Além da academia: Vinicius Manzoni

Depois de realização profissional, o professor do IF sacia desejo pessoal no piano


07/01/2013 09h20 - Atualizado em 03/05/2024 às 14h21
No laboratório do IF, professor Vinicius Manzoni revela sua história com o piano

No laboratório do IF, professor Vinicius Manzoni revela sua história com o piano

Bruno Cavalcante – estudante de jornalismo

Dedos deslizando sobre teclas do piano. Cada nota, um som. A melodia que sai dessa junção causa prazer em Vinícius Manzoni. A curiosidade em manusear o instrumento acabou virando um hobby, que o acompanha desde a infância. Doutor em Física e professor da Universidade Federal de Alagoas, ele se divide entre pesquisas, no laboratório do instituto de Física (IF), e partituras, em sua casa.

Com os dedos da mão direita ele procurava o som das notas no teclado. A outra mão, no máximo, encontrava uma nota. Aos 11 anos, o paulista erradicado alagoano se apropriou do teclado que o irmão mais velho desprezara como presente do pai. “Eu escutava as músicas gravadas no instrumento e arriscava reproduzi-las de ouvido, tentando associar o som à tecla batida”, disse.

O pai – talvez querendo despertar instrumentistas na família – comprou um livro com partituras para os gêmeos Vinicius e Leandro. Munidos de criatividade e vontade de aprender, os irmãos começaram a marcar notas nas partituras e com adesivos, as teclas. A intenção era fazer um caminho e tentar entender a música.

Percebendo interesse dos garotos, os pais os matricularam em escolas de música, em Maringá e Maceió. Na primeira cidade eles só conseguiram uma vaga depois de aprovação no teste. Porém, eles não começaram pelo piano e sim pelo harmônio (pequeno órgão de sala usado na preparação de estudo de órgão de tubo). Eles estudaram lá por volta de um ano e meio, sem ter tido chance de ter aulas do instrumento dos sonhos deles.

Entre Física e Música

A oportunidade surgiu em Maceió, no Espaço Cultural, quando eles foram apresentados ao maestro Lupi, da Orquestra de Câmara da Ufal, à época. Esse dia aconteceu em 1997, quando Manzoni já estava com 15 anos. O regente argentino impôs uma condição: ensinaria aos jovens, caso ele gostasse de ouvi-los tocar. Vinicius tocou the entertainer, do compositor americano Scott Joplin. “Enquanto eu executava, o maestro lá atrás, com as mãos na cabeça, mandou-me parar. Ele veio em minha direção, sentou-se ao meu lado e mandou-me recomeçar”, contou. Naquele momento, iniciaram as aulas.

Quando chegou a época de fazer vestibular, Vinicius ficou entre Física e Música. O fato de Alagoas não ter um conservatório pesou na decisão. “Minha linha era concertista, não queria me formar para tocar em bandas. Então, decidiu que a música seria um hobby”, disse. Hoje, ele toca um piano elétrico com fones de ouvido. “Fico tocando por três horas que mais parecem cinco minutos”, completou.

Manzoni nunca compôs. Chegou a rascunhar trechos, mas não finalizou uma música. Ele já foi tecladista de bandas em Igrejas e fez apresentações solo e a quatro mãos com outros instrumentistas.

Aprendiz perfeccionista

“Sempre fui louco por Beethoven”, confessou ele. Manzoni sempre foi um aluno inquieto – um tanto displicente – pois não seguia o roteiro de atividades do professor. Treinava mais as partituras do compositor alemão do que as lições propostas em aula. “Gosto do estilo e jeito de execução dele. Suas características são difíceis de serem tocadas, mas eu as sinto”, declarou. Os pianistas Chopin e Mozart também figuram como inspiração a Manzoni.

Aprendiz perfeccionista, Manzoni, reconhece que precisa de dedicação e disciplina para aprender e evoluir no piano. “As sutilezas de determinadas músicas exigem muito esforço. Caso não esteja atento a elas, você pode acreditar, erroneamente, que estar passando algum sentimento”, disparou.

Executar sonhos

Concluído o doutorado e encaminhado profissionalmente, Manzoni estuda piano sozinho há mais de um ano. Visando a recuperar o “tempo perdido” – referindo-se aos anos de faculdade – ele colocou como meta aprender composições do russo Sergei Rachmaninoff e do húngaro Liszt. Atualmente, ele está se dedicando à “Hungarian Rhapsody”, canção do desenho animado Tom e Jerry.

Não apenas dedicado a tocar, Vinícius Manzoni também entende do instrumento em si. Ele já prestou consultoria a marcas de pianos para testar a qualidade deles. Alguns de seus exercícios ele disponibilizou na rede de vídeo, YouTube. Um deles intitulado “Juno-G Pianos and EP's” já tem mais de cem mil visualizações. As imagens e som servem àqueles que como ele possam admirar, aprender e compartilhar ideias e executar sonhos.