Estudantes destacam interiorização da Ufal como oportunidade aos jovens do Agreste

Clemerson Menezes, Antonival Lopes, Djair Paulino e Ricardo Alves saíram de Arapiraca para mestrado na federal da Paraíba


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Clemerson Menezes, Djair Paulino, Antonival  Lopes e Ricardo Alves, mestrandos em Matemática na Universidade Federal da Paraíba | nothing
Clemerson Menezes, Djair Paulino, Antonival Lopes e Ricardo Alves, mestrandos em Matemática na Universidade Federal da Paraíba

Lenilda Luna – jornalista

Quando a sede do Campus Arapiraca foi inaugurada, em setembro de 2006, já havia uma expectativa de que a presença da Universidade Federal de Alagoas no Agreste alagoano fosse uma motivação a mais para que os estudantes do ensino médio da região tivessem acesso à educação superior. Para muitos, era impraticável financeiramente estudar em Maceió. Por causa dessa dificuldade de se manterem na capital, muitos estudantes desistiam de buscar uma formação universitária. Mas agora o cenário é outro; além da graduação, os jovens voam mais alto em busca da pós-graduação.

Em 10 anos, a Ufal em Arapiraca teve muitas conquistas. Os professores e coordenadores reúnem-se periodicamente com o reitor Eurico Lôbo para fazer reivindicações, que são atendidas de acordo com as possibilidades administrativas da instituição. No entanto, apesar dos problemas a serem superados, existem vários exemplos da importância da interiorização da Universidade, a exemplo de Clemerson Menezes, Antonival Lopes, Djair Paulino e Ricardo Alves.

São muitos os relatos de estudantes que se destacam em grupos de pesquisa, aproveitam a oportunidade de participar de programas de intercâmbio, como o Ciência sem Fronteiras, e outros ainda que foram aprovados para cursar pós-graduação na Ufal ou em universidades fora do Estado. No caso de Clemerson, Antonival, Djair e Ricardo, eles concluíram a licenciatura em Matemática no Campus Arapiraca e estão cursando o mestrado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Esforço compensado

Djair Paulino é estudante oriundo da zona rural. Ele morava com a família no sítio Dionísio, em Igaci, cidade próxima a Arapiraca. "Desde cedo tive certa afinidade com a Matemática e sempre achei a profissão de professor uma das mais belas. Por isso, já no ensino fundamental eu sabia qual profissão seguir: professor de Matemática. Infelizmente, fazer uma faculdade não era uma realidade muito comum para os moradores do Sítio Dionísio, em Igaci. Eram muitas dificuldades", contou.

Mas, com o apoio da família, dos colegas e professores da Escola de Coité das Pinhas, onde estudou no ensino fundamental e médio, Djair, ainda no terceiro ano, passou no vestibular da Universidade Estadual e Alagoas (Uneal) e depois na seleção da Ufal em Arapiraca. "Estudar na Ufal foi uma oportunidade única. A partir daí, pude ter uma nova perspectiva, diferente de trabalhar na roça e aprender uma matemática diferente da ensinada no ensino médio. Assim, concluí que queria aprofundar meus conhecimentos nessa área", ressaltou Djair.

Durante a graduação, ele superou as deficiências no aprendizado para acompanhar as disciplinas do curso, enfrentou as dificuldades financeiras e o cansaço com o trajeto de Igaci a Arapiraca. Djair conseguiu ser selecionado para bolsas de monitoria e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). "Com as monitorias pude aprender bastante e compartilhar um pouco do que tinha assimilado", afirmou o estudante.

Já durante a graduação, Djair começou a avaliar as possibilidades de fazer mestrado. O primeiro passo foi inscrever trabalhos em eventos científicos. "Um dos trabalhos foi aceito e apresentado no Colóquio de Matemática da Região Norte. Tivemos orientação dos professores Ornan Filipe e Moreno Bonutti, os quais falaram da UFPB e a indicaram como uma ótima universidade para eu e meus amigos fazermos mestrado. Pesquisei como funcionava, o que precisava para entrar e comecei a estudar para alcançar esse objetivo", contou.

Escolha

O final de 2014 foi estressante, com muito trabalho e decisões importantes para o estudante. Ele teve que correr para adiantar o Trabalho de Conclusão de Curso a tempo de fazer o curso de verão do mestrado. Para fazer esse curso, ele abriu mão de ser empossado em dois cargos, para os quais foi aprovado em concurso público, na Caixa Econômica e no Banco do Brasil. "Muitos me chamaram de maluco, mas não era em um banco que eu queria trabalhar pelo resto da minha vida. Embora minha família não tenha concordado muito, acabou me apoiou", narrou Djair.

O esforço foi compensado. Djair Paulino tirou dez na prova de seleção do mestrado em Matemática da Universidade Federal da Paraíba, passando em primeiro lugar. "Minha alegria foi imensa! Era mais um objetivo sendo concluído, em meio a tantas dificuldades, foi uma mistura de bons sentimentos. Minha família ficou muito contente, assim como eu, em especial meus pais. Sei que  terminar o mestrado não é uma tarefa fácil, mas batalharei para cumpri-la", garantiu o estudante.

Não desistir na primeira reprovação

Para os estudantes que decidem continuar a carreira acadêmica numa pós-graduação, ser reprovado é uma frustração bem difícil de superar. Mas Clemerson Menezes passou por isso e seguiu adiante. Ele tentou a seleção do mestrado em Matemática na Ufal e não conseguiu. Depois resolveu tentar na UFPB e foi aprovado. "Alguns professores da Ufal foram alunos do PGMAT [Programa de Pós-graduação em Matemática] da UFPB e me falaram muito bem sobre o programa", contou Clemerson.

O mestrando está muito bem adaptado na capital paraibana e se dedica à linha de pesquisa em que mais se identifica.  "Um ponto chave para mim na UFPB é a existência, em seu programa, de alguns docentes que pesquisam em Geometria Algébrica, uma linha de estudos em Matemática da qual sou apaixonado. Por fim, não poderia deixar de lembrar da bela João Pessoa... Maravilhosa!", comemorou o estudante.

Sobre o Campus Arapiraca, Clemerson considera que o período de graduação foi fundamental, apesar de algumas deficiências. "Estudar na Ufal em Arapiraca foi, sem dúvidas, uma experiência bastante enriquecedora para mim. Os docentes mantêm uma relação forte de amizade com seus discentes e, sem dúvida, isso é um adicional na nossa formação. Posso dizer que os amigos que fiz no campus foram muito importantes e são a minha segunda família", considerou.

O estudante destaca a dedicação dos professores da graduação em Matemática, mas sugere algumas alterações na grade curricular. "Os docentes do Campus Arapiraca são bastante competentes em seus trabalhos e se doam ao máximo para oferecer um apoio aos alunos que almejam ingressar em uma pós-graduação, em particular, em Matemática Pura. Acredito que deveria haver uma mudança na grade, pois cursar uma pós-graduação em Matemática Pura sem um base sólida é extremamente difícil", ressaltou Clemerson.

Um divisor de águas

Quando Antonival Lopes do Nascimento Filho cursava o ensino médio, entrar numa universidade não era uma possibilidade sobre a qual ele refletia muito. "Eu não entendia muito sobre curso universitário e nem sabia que curso ia fazer. Foi por intermédio de uma colega que fiz a inscrição para o vestibular e conquistei uma vaga no curso de Matemática da Ufal em Arapiraca. Entrar na Universidade foi um divisor de águas na minha vida, pois foi nela que meus olhos se abriram para as oportunidades de trabalho e estudo outrora jamais por mim imaginadas", relatou.

Com o apoio dos colegas de turma, o estudante, conhecido como Tony, buscou tirar o melhor proveito da graduação. "Participei de congressos estaduais, nacionais e internacionais, nos quais, em sua maioria, apresentei minicursos e oficinas, geralmente acompanhado de colegas de turma", contou.

Atualmente, Tony Lopes está se dedicando ao mestrado em Matemática na UFPB e considera que a graduação no Campus Arapiraca foi fundamental para essa conquista. "Graças à interiorização das universidades federais pude cursar, em minha própria cidade, algo que eu passei a querer. Sou grato também a Deus, a minha família e amigos por terem me ajudado sempre; sem eles eu não conseguiria", agradeceu o estudante.