Histórias de superação marcam a Colação Social de fevereiro

A cerimônia de colação de grau foi na sexta-feira, 21, no Auditório da Reitoria, na véspera de carnaval
Por Izadora García - relações públicas
22/02/2020 19h40 - Atualizado em 27/02/2020 às 15h05
105 formandos colaram grau na última sexta-feira (21); número é recorde nas cerimônias sociais. Fotos: Thiago Prado e Simoneide Araújo

105 formandos colaram grau na última sexta-feira (21); número é recorde nas cerimônias sociais. Fotos: Thiago Prado e Simoneide Araújo

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) entregou, na tarde da última sexta-feira (21), 105 novos profissionais ao mercado de trabalho alagoano. A cerimônia de colação social, presidida pelo reitor Josealdo Tonholo, lotou o auditório da Reitoria com familiares e amigos dos formandos de 33 cursos, ofertados nos Campi A.C. Simões, Arapiraca e Sertão.

“Vocês, que encerram esse ciclo hoje, e os demais estudantes são a razão de ser da nossa Instituição. Entregar profissionais competentes, sérios, éticos, com capacidade de inovar e contribuir com o desenvolvimento de Alagoas, com o país, é o nosso principal objetivo. Saibam que ter a oportunidade de concluir uma graduação aqui, na Universidade Federal de Alagoas, é motivo de muito orgulho. Somos o que há de melhor no Estado”, afirmou o reitor.

De acordo com Fátima Leobino, responsável pelo cerimonial da Universidade, o número expressivo de formandos está relacionado a aprovações em cursos de pós-graduação. “A maior parte desses concluintes precisou acelerar o processo de formatura para atender ao prazo de matrícula em mestrados, especializações e residências. Por isso, temos esse recorde de pessoas”, explicou.

Os novos profissionais são das áreas de Agronomia, Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia Civil, Engenharia da Produção, Engenharia de Computação, Engenharia de Petróleo, Farmácia, Geografia, História, Jornalismo, Letras Espanhol, Letras Inglês, Letras Libras, Letras Português, Matemática, Música, Nutrição, Pedagogia, Psicologia, Química, Química Tecnológica e Industrial e Serviço Social.

Becas vestindo histórias

Enquanto aguardavam a entrada no auditório, estudantes relembravam junto aos seus colegas histórias de superação e dificuldades, mas também recheadas de bom-humor e saudosismo. Foi o caso de Nícollas Bomfim, de 23 anos, que contou como largou o curso de Economia, com o qual não havia se identificado, para estudar Engenharia de Produção. “Peguei uma van e fui até Penedo sem que meus pais soubessem. Somente ao chegar em casa, avisei que já estava matriculado e precisaria me mudar”. 

De acordo com o jovem, que tinha 18 anos na época, os pais foram contra a mudança de curso porque não tinham como sustentá-lo em outra cidade. Filho de um taxista e uma cabeleireira, Nícollas trabalhava e ajudava em casa, mas a vontade de seguir com a carreira escolhida falou mais alto. “Apesar de ter ficado bravo, meu pai disse que iria se esforçar para pagar meus estudos e foi o que ele fez”, comentou.

A mudança para Penedo não foi a única que o destino reservou para Nícollas. Em 2018, o jovem recebeu uma bolsa de estudos do Programa de Bolsas Íbero-Americanas do Santander e foi estudar na Universidad Autónoma de Yucatán, no México. “Foi a primeira vez que saí do país. Na verdade, foi a minha primeira viagem de avião. Tudo foi muito emocionante e uma experiência enriquecedora. Fiz uma parceria de pesquisa que culminou no meu TCC, fora a vivência de uma outra cultura”, relembrou, sorridente.

Nícollas conta que não se arrepende da decisão e que, apesar da confusão inicial, hoje os pais se orgulham da escolha. “Em todo lugar, minha mãe conta que o filho é engenheiro. Eles estão super felizes”. Agora, o jovem aguarda o início das aulas do Mestrado em Engenharia de Produção, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e está pronto para viver mais uma aventura fora de casa.

Inspiração na docência

Bruno Farias também veio da Unidade Educacional de Penedo e compartilha uma história comum a de muitos jovens brasileiros: criado por mãe solteira e vindo de uma família pobre, precisou trabalhar desde muito cedo para ajudar nas despesas de casa. Antes de cursar Ciências Biológicas, Bruno prestou outros vestibulares e foi aprovado, mas, por não ter condições de estudar em outro município, precisou adiar o sonho. 

Com a chegada da licenciatura em Ciências Biológicas na Unidade Educacional de Penedo, o jovem viu a oportunidade de ingresso no ensino superior. “A interiorização do ensino federal foi fundamental para que eu pudesse trilhar esse caminho. Escolhi a Biologia porque é uma área que eu gosto muito, mas estar perto de casa teve um grande peso nesse processo”, avaliou.

Bruno conta que precisou fazer uma escolha difícil ao entrar no curso. Como trabalhava no mesmo horário em que teria aulas, o rapaz pediu para trocar de horário no serviço. O chefe disse que ele precisava escolher entre o trabalho e os estudos e o jovem persistiu na educação. “Eu poderia ter continuado lá, sem muita perspectiva de crescimento, sendo humilhado e ganhando pouco, pois era o mais fácil. Porém estou orgulhoso do caminho que decidi trilhar”.

E o caminho foi de sucesso:  durante a graduação, o jovem acumulou dois prêmios de Excelência Acadêmica por projetos de iniciação científica, participou da última reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pôde estudar em um laboratório em Cuiabá que é referência na Entomologia, o estudo de insetos.

O jovem atribui boa parte de sua jornada ao apoio de seu orientador, o professor Kim Ribeiro Barão, que esteve presente na colação de grau.  “O Bruno foi um estudante excelente, que sempre se destacou. Ele se dedicou bastante, apesar das dificuldades financeiras e de base. Porém, a perseverança e a vontade de seguir em frente e mudar sua situação foram fundamentais para que ele chegasse até aqui”, contou emocionado.

Bruno foi aprovado no mestrado de Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde começará os estudos ainda este ano.

Sem apoio, mas cheia de sonhos

Maria Verônica Marques, de 43 anos, se formou em Pedagogia pela Educação a Distância, polo de Olho D’Água das Flores. “Venho de um lugar que não oferece muitas oportunidades, mas meu sonho sempre foi fazer uma faculdade”, comentou.

Ela contou que o interesse pela pedagogia veio da mãe que, apesar de não ter formação, sempre contava muitas histórias para ela. “Meus pais, que agora estão no céu, devem estar muito contentes com essa vitória”, disse, emocionada.

Durante a graduação, a pedagoga enfrentou inúmeros obstáculos: a irmã teve câncer de mama e o irmão, que foi diagnosticado com leucemia, permanece em tratamento no Hospital Universitário (HU). Além das questões familiares, Verônica relata que não teve apoio do marido e nem em seu local de trabalho para seguir com a graduação.

 “Meu marido não queria que eu estudasse. No trabalho, levei faltas e fui advertida porque precisava vir à Maceió algumas vezes e o pessoal não entendia. Mas quando a gente tem um sonho, tem mais é que correr atrás. Não existe nada na vida que seja bom e seja fácil. Tive muitos obstáculos, mas também tive muita ajuda e o importante é que estou aqui agora.

Educação que transforma realidades

Já o farmacêutico Saulo Vitor da Silva refletiu sobre o quanto a educação foi importante para que as gerações de sua família conseguissem condições de vida melhores que as anteriores. “Minha avó ficou viúva muito cedo e com um curso de corte e costura conseguiu sustentar minha mãe e meus tios. Já meu pai, com um curso de torneiro mecânico, pôde sustentar a minha irmã e a mim, mesmo com dificuldades, e sempre focando nos nossos estudos”, relembrou.

Para o jovem, selecionado no Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Ufal, a educação é libertadora e as oportunidades dadas pela Universidade Federal de Alagoas são capazes de mudar vidas.

“Um professor falou, e eu introjetei essa fala, de que uma instituição pública tem a obrigação de ser sempre a melhor porque é paga com o dinheiro do povo. E que nossa obrigação, enquanto estudantes, é de dar nosso melhor também, para honrar o investimento que é feito em nossa educação. E isso é verdade. Aqui tive muitas oportunidades, tive bolsas. Consegui me formar, pagar meu almoço no RU e minhas passagens com essa ajuda. Espero poder dar retorno social ao que foi oferecido a mim”, finalizou.

A próxima cerimônia de colação de grau social acontecerá em 6 de março, no Campus do Sertão.