O que eu faço além da Academia: Ronaldo Bispo

Ideas Jockey (IJ) é o nome do profissional, artista ou intercessor cultural que seleciona e disponibiliza imagens, ideias e música. O termo foi cunhado pelo professor do curso de Comunicação Social, Ronaldo Bispo, que ainda doutorando da Pontífice Universidade Católica de São Paulo, enquanto assistia as aulas de Semiótica, viu a possibilidade de unir filosofia, imagem e música; difundir novas ideias e torná-las mais prazerosas.


25/11/2011 15h40 - Atualizado em 03/05/2024 às 14h19
IJ Abutre utiliza-se de aforismos, frases de Nietzsche, Deleuze e o cinema de Godard e Lars Von Trier para contextualizar a música tocada

IJ Abutre utiliza-se de aforismos, frases de Nietzsche, Deleuze e o cinema de Godard e Lars Von Trier para contextualizar a música tocada

Jhonathan Pino - jornalista

"Ocorreu-me que havia uma distância muito grande entre o prazer proporcionado por uma aula ou palestra acadêmica e aquele experimentado em uma balada, uma festa, em um show ou numa casa noturna. Como meu objeto era a experiência estética e eu começava a aprofundar meu interesse em colecionar músicas, em especial para dançar, percebi que era possível e necessário reunir essas duas dimensões da vivência humana", revela Ronaldo.

A partir deste novo conceito de diversão, seria possível a Ronaldo unir a teoria da disciplina de Estética, da qual é responsável, com a prática das novas possibilidades da arte contemporânea, sejam elas visuais, sonoras, ou verbais. "Em tempos de impaciência e superficialidade como o nosso, avalio que as ideias devem ser tão atraentes e prazerosas quanto músicas e imagens. A ideia é aproximar o pensamento da diversão, sem ter medo de vulgarizar as ideias", explica o professor.

Das ideias para a produção de festas

Foi pensando em difundir o conceito de IJ que Ronaldo começou a organizar alguns eventos em que fosse possível levar batidas e ideias envolventes para o público universitário, sempre utilizando cognome de Abutre. Para isso, ele utilizou-se de cartazes intrigantes, com aforismos pouco comuns para as festas eletrônicas.

Ao mesmo tempo em que convidava o público, desconvidava os conservadores. Um exemplo foi a realização do "Vá Indo que eu não vou" em 2009 e 2010. Ronaldo explica que o nome veio de várias motivações: "queríamos ter um nome incomum, que trouxesse pessoas que gostassem do incomum; era também um desconvide que nos servia de justificativa, caso o evento fosse um fracasso. Havia uma série de provocações das pessoas que realmente deveriam ser excluídas dessa festa", diz.

Com o fim da casa "The Jungle", onde eram organizados o "Vá indo que eu não vou", houve outras tentativas de pôr em prática a conciliação da música com a filosofia em outras ocasiões, porém, a mais conhecida delas, a Polifônica, também não surtiu o efeito desejado. "A ideia era fazer um evento cultural que unisse a diversão à partilha de ideias. Mas na prática eu convidava um amigo para desenvolver um produto gráfico e fazia uma frase que estimulasse a reflexão. No entanto, os conceitos, as frases e aforismos que desejei fazer, eu realmente não concretizei", lamenta Bispo.

Conforme o professor, isso se deu pela falta tempo e de algo que o fizesse perceber o real feedback do público. Ele explica que seria necessário instalar um terminal com um computador para que as pessoas tivessem a possibilidade de reproduzir os seus sentimentos após serem provocados pelo IJ. Através desse terminal seria possível ao público inserir suas frases e projetá-las na festa.

Profissão IJ

"É necessário que se perceba que muitas pessoas são IJ atualmente, mesmo sem autodenominarem. Qualquer pessoa que una música, imagens e ideias, fazendo a seleção e avaliação daquilo que realmente vale a pena, desempenha esse papel", define Bispo, que aponta o Facebook como ferramenta para a propagação de IJs na internet. É através dessa mídia que IJ Abutre desenvolve a maior parte de seu trabalho como instigador cultural, já que a vida acadêmica impossibilitou de fazer festas momentaneamente.

"Parei de fazer festas porque me envolvia muito com elas e ficava angustiado com a possibilidade de está aproveitando melhor o tempo, fazendo artigos e outras atividades acadêmicas", relata Bispo, que ainda aponta o preconceito que muitos colegas tinham em relação ao seu envolvimento com as festas eletrônicas: "na época em que era diretor do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA), ouvia algumas frases irônicas em relação as minhas atividades como IJ, como se fosse algo impertinente ao trabalho de um doutor da Universidade", acrescenta Bispo.

Como professor, Ronaldo revela que o trabalho de IJ é mais uma possibilidade de atrair um público maior para um universo diferente em que o fizesse pensar. Para ele, a academia está se abrindo cada vez mais para a cultura pop: "a ideia de visão acética da Escola de Frankfurt à cultura de massa está ficando para trás e isso faz com que a Academia tenha uma certa dificuldade na manutenção de seus valores. Mas não podemos esquecer que é sempre necessário fazer críticas a certas categorias", julga o Ij Abutre.

Confira uma das festas em que IJ Abutre esteve em ação.

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