O que eu faço além da Academia: Tatiane Trindade

Apesar de não entrevistarmos pessoalmente a Técnica em Assuntos Educacionais, Tatiane Trindade Machado, lotada no Campus Arapiraca, a troca de emails para construir essa matéria foi marcado por muita paixão. Nas respostas de Tatiane, o amor pela capoeira foi algo latente em suas linhas e entrelinhas. A cada palavra digitada foi possível sentir a vibração do gingado contado em suas histórias. Por isso, este "O que eu faço Além da Academia" é o mais fiel a proposta desse projeto: de abrir espaço para que o servidor nos relate o que ele faz fora da Universidade. Leia um pouco sobre "Odalisca" (Tatiane) e sinta como a cultura pode deixar a vida mais leve.


18/10/2011 14h11 - Atualizado em 03/05/2024 às 14h19
Odalisca ensinando movimentos da Capoeira

Odalisca ensinando movimentos da Capoeira

Jhonathan Pino - jornalista

Ativa e muito curiosa, desde criança Tatiane gostava de lutas. Ainda na Bahia, praticou o Tae Kwon Do, mas ao se mudar para Aracaju, na adolescência, tentou outros esportes: "Eu queria praticar boxe, então comecei a procurar e não encontrei na academia do bairro: lá só tinha caratê e capoeira. O pessoal me convidou para assistir as aulas. Assisti primeiro a de caratê e não senti nada; quando eu entrei na aula de capoeira e vi o professor fazendo um monte de movimentos plásticos com o corpo, eu senti uma magia, um sentimento bom que tomou conta de mim e resolvi que iria ficar", relembra Tatiane.

No outro dia ela se matricularia na capoeira, apesar da dificuldade de convencer seus pais, "devido a discriminação da história do negro no Brasil", explica a servidora. Assim começou o amor de Tatiane pela capoeira, que logo receberia o apelido de Odalisca, dado pelo seu primeiro professor, aos 19 anos. Daí em diante Talita conheceria aquele que viria a ser o seu marido, o professor Vocabolário, com quem treina e está casada há 12 anos. Dividindo com Vocabulário o amor pela capoeira, Odalisca participou de diversos grupos, até achar um que fosse identificada, o Capoeira Terranossa, grupo da África do Sul, com uma filial em Alagoas.

A raiz criando galhos

Mas enquanto cultivava a cultura africana, Odalisca nunca deixou de ser Tatiane, e logo aprendeu a dividir o tempo de diversão com o curso de Ciências Sociais, na Universidade Federal de Sergipe. Lá, ela pôde estudar a história daquilo do que mais gostava – a cultura africana - e percebeu o tanto de tempo em que a capoeira ficou na marginalidade no Brasil.

"Principalmente porque durante muito tempo a capoeira esteve no código penal e era crime a sua prática. Então como eu sempre fui atraída por tudo ligado a cultura negra, comecei a fazer cursos de dança afro, maculelê, samba de roda e vi que eu gostava mesmo era daquilo, e não podia ouvir um tambor", explica Tatiane, que ainda lembra as palavras da sua mãe, "ela dizia que na outra encarnação eu devia ter nascido na Senzala".

Depois de conhecer toda a raiz de uma cultura com a qual se se identificava, Tatiane começou a repassar esses conhecimentos para os mais novos no esporte. Até mesmo na Ufal, organizando o projeto Capoeiragem na Ufal, ela pôde reunir interessados no Campus Arapiraca para jogar, dança, brincar, tocar berimbau ou o mesmo estudar a arte africana.

"Eu recomendo a prática da capoeira para qualquer um, porque não é só um exercício fisico ou somente uma dança, é luta, é arte, além de oferecer qualidade de vida. Ela trabalha todos os membros do corpo e alivia o estresse do dia a dia, ao trabalhar com a musicalidade e a ludicidade. Além de tudo, faz parte da cultura brasileira e passou por várias fases onde podemos entender a história do Brasil, estudando os processos pelos quais passou a capoeira", nos ensina Odalisca.