeio Natalino, a Pedalada Ecológica e, junto com o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (Sempma), faz passeios temáticos, com visita a cidades vizinhas, ou voltados para o público infantil.

O próximo passeio infantil acontece no domingo (24), às 8h na área fechada da praia de Pajuçara. “O ponto forte da associação é o incentivo à mobilidade urbana. Tentamos orientar os iniciantes de como se comportar no trânsito e, no caso do passeio infantil, incentivar e criar na garotada e, consequentemente nos pais, o hábito de pedalar conosco e com os filhos”, relatou o docente.

Todo cuidado é pouco

Capacete, luvas, rádio, refletivos dianteiros, traseiros, laterais nas rodas e nos pedais, espelho retrovisor do lado esquerdo, campainha e roupa em Dry Fit são parte do vocabulário do ciclista, mas todos esses cuidados se tornam pouco quando a sociedade não está apta ao movimento. É por isso que há meses a associação tenta marcar audiências com os órgãos públicos responsáveis pelo trânsito, como a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), e não tem êxito.

Além da falta de infraestrutura, os motoristas também são alvos da Associação. A partir de panfletagens, a associação busca a simpatia deles para com o movimento. “Antes os motoristas buzinavam e reclamavam quando passávamos, mas hoje eles estão menos impacientes”, comemorou Facchinetti.

Apesar de não ter ocorrido qualquer acidente nos passeios, o professor relata que o ciclista tem de ter toda atenção. Por várias vezes ele quase se tornou mais uma vítima do trânsito. “Para maior segurança, também buscamos o apoio da SMTT, para por viaturas acompanhando nossos passeios, como ocorre em Recife e em Aracaju, mas ainda não tivemos resposta positiva”, disse.

Facchinetti ainda relata que Aracaju é um exemplo para Maceió. “São cerca de 600 mil habitantes e mais de 100 km de ciclovias; Maceió, com mais de um milhão de habitantes, tem menos de 30 km de “ciclocoisas”. Aliás, a cidade de Aracajú foi, por três anos, o destino do grupo, que percorria o percurso de ida e de volta de 560 km pedalando, em busca de trocar experiências na capital sergipana. Este ano, a partir de 6 de abril, o grupo irá até a cidade de Alagoinhas, na Bahia. O município foi escolhido por ser a terra natal do maestro da Ufal, José Alípio Oliveira Martins, que aderiu ao ciclismo.